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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 10 de novembro de 2012

Verso da venda do patrimonio de São Raimundo - Por Antonio Morais

De 1918 a 1923 o Padre José Alves de Lima foi o titular da Paróquia de São Raimundo Nonato, em Várzea-Alegre. Em 1919 a Diocese do Crato decidiu fundar a primeira instituição financeira da região, o Banco do Cariri S/A. O Bispo orientou as paróquias a subscreverem ações do banco e o padre Lima decidiu vender o patrimônio de São Raimundo doado pelo Major Joaquim Alves Bezerra e outros amigos na época da criação da paróquia em 30.11.1863.

O padre procurou o prefeito de então Cel Antônio Correia Lima, que diante do clamor e revolta dos paroquianos não aceitou fazer o negócio. Porém a venda foi feita a Dirceu de Carvalho Pimpim e o padre ameaçou com a ex-comunhão quem se colocasse contra sua decisão. Manuel Antônio de Sousa, do sitio Varzinha, fez um verso intitulado " Verso da venda do patrimônio de São Raimundo", que durante dezenas de anos foi cantado e decantado nos adjuntos de apanha de arroz, nos maneiros paus, e nas festas da cultura popular. Poucos conhecem a obra de Manuel Antônio de Sousa e este resgate histórico marca também o surgimento do primeiro foco de protestantes do município, passando pela Varzinha de Manuel Antônio e pela Vacaria dos Ginos e dos Anicetos .

Até hoje era exclusividade minha, só eu tinha,  aprendi  quando menino vendo o meu pai cantar juntamente com dezenas de homens  nos adjuntos de apanha de arroz, de hoje em diante,  torno publico.

Eis a integra:

Leitores eu vou contar
Como anda o nosso mundo
Conto o primeiro capitulo
E depois conto o segundo
É coisa que intimida
Nunca visto em nossa vida
Foi questão com São Raimundo

Nosso mundo está perdido
Valei-me meu Santo Antônio
Se assim acontecer
Fica o lugar tristonho
O tempo tudo descobre
São Raimundo fica pobre
Se vender o patrimônio

Nosso mundo está perdido
Só por causa do dinheiro
Os homens que se ordenam
São os mais interesseiros
Já querem tomar a pulso
Querem deixar sem recurso
Nosso santo padroeiro

Devemos viver a calma
Não se envolver na questão
porque somos inocentes
Não sabem quem tem razão
Mesmo estamos excomungado
E pode ficar arriscado
Para nossa salvação

É certo que não faz medo
Esta triste excomunhão
Porque Deus só quer do homem
É um firme coração
Isto é palavra a toa
Que o padre amaldiçoa
E Jesus nos manda o perdão

Deus deixou padre no mundo
Para reger a doutrina
Ser zelador da igreja
Com a santa lei divina
Mas os padres do presente
Cada qual é mais valente
Com palavra libertina

O pobre tudo aguenta
O rico não se sujeita
E por esta causa e outra
Vivemos nesta peleja
A igreja não merece
Mas se o padre quisesse
fazia a coisa direita

O povo que não entende
Calunia o pessoal
Diz que em Várzea-Alegre
Padre vem e se dar mal
Executemos a questão
Para ver quem tem razão
De onde vem o sinal

Deus deixou padre no mundo
Para reger a igreja
Deus não deixou ordem em padre
Para lutar com peleja
E depois se zangar
Subir para o altar
E falar tudo que deseja

É certo que protestante
Nesta terra ainda não tem
Por causa destes abusos
Aparecem mais de cem
E se o orgulho aumentar
E alguém quiser virar
Chame que viro também

Deus deixou padre no mundo
Para absolver pecado
Mas por causa do dinheiro
Fez o povo excomungado
Veja quanto é valoroso
O nosso Deus poderoso
Vive sempre ao nosso lado

Leitores devem lembrar
Daquele verso terceiro
Que diz que neste mundo
Só quem vale é o dinheiro
Veja como acontece
Até o padre se esquece
Do nosso Deus verdadeiro

Pergunto ao nosso Deus
Porque foi esta questão
Respondeu-me Jesus
De todo meu coração
O padre falou em negocio
O prefeito disse não posso
Daí veio a maldição

Castigue quem merecer
A defesa é natural
Não faço nada por mal
Vós me queira defender
É que nosso padroeiro
Não precisa de dinheiro
Não precisava vender

Ó Virgem da Conceição
Meu Jesus sacramentado
Proteja minha inocência
Se nisso estiver culpado
Valei-me a providência
Proteja minha inocência
Se eu estiver errado

Eu habito em Santo Antônio
Não me cabia este artigo
Apenas fiz este verso
A pedido de um amigo
Vou dar meu nome completo
Eu me chamo Felisberto
Da Costa Sousa Perigo

Manuel Antônio de Souza
Sitio Varzinha - Várzea-Alegre

Um comentário:

  1. Esta obra prima do Manuel Antonio de Sousa não se perdeu na vala do esquecimento, graças ao interesse que sempre tive por nossa historia.

    Pesquisei junto a muitas pessoas do tempo. Uns sabiam parte e outras não, fui juntando as partes até constituir o todo.

    Mas, duvido que exista outra pessoa que o tenha, a não ser aquele que tenha copiado do Blog do Sanharol.

    Guardei comigo por 40 anos ou mais em segredo, até quando resolvi tornar publico.

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