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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 13 de junho de 2009

A Mulher mais falada.

Quando a Dra. Auri Moura Costa, primeira juíza do Brasil, foi nomeada para a comarca de Várzea Alegre, o povo da cidade achou esquisito uma mulher juiz. O comentário foi geral, chegou até a constar nos Contrastes de Várzea Alegre. Tinha na cidade um cidadão de nome José Sobrinho, que exercia a função de leiloeiro oficial da paróquia e era ainda diretor do grupo de maneiro pau. Grupo esse que chegou a se apresentar à bordo de um navio na cidade de Fortaleza, onde os jornais: O Povo e Correio do Ceará, divulgaram a matéria. Zé Sobrinho tinha um garoto de dois anos que já chamavam de Aurino, mas que ainda era pagão. Um dia ele chegou para a esposa e falou: Muié, eu vou batizar Aurino, O padim vai ser Zé Joaquim e pra madrinha eu vou chamar a juíza. A mulher descordando deu uma rabissaca e disse: Ou Zé! Larga mão de ser besta, tu num tá vendo qui aquela muié num vai querer. Pruquê tu num chama Raimunda Preta, qui pelo meno é da famía. Zé descordou: Não Sinhora, eu vou falar cum ela é agora. Foi na mala pegou o mesmo cenário que tinha usado em Fortaleza. Próprio para ocasiões especiais: Uma calça de mescla daquelas que depois de enxuta fica em pé sem ninguém dentro, uma camisa de riscado abotoada até o gogó, um chapéu de massa grande do tipo apara castigos, um par de alpercatas currulepe feitas por José Faustino, e um rosário comprido com uma medalha de São Francisco na ponta. Chegou na casa da juíza, bateu palmas ela mandou que ele entrasse. Ele entrou tirou o chapéu e foi logo falando: Bom dia Dona Juíza. Eu vim aqui prumode chamar a sinhora pra ser madinha de Aurino meu. Eu tou chamando pruquê a sinhora é a muié mais falada da Rajalegue. A juíza perdoou a ingenuidade e ignorância daquele homem rude. Mas a madrinha de Aurino foi outra. Naquela época a mulher mais falada da cidade era uma prostituta.
Mundim do Vale.

3 comentários:

  1. É Mundim, naquele tempo era muito estranho mesmo; Encontrar a Juiza na maternidade para ter nenen, o padre na escola para apanhar os netos, o Peru na delegacia sendo o delegado, o Bode no açougue sendo machante, o Calango sendo carcereiro, São Braz sendo São Raimundo e o Cego da Boa vista morrer afogado na Logoa Seca, sem contar com mais centenas de outras curiosidades.

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  2. Mané.
    Os colonizados costumam substimar a inteligência dos colonizadores, como ocorre com brasileiros que insistem em dizer que são bobos os nossos irmãos lusitanos. Uma vez pergutaram a papai se ele não achava ruim ter nome de português.
    Ele disse: nada, podem até me chamar Mané, sou Manoel mas nasci em Várzea Alegre e como ela é a terra dos contrastes os Manoel de lá são sabidos.
    Abraço,
    Tarciso.

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  3. Tarciso.

    Manuel Sampsom foi o menos "mané" de todos. Sabio, inteligente, amigo, leal, alegre e bom. Parabens pelo pai que Deus lhe deu.

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