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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 15 de junho de 2009

Poesia de Mundim do Vale.


Recebi mais uma colaboração de Mundim do Vale, que, em sua generosidade, sempre nos presenteia com versos da melhor qualidade. Desta vez, o poeta fala de coisas que já não se vê mais, que ficaram obsoletas nesse mundo louco em que vivemos. O interessante é perceber que as coisas estão ficando obsoletas cada vez mais rapidamente.


É o novo!

Um amigo me pediu
Pra fazer uma rima antiga,
E da cabeça saiu
Constipação e fadiga.

Forcei minha paciência
Me lembrei de saliência
De apocada e sisuda.
Lembrei de moça falada,
De mulher amancebada,
De teúda e manteúda.

Me lembrei de taboada
Para ensinar a contar,
Lembrei quando era cobrada
A minha taxa escolar.

Lembrei revista cruzeiro,
Papel almaço, tinteiro,
Pena e o mata-borrão.
Lembrei de aluno pescando,
E a professora brigando
Com a palmatória na mão.

Me lembrei de andajá,
De enganador de apito,
Bolo ligado, aluá,
E taboa de pirulito.

Puxei mais pela memória,
Lembrei de cigarro astória,
Continental e elvira.
Lembrei chiclete de bola,
Quebra queixo, mariola
E de mel de jandaíra.

Lembrei roleto de cana
E papa de carimã,
De prato de porcelana e
Pastilha de hortelã.

Falei em gripe asiática,
Em cola de goma arábica,
Jardineira e marinete.
Falei em réis e tostão,
Cueca samba canção,
Suco de uva e grapete.

Falei em fogão jangada,
Em cepo de caminhão,
Isqueiro sete lapada
E na dança de feição.

Lembrei de bingo dançante,
De caixeiro viajantee
De bica jacaré.
Falei em vento caído,
Catapora, estalicido,
Pereba e bicho de pé.

Lembrei de blusa banlon,
De riri, de gigolé,
De música de Roni Von,
De frejo e de cabaré.

Sem perguntar a ninguém,
Lembrei foguista de trem,
Pastorinha e sacristão.
Lembrei de bola de meia
Bingo de galinha cheia
E de jogo de gamão.

Das coisas que me lembrei
Teve sabão de tinguí,
Cana madeira de lei
E a velha t.v. tupi.

Relógio de algibeira,
Espingarda socadeira,
Show de Tonico e Tinôco.
Caco de torrar café,
Frasco de guardar rapé,
Rosário feito de coco.

Não esqueci de lambreta
O transporte do playboy,
Me lembrei de carrapeta,
De corrupio e rói rói.

Lembrei jogo de peteca,
De relancim e sueca,
De lu e cara ou coroa.
Também lembrei mina avó
Que fazia pão- de- ló,
Manzape, sequilho e broa.

Também lembrei Ludugero
Mandando Otrope calar,
A marcha “ mamãe eu quero
Mamãe eu quero mamar.

“Da revista luluzinha,
Das músicas de emilinha,
E o livro capivarol.
Lembrei de disco de cera,
De pingüim de geladeira,
De quartinha e urinol.

Eu me lembrei de frasqueira,
Bateria pra panela,
De bule, de cristaleira,
Colher de pau e sovela.

Perguntei a um beradeiro
Quem foi que nasceu primeiro
Se foi o pinto ou o ovo.
Quando mostrei esse verso,
Pensando ser um sucesso
Ele me disse: - è o novo!

Mundim do Vale.

Postagem consertada por: Dihelson Mendonça

4 comentários:

  1. Parabens Mundim. Voce está com a razão. O tempo passa e com ele passam as coisas interessantes da vida.

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  2. Eita! Que Mundim do Vale é um poeta cordelista dos bons!!
    Das vezes que retornei ao Crato nunca esqueci de comprar os cordéis.
    Parabéns Mundim e Morais pela postagem.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Glória. Nesse verso além da rima
    e da métrica tem os objetos antigos
    que eu peguei, usei e gravei na memória, para lembrar apenas para
    aqueles da minha idade,os mais novos não sabe o que é.
    Abraço.
    Mundim do Vale.

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