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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 28 de julho de 2009

Jose Clementino do Nascimento


A morte do compositor José Clementino consternou o Cariri. Ao lado de Luiz Gonzaga, Padre Antônio Vieira e Patativa do Assaré, Zé Clementino fez parte da “Trilogia do Ciclo do Jumento”, um movimento idealizado em Crato, em defesa do jegue. A iniciativa tomou dimensão nacional através da música e da poesia dos quatro defensores do jumento. A campanha ganhou mais intensidade na década de 80, quando os quatro se encontraram na Exposição Agropecuária do Crato (Expocrato), sob a presidência de Henrique Costa. Padre Vieira chegou ao palanque, onde se encontravam Luiz Gonzaga, Patativa e Zé Clementino, montado num jumento. Ao lembrar este fato, destacacamos que Zé Clementino foi um dos mais vigorosos músicos do Ceará. É o autor de autênticos clássicos da música nordestina, tendo sido interpretado por alguns dos grandes nomes da MPB, dentre os quais o “Rei do Baião” — Luiz Gonzaga. Funcionário público aposentado, Zé Clementino, que já morou em Crato, quando trabalhava no INSS, integrou-se à vida boêmia da Princesa do Cariri, fazendo parcerias com outros artistas. Com o “velho Lua”, o talento de Zé Clementino ganharia destaque nacional, ao passo que, por outro lado, a inventiva produção artística do compositor varzealegrense proporcionaria vitalidade e renovação à obra musical de Luiz Gonzaga. O “batismo” fonográfico da parceria Luiz Gonzaga-Zé Clementino procedeu-se, de certa forma, quando o “Rei do Baião” atravessava um longo período de ostracismo e mesmo de indefinição quanto à continuidade da carreira artística. No seu trabalho anterior, o ilustre “sanfoneiro de Exu” mostrava-se desestimulado e cético quanto aos possíveis rumos de sua até então vitoriosa trajetória musical. Numa de suas canções mais emblemáticas da época, Luiz Gonzaga lamentava: “Pra onde tu vai, Baião? / Eu vou sair por aí / Mas por que, Baião? / Ninguém me quer mais aqui...”. De fato, o Baião, assim como outros ritmos nordestinos, havia perdido o forte apelo comercial que gozara no passado, particularmente em virtude do surgimento de novos movimentos musicais — a Bossa Nova e a Jovem Guarda. Nesse panorama, foi lançado o álbum “Luiz Gonzaga – Óia Eu Aqui de Novo”, o qual continha três canções compostas por Zé Clementino. Uma delas, o “Xote dos Cabeludos”, uma bem humorada crítica à estética ‘hippie’ que conquistava a juventude de todo o mundo, tornou-se uma das músicas mais executadas do país no verão de 68, trazendo o ‘Rei do Baião’ de volta à mídia e despertando o interesse das novas gerações pelo riquíssimo acervo musical do artista. Naquele mesmo ano, Zé Clementino confere uma legítima e emotiva dádiva à sua cidade natal, quando compõe a letra do Hino Oficial de Várzea Alegre. No seu álbum seguinte, Luiz Gonzaga grava “O jumento é nosso irmão”, uma homenagem à luta, encampada pelo Padre Vieira, em prol da preservação da espécie asinina. Em 1976, fazendo proveito do mesmo tema, o Rei do Baião gravaria “Apologia ao jumento”, uma espécie de discurso inflamado em que, com muito bom humor, exalta as benesses do “pobre e castigado” animal. Registra ainda o xote “Capim Novo”, outra canção do compositor varzealegrense, cuja letra sugere uma “discutível” alternativa terapêutica e afrodisíaca para os homens que enfrentam os “percalços” da terceira idade. Em 1978, o Trio Nordestino, na época o campeão em vendagem de discos no segmento de música regional, grava “Chinelo de Rosinha”, uma parceria de Zé Clementino e Paulo César Clementino. Em 1983, o Brasil vê-se tocado pela sensibilidade musical do prodigioso varzealegrense Serginho Piau, que executa a comovente canção “Simplesmente Zé”, de autoria de Zé Clementino, em alguns programas televisivos. Por fim, os anos 90 marcaram o processo de revitalização estética e musical do forró, e o cearense Sirano, um dos mais bem sucedidos artistas do Ceará. Entre as suas músicas estão: “Aí não deixo não”, “Xote dos cabeludos” , “O jumento é nosso irmão”, “Apologia ao jumento”, “Contrastes de Várzea Alegre”, “Capim novo”, “Sou do banco", "Xeêm”, “Chinelo de Rosinha”, “Jeito bom”, “Hino Oficial de Várzea Alegre”, e “Simplesmente Zé”. Ele faleceu vítima de enfarte no Hospital de Várzea Alegre, aos 69 anos de idade. Gravada pelo Trio Nordestino e campeã de vendagem veja a letra de :

Aí não deixo não!

Não, não, aí não deixo não!
Se você beijar aí vai ser grande a confusão.

Eu gosto muito de você e tenho admiração,
Entreguei só pra você meu coração.
Meu benzinho pelo bem do nosso amor,
Eu lhe peço, por favor.
Aí não deixo não!

Leve seus troços, vá deixar noutro lugar
Se você não quer casar
Porque vem com enrolação,
Você bem sabe, estas coisas não aceito,
Isso é falta de respeito
Aí não deixo não.
Não, não, aí não deixo não.
Se você beijar aí vai ser grande a confusão.

A. Morais

5 comentários:

  1. Tudo quanto se falar dessa criatura de Deus é muito pouco. As composições do Zé Clementino foram gravadas por Luiz Gonzaga, trio Nordestino, Zeniltom, Messias Holanda, Cirano, Serginho Piau e outros. Por aí podemos fazer ideia de sua grandeza inspiradora. Tem uma letra inedita que Zé não permitiu a gravação: Conta a historia de uma mulher do Alto da Prefeitura que foi apanhar lenha no Sanharol e quando chegou em casa o marido desconfiou do nó da corda que amarrava o fecho de lenha. Foram e riba, foram a baixo e o marido desmanchou o nó e mandou a mulher fazer novamente: ela deu 99 nós e não acertou. É uma graça. Fica com Deus Zé.

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  2. Meu Padrinho,o que poderia ser falado do nosso saudoso Zé, o senhor já o fez com muita categoria e carinho, que poucos fariam. Mas, posso acrescentar que tive o privilegio que poucos tiveram,de viajar lado a lado com Zé Clementino, de Crato Várzea-Alegre, e vise e versa; nessas ocasiões Ele me contava da amizade que tinha pelo meus Pais ( Vicente,e Raimundo)e aproveitava para me contar casos que envolviam Ele, Pista e Vicente.Eu como toda garota, ficava toda orgulhosa de ter um Pai tão corajoso! Pois ele dizia: Fatinha seu Pai é um cabra de coragem, apagar as luzes do Crato inteirinha não é pra qual quer um.E ria gostoso! exalando um hálito perfumado de chiclete Adams canela. Como já é de conhecimento de quem lê este Blog eu sou uma chorona, e nessas alturas estou aos prantos; fiquem tranquilos, é de pura emoção e saudades boas! Deixo aqui meus agradecimentos á todos citados nessa linda e honrosa homenagem, e, especialmente aos idealizadores deste Blog, que já é um dos Blogs mais lidos do momento. Fiquem com Deus e com meu carinho. Fátima.

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  3. Senhores leitores e comentarista do blog, falar do poeta José Clementino eu não sei falar como os outros já falaram, mas posso dizer que ele foi quem mais cantou a nossa Várzea Alegre e o nordeste.
    O sei irmão P.C. sem ser farias, segue no mesmo rumo.

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  4. Morais,

    Conheci pessoalmente.Era um amigo da gente.
    Mas , tudo que é bom e doce, vira saudade.
    Ainda bem que existe a história pra ser contada.

    Amo V.Alegre, e o seu povo !


    Abraços, meu amigo.
    P.S. Não resisti e colei para o Crato, que tbém é Cariri.

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  5. Caro Morais:
    Importante resgate.
    Parabéns.

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