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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Na Praça de Santo Antonio - Antonio Morais


Na Vargeaalegre, a Praça de Santo Antonio é o ponto de encontro dos depois de 65 anos. Uns vão fazer caminhada, outros vão matar o tempo jogando dominó e tem até os que vão mentir. Visto que a distancia entre frustração e desespero é bem próxima. A frustração é quando não se consegue a segunda pela primeira vez e o desespero é quando não se consegue a primeira pela segunda vez.

Tonheiro, já com os seus 66 anos nos costados, não escondia para os amigos sua preocupação, pois há trinta e cinco anos gostava da mesma mulher. Já pensou se Biluca, a esposa, descobre que tinha uma sócia, logo ela que dizia que chifre é como consorcio quando menos se espera se é contemplado. Era morte certa. Com certeza ia ter defunto.

Tonheiro tranquilo, acomodado, muito paciente, não se aborrecia com nada, nem com uma hérnia do tamanho de um mamão papaia logo abaixo do umbigo. Passava o tempo todo alisando o mondrongo com o dedão polegar. Sua rotina não mudava. Todo dia era a mesma coisa. Pela manhã na praça com os amigos, meio dia dormindo um pouco, que ninguém é de ferro e, às oito da noite já estava no quarto para mais uma jornada de sono. Não se sabia, ao certo, qual o horário dedicado a sócia de Biluca, sua dedicada esposa..

Biluca, com os seus 130 quilos de banha dava conta dos trabalhos da casa, e, o tempo que lhe sobrava era dedicado à almofada de bilros, e, de noite quando chegava ao quarto tome reza. Desbuiava terço para a guerra do Iraque não chegar por aquelas bandas, salve-rainha pra não fazerem mais fuxico com Lula, credo para a crise não diminuir o preço da quarta de arroz, principal produto nosso, era tanta oração que um dia Tonheiro disse: Biluca reza um rosário para acabar com essa lenga lenga e eu dormir em paz.

Pois bem, na manha seguinte, na praça, se encontraram Tonheiro, Antônio André e João  Beca. Conversa vai, conversa vem, João Beca falou: mas que mulata fogosa aquela atendente do café da Lourdes! Rapaz, nunca vi igual. Antônio André confirma: é, na verdade não conheço igual aquela danada. Outro dia eu passei uma noite inteira de amor e transas abufelado com a dita cuja. Tonheiro, que escutava calado as lorotas dos amigos, alisando a hérnia disse: É amigos, eu queria vê esse desempenho todo de vocês era se fosse com BILUCA!

Um comentário:

  1. Por mais fantasiosa e mirabolante que pareça, esta historia é verdade.

    Basta você chegar e procurar saber com aqueles memorialistas mais antigos de nossa terra. Dos protagonistas apenas o João Beca esta entre nós, os demais já estão no andar de cima.

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