Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

FLAGRANTES INESQUECÍVEIS - Por Vicente Almeida

Este é mais um episídio da serie de fatos, que marcou o entrelaçamento de nossas famílias nos últimos trinta anos.

Na década de oitenta as nossas fazendas em Assaré, eram próximas, entre uma e outra dava a uns trinta quilômetros. A minha ficava no Vale do Pilar, depois de Assaré e a dele em Aratama, antes de Assaré.

Sempre íamos juntos e em Aratama fazia o meu desvio costumeiro e ia com ele visitar o seu pai, senhor José André (de saudosa lembrança).

Ocorre que num dia invernoso, lá chegamos e os açudes estavam transbordando, não havia passagem para veículos até a fazenda dele. Pois bem, deixamos os carros na pista e fomos a pé.

A distância era de quatro quilômetros, e a estrada estava dividida em vários pequenos córregos que precisávamos vencê-los aos saltos.

No meio do caminho, comecei a cansar. O Morais saltava facilmente todos os obstáculos, atleta, jogador de futebol, (no futebol ele até quebrou a perna de um pedreiro meu, mas isto é tema para outra matéria)

Era um ás no pulo e vencia sem dificuldades a distancia entre a água corrente e o outro lado da estrada. Claro, não é que ele soubesse pular tão bem, é que em nossa altura, havia uma diferençazinha de uns trinta centímetros ou mais. Dá para concluir o tamanho da sua passada!

O fato é que depois de quase quarenta minutos de chôto atrás dele, chegamos à sua fazenda. Estava me sentindo bastante cansado.

De longe avistamos no alpendre o seu pai, senhor José André. Sentado na mureta, mãos cruzadas sobre um dos joelhos e feliz da vida, olhando para o roçado e o açude que transbordava.

Fui chegando, arfando e dizendo: Seu Zé André, arf... Eu tenho uma seria reclamação a lhe fazer, e ele olhou sério para mim e disse, pois faça home:

- Então falei: o senhor fez Morais com as pernas longas demais, cansei para acompanhá-lo até aqui.

- Ai ele saiu com essa: Pois Vicente, você se dirigiu a pessoa errada, essa reclamação você devia fazer a seu pai, que lhe fez com as pernas curtas.

Não é que ele tinha razão!

Fiquei sem argumentos.
Vicente Almeida

2 comentários:

  1. Meu Caro Vicente.

    Lembro-me bem desta viagem. Epoca de muita chuva, tudo muito verde, sertão muito bonito. Ouvir a sua conversa com o meu pai. Voce o conheceu muito bem, era decidido para tudo tinha uma resposta pronta. Era seu amigo talvez por essa razão usou de tanta sinceridade. Quanto ao acidente com o seu pedreiro, foi interessante e involuntario: Ele entrou para quebrar e levou a pior. Mas no fim deu tudo certo. Ele mesmo reconheceu a culpa.

    ResponderExcluir
  2. É...

    histórias assim trazem muitas saudades.

    Claro, o Sr. José André era um filósofo. Meu convívio com ele, me proporcionou muita alegria e muita paz.

    Sua vivência com as coisas da natureza era exrtraordinária.

    Sabia e anunciava que ia chover sem haver uma nuvem de chuva no céu, e depois de comprovado, nos explicava por que!

    Quanto ao meu pedreiro que você quebrou a perna ha quase trinta anos, me desaconselhou a jogar futebol com vocês - grandões. e foi o que fiz.

    Lembra que você gostava muito de me mandar tomar a bola de adversarios maior que você? Pois sim!

    Vicente Almeida

    ResponderExcluir