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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 7 de novembro de 2009

CABRAS DA FOME - Por Mundim do Vale

Seu moço preste atenção
Na nosa cunveça triste
Vamo saí do sertão
Pruque nóis num arrisiste.
Mais num é pur malandrage
É pruque essa istiage
Foi pió do qui castigo,
Queimô o nosso roçado,
Mato tombém nosso gado
E fez nóis virá mendigo.

O sertão tá um supriço
O sufrimento é profundo
Tem as frente de serviço
Mais num dá pra todo mundo.
Nóis tamo cuma indigente
Feito subêjo de gente
Pidindo cuma irmoléu.
Só pode sê omissão,
Do gunverno da nação
Ou um castigo do céu.

È mardade alguém dizê
Qui nóis fáis agitação
Num tem quem possa vivê
Sem um pedaço de pão.
A fome num maica a ora
Quando ela chega apavora
E o jeito é nóis se virá.
Ir atráis adonde tem,
Sem isperá pru ninguém
Mode pudê iscapá.

Se o gunverno quisesse
Pudia ajudá a nóis
Só bastava qui fizesse
Um bucado de Oróis.
Nóis num ia pricisá
De saí desse lugá
Mode aumentá as favela.
A gente vortava a vê,
Os alimento frevê
De novo im nossas panela.

Essa vida de carença
Deixa nóis munto avexado
Já perdemo a paciença
Pruque num somo alejado.
A situação tem pressa
Mais num passa de premessa
Já perdemo inté a fé.
Nóis tamo levando a vida
Qui nem na triste partida
Do poeta do Assaré.

O povo da capitá
Tão fazendo doação
Mais custa munto a chegá
Nesse sufrido sertão.
Passa dia e mais dia
E essa burocracia
Já fez nóis mudá de nome.
Cum a seca do Nordeste
Im vez de “ Cabras da peste “
Viramo “ CABRAS DA FOME.

Mundim doVale

Um comentário:

  1. Mundim.

    Graças a Deus o sertão de hoje não tem afregelo. Não tem mais burro, jumento, cavalo. O negocio é de moto pra riba. Todo mundo tem a sua. Fome ninguem sabe o que é. Agora a coisa que se desenvolveu mais e avançou mais no sertão foi namorar. Menino, a coisa está diferente do tempo da Formiga e do Garrote, dos 116 irmãos nascidos nas duas localidades apenas 03 se casaram. O resto ficou na mão,no caritó!

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