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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Cochichando - Por Antonio Morais


Na década de 1960, um parente meu, metido a fiota e gabola, queria porque queria, arranjar uma sócia para esposa. Não vou revelar o nome para não melindrar a minha parenta Eponina, esposa do galhorda.

Fazer banga-lafomenga fora do casamento, hoje em dia, não é recomendável nem fica bem, imagine naqueles tempos moralistas.

Mas não tinha jeito pru homem. A coisa chegou a tal ponto que começou a faltar até os mantementos essenciais na despensa. O causo foi parar na promotoria pública, que por sua vez, enviou ao juiz para uma audiência de conciliação.

Quando o juiz reuniu as partes, fez aquele sermão: O senhor não deve desprezar uma família formada há tanto tempo! O senhor deve pensar em sua esposa, em seus filhos e netos. Mas que nada, o camarada estava decidido. Olhou para o Juiz e lascou: Eu não devo satisfação a ninguém, da minha vida cuido eu. O que tenho é fruto do meu trabalho. Não herdei nada do pai dela nem de ninguém. Faço da minha vida o que der na venta.

O Juiz ainda calmo disse: As coisas não são bem assim como o senhor pensa não, e, fale baixo. O caboclo retrucou: Eu não sei falar baixo não! O Juiz chamou um cabo e dois soldados e mandou recolher no xadrez – pelo menos, até que aprendesse a falar baixo.

Depois de preso o homem se afrouxou todo, bateu a depressão e meteu o pau a chorar. Mandou um portador chamar o meu pai para ir falar com o Juiz.

Meu pai, homem cordato, paciente, hábil procurou o Juiz e disse: Meretríssimo, o compadre está depressivo, se demorar preso, é capaz de ficar louco. Solte o homem que eu assumo o compromisso de fazer cumprir com o que determinar a justiça relacionado a assistência da família. O Juiz perguntou: Seu José André: - ele já aprendeu a falar baixo? Jose André respondeu no ato: já Doutor, ele já está cochichando.

3 comentários:

  1. Depois da prisão o caboclo passou a falar baixo, mas, largou a mulher de vez. Não houve jeito.

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  2. Mas se o juiz tivesse lançado mão do mesmo princípio, do volume da fala, Ti José também deveria ter sido detido...rs. Não consigo imaginar Ti José falando baixo. Nem com o juiz.

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  3. Zé Maguim.

    Boa noite.

    Era em causa justa. Nesse dia ele falou baixinho quase igual ao que estava preso.

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