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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

DOS ANAIS DA HISTÓRIA PARA VOCÊ - Por: Vicente Almeida


O HINO NACIONAL BRASILEIRO - SUA HISTÓRIA
Musica: Francisco Manoel da Silva (1795-1865)
Letra definitiva: Joaquim Osório Duque Estrada (1870-1927)

O texto a seguir, é uma homenagem aos mestres e alunos das escolas públicas e particulares dos tempos passados, quando havia respeito e amor à Pátria.

Durante muitos anos, alunos e professores cantavam o Hino nacional, no início e no final da aula, bem como; em datas comemorativas, sem, contudo, se dar ao trabalho de verificar suas origens.

A grande maioria não compreendia o significado de suas estrofes. Essa informação, não era ensinada ou divulgada. Tudo que sabíamos, era uma breve referencia aos autores da musica e da letra. Entretanto, o Hino Nacional Brasileiro é um dos símbolos nacionais que mais mexeu com a juventude durante os anos dourados.

Mas, vamos à história:

Inicialmente não era hino, mas, uma marchinha patriótica composta em 1822, pelo musico carioca Francisco Manoel da Silva, ao calor das agitações populares em um dos momentos mais dramáticos da nossa transição. Exprimia então a independência e a liberdade.

A marcha destinava-se a saudar nossa emancipação política, mas ganhou força, e se transformou em um grito de rebeldia da Pátria livre contra a tutela portuguesa, e foi adotada como um hino pela população.

Foi cantado pela primeira vez, em 13 de Abril de 1831, no cais do Largo do Paço, hoje Praça 15 de Novembro, no Rio de Janeiro, em meio à grande empolgação popular, por ocasião da partida forçada de D. Pedro I, quando abdicou o trono em favor do seu filho D. Pedro II.

Para aquela ocasião, o maestro refez a letra e o hino passou a expressar a alegria do povo, de extinguir definitivamente os laços que ainda existiam entre Brasil e Portugal. D. Pedro I foi o primeiro Imperador do Brasil de 1822 a 1831, mas não era brasileiro. E durante o seu reinado, por sete, dias em 1826, foi também o 28º rei de Portugal.

O Hino Nacional mudava conforme a ocasião. Em 1840, na coroação de D. Pedro II, foi mais uma vez cantado com nova letra, agora enaltecendo a esperança dos brasileiros ao verem a Pátria unida e livre das guerras entre irmãos e governada por um Imperador nascido no Brasil.

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Com a Proclamação da República em 15 de Novembro de 1889, o Hino Nacional foi abolido. Tentaram adotar o Hino da Proclamação da República, de Leopoldo Américo Miguez, vencedor de um concurso, mas, não logrou êxito.

Como a composição de Francisco Manoel da Silva já era conhecida há mais de 60 anos, ainda que sem letra definida, mas com arrebatadora e heróica melodia, o Marechal Deodoro da Fonseca, através do Decreto 171, de 20 de Janeiro de 1890, manteve como Hino Nacional Brasileiro.

Durante quase 100 anos o Hino foi executado sem ter, oficialmente, uma letra. As muitas tentativas de acrescentar um texto a musica não vingaram. Os versos eram carregados de ressentimentos, insultavam os portugueses, ou pecavam pela bajulação ao soberano reinante.

Em 1906, Coelho Neto, da Tribuna da Câmara dos Deputados, propôs que fosse composta uma letra a altura da melodia do Hino Nacional Brasileiro. Entre as inúmeras apresentadas, recebeu aprovação, a de Joaquim Osório Duque Estrada já em 1909. Era um poema métrico, em versos decassílabos que se ajustavam com perfeição à melodia existente.

Foi em um momento de grande inspiração que: tomado por incomum sentimento de amor a Pátria, Osório elaborou o mais belo poema, narrando às maravilhas das terras brasileiras, sua situação geográfica, suas conquistas e todo o sentimento do seu povo. E esse poema foi transformado no belo Hino que temos hoje. É riquíssimo e reflete os momentos mais importantes da nossa história.

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Os alunos e professores, até meados da década de sessenta, certamente lembram com saudades do seu período escolar no que se refere ao Hino Nacional, cantado e exaltado no início e no final da aula, bem como em datas comemorativas. Tudo conforme estabelecia a Lei 259 de 01/10/1936 – ao final.

Para os leitores do Blog, gostaria de apresentar uma idéia, escrita nos anais da história, de como Joaquim Osório elaborou um contexto dos acontecimentos, para daí tirar o mais belo poema que veio a ser o Hino Nacional Brasileiro. Veja a seguir cada estrofe com texto explicativo.
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LETRA DO HINO NACIONAL BRASILEIRO

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas,
De um povo heróico, o brado retumbante,
E o sol da liberdade em raios fúlgidos,
Brilhou no Céu da Pátria nesse instante.

A estrofe quer dizer que:
As margens plácidas do Riacho Ipiranga,
Ouviram um brado impetuoso, forte, de um povo heróico, proclamando a independência.
Em raios fúlgidos: resplandecentes no céu da Pátria.
E, nesse instante, o sol da liberdade brilhou: a alegria dominou a todos.


Se o penhor desta igualdade,
Conseguimos conquistar com braços fortes,
Em teu seio, ó liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte.

A estrofe quer dizer que:
O penhor: o compromisso assumido, a garantia desta igualdade,
Se conseguimos conquistar com braço forte.
Em teu seio, ó liberdade, o nosso peito desafia a própria morte.


BRASIL, um sonho intenso, um raio vívido,
De amor e de esperança à terra desce.
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.

A estrofe quer dizer que:
BRASIL: um sonho intenso, um raio vívido, ardente de amor e de esperança desce a terra.
Se em teu formoso céu, risonho e límpido: limpo, claro,
A imagem do Cruzeiro: Constelação austral, característica do nosso hemisfério, resplandece.


Gigante pela própria natureza,
És belo, És forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu Brasil
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo, és mãe gentil
Pátria amada,
Brasil.

A estrofe quer dizer que:
O Brasil é gigante pela própria natureza (Deus assim o quis), desde sempre, colossal: de enormes dimensões.
És, belo, és forte, és impávido: destemido, ousado, intrépido.
E essa grandeza espelha o teu futuro.
Entre outras mil, és tu terra adorada,
Brasil, ó Pátria amada,
És mãe gentil dos filhos deste solo!
Brasil, Pátria amada.

Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo.

A estrofe quer dizer que:
Deitado eternamente em berço esplêndido: adormecido, deslumbrante, cheio de riquezas.
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras: cintilas, ó Brasil. Florão: preciosidade da América, iluminado ao sol do novo mondo!


Do que a terra mais garrida,
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores,
“Nossos bosques, têm mais vida”,
“Nossa vida em teu seio, mais amores”.

A estrofe quer dizer que:
Teus risonhos e lindos campos têm mais flores do que a terra mais garrida: mais alegre, faceira.
No teu seio, nossos bosques têm mais vida, e nossa vida tem mais amores.
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!


Brasil de amor eterno seja símbolo,
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro desta flâmula,
Paz no futuro e glória no passado.

A estrofe quer dizer que:
Brasil seja símbolo de amor eterno.
Brasil, o lábaro estrelado: a bandeira com as estrelas.
Que ostentas: exibes com orgulho.
E o verde-louro desta flâmula: Verde (as matas), Louro=amarelo (o ouro) desta bandeira.
Diga: Paz no futuro e glória no passado.

Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme quem te adora a própria morte.

Terra Adorada,
Entre outras mil,
Ès tu Brasil
Ó Pátria Amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

A estrofe quer dizer que:
Mas, se ergues da justiça a clava forte: Arma pesada da justiça.
Verás que um filho teu não é covarde.
Verás que quem te adora, não teme a própria morte.
Brasil, ó Pátria amada.
És tu, terra adorada entre outras.
Brasil, Pátria amada,
És mãe dos filhos deste solo.


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O Hino Nacional Brasileiro foi oficializado somente na Presidência de Epitácio Pessoa, através do Decreto 15671, de 06 de Setembro de 1.922, ou seja; um dia antes de completar um século.

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Lei 259, de 1 de Outubro de 1936.
Torna obrigatório, em todo o país, nos estabelecimentos de ensino e associações de fins educativos, o canto do Hino Nacional.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL – Faço saber que o poder legislativo decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1º - Fica obrigatório, em todo o país, nos estabelecimentos de ensino, mantidos ou não pelos poderes públicos, e nas associações de fins educativos e outros, constantes desta lei, o canto do Hino nacional, de Francisco Manoel da Silva, com a letra de Joaquim Osório Duque Estrada, oficializado pelo Decreto nº 15671 de 6 de Setembro de 1922, do governo da República;

Parágrafo único – A obrigatoriedade, estabelecida neste artigo, refere-se aos estabelecimentos de ensino primário, normal secundário e técnico-profissional e às associações desportivas, de radiodifusão e outras de finalidade educativas;

Art. 2º - Ficam adaptadas, para a execução do Hino nacional, de Francisco Manoel da Silva, a orquestração de Leopoldo Miguez e a instrumentação, para bandas, do 2º tenente Antonio Pinto Junior, do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, no tom original: de si-bemol; E para canto, em fá, trabalho de Alberto Nepomuceno;

Art. 3º - A instituição que, previamente intimada, deixar de cumprir as determinações desta lei, terá proibido o seu funcionamento pela autoridade competente;

Art. 4º - Esta lei entrará em vigor na data da sua publicação;

Art. 5º - Revogam-se as disposições em contrário.
Rio de Janeiro 1 de Outubro de 1936 – 115º ano da Independência e 48º da República.

GETULIO VARGAS – Gustavo Campanema – Artur de Souza Costa – Vicente Ráo – Joaquim Lecínio de Souza Almeida – José Carlos de Macedo Soares – João Gomes – Henrique A. Guilhem – Agamenon Magalhães.

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13 de Abril é o dia do Hino Nacional Brasileiro.


06/11/2009 - Vicente Almeida

5 comentários:

  1. Carissimo Vicente.

    Voce deu uma aula de patriotismo e civismo. Nada há igual ao Hino Nacional Brasileiro. Lamento profundamente que nestes tempos em que a patria é debochada estejamos vendo cantoras bebadas, como a Vanusa outro dia, manchando esse nosso simbolo maior. Lamento tambem que o senhor vice presidente da Republica Jose de Alencar apareça com a ideia de mudar a letra de nosso Hino. A sua postagem é completa, muito importante, alem de matar a nossa saudade dos tempos em que o professor mandava decorar o nosso hino. Duvido que hoje em cada dez brasileiros, um, unzinho saiba cantar o hino do Brasil.
    Parabens Vicente.

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  2. Gostei da matéria. Acho, porém, que não existe crase em "as margens plácidas" pois elas é que ouviram o brado retumbante de um povo heróico. Ficamos também vaidosos em saber que o Alberto Nepomucenos era cearense e foi considerado o legítimo fundador da música genuinamente brasileira.

    Bela investida em prol do nosso nacionalismo morno.

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  3. Dr. Savio.

    Pelo visto voce foi aluno do Dr. Oto de Otoni Carvalho por volta de 1965!
    Parabens.
    A. Morais

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  4. Fui aluno do Dr. Oto de Otoni Carvalho, da dona Elita e do professor Almino Gabriel Viana em 1969, data que o homem pisou pela primeira vez em solo lunar (Neil Armstrong), que a Vera Ficher foi eleita miss Brasil, que estreou o Jornal Nacional, que morreu Costa e Silva (30º Presidente do Brasil) e que tirava onda de bom moço o presidente indicado Emílio Garrastazu Médici.

    Nessa época, sabíamos de cor o Tratado de Tordesilhas, onde tínhamos que declamá-lo em voz alta verbalizando todos os pontos e vírgulas.

    Saudosa memória.

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  5. É...

    Morais e Sávio Pinheiro

    Muito obrigado pelos comentários. Isto significa que leram a matéria e estão sintonizados com os fatos.
    **********************************
    E...

    Sávio Pinheiro, sua observação foi muito importante. Correção efetuada.

    Vicente Almeida

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