Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 27 de novembro de 2009

EU NUM FAÇO IMPÉM - Por Mundim do Vale

Lendo o interessante causo da Moralidade em Matorzinho, do Dr. José Flávio Vieira, eu me lembrei deste.

Na semana santa em Várzea Alegre, é costume os afilhados pedirem a bênção aos padrinhos e receberem uma quantia em dinheiro, que chamam de jejum. Era começo de semana santa e o circo Estrala Brasil estava sendo montado atrás da igreja de São Raimundo. Na calçada da igreja, Dedé de Júlio conversava com Chico de João V8, quando Dedé disse:
- Eita! Na sumana qui vem o circo fica pronto. Tem paiaço acanaiado, macaco, Leão, trapezista e inté Lurdinha Suares cantando só de maiô, amostrando as cocha. Vai ser bom dimais da conta.
Chico atalhou:
De que qui adianta, se nóis num tem dinheiro pra entrar?
- É só nóis ir gritar paiaço.
- Gritar paiaço pai num dêxa não.
- Ontonse nóis entra pru dibaxo da lona.
- Dá certo tombém não, qui os impregado do circo açoita nóis.
- Arre égua nóis ramo perder a putaria.
- Ramo não. Eu tou pensando num prano, qui vai dá certo, amenhã quando Lino do Correi vier na rural, eu vou pedir pra ir mais ele inté o Juazeirim, qui é prumode eu pidir a bença a meu padim Zé Lunardo, aí quando ele me der uns trocado de jejum, eu pago a tua entrada tombém.
- E se quando chegar no bebedou a rural de Lino atolar?
- Aí eu tomo imprestado o burro de Zá Amanço e vou nele.
- E se quando chegar na Timbaúba o burro se acuar?
- Aí eu peço a bicicreta de Ferreira Custodo e vou nela.
- E se quando chegar no Jatobá a corrente se quebrar?
- Aí eu vou de apé
- E se der uma cambra nas tuas perna?
- Aí eu vou sarrastando na rebêra inté chegar na casa do meu padim Zé Lunardo.
- E seu teu padim Zé Lunardo num tiver dinheiro?
Isbarra aí Dedé! Tu já atolou a rural de Lino, Já acuou o burro de Zé Amanço, já quebrou a corrente da bicicreta de Ferreira Custodo, já alejou minhas perna com cambra e agora quer dizer qui meu padim é liso. Apois fique sabendo qui eu num vou mais pagar a sua entrada não.
- Apois você pegue a rural, o burro, a bicicreta, seu padim Zé Lunardo, Lurdinha Suares e o circo Estrela Brasil e soque tudim no caneco, qui eu num faço impem.
- Apois ontonse. Vá assistir ispetaco no Circo Bacana, lá de Matorzinho.


Mundim do Vale.

3 comentários:

  1. Mundim e Dr. Flavio.

    Estes circos de voces estão me dando dor de barriga de tanto rir.

    ResponderExcluir
  2. Cada um mais engraçado que o outro.
    Quanta criatividade têm vocês! Parabéns.
    Agora lembrei da última vez que entrei num circo. Foi nas proximidades de uma praia cearense muito bonita. O circo era bem pequeno. Acabei caindo da arquibancada indo me sentar na areia.

    ResponderExcluir
  3. Oh! mundim! eu adoro circo! e esse aí, com toda certeza, eu fui com Paizinho. Parabens amigo,oh coisa boa!

    ResponderExcluir