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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 9 de março de 2013

Ministério da Propaganda – por Sérgio da Costa Franco



Durante o Estado Novo, o presidente Getúlio Vargas criou o Departamento de Imprensa e Propaganda, o famoso DIP, que despejava no país uma intensa e contínua publicidade do ditador e de seu governo.O nosso receio é que, sem criar um específico Ministério da Propaganda, o governo esteja cogitando de transformar o Ministério da Educação em pasta assemelhada. Estaremos marchando para a ressurreição do DIP? E, desta vez, um DIP incorporado ao próprio Ministério da Educação?

O DIP promoveu a imagem e o culto à personalidade de Getúlio Vargas. O filme "Lula, o filho do Brasil" (acima), terá o maior orçamento da história do cinema nacional. Sinal da ressurreição do DIP?Entre os numerosos ministérios criados no governo do presidente Lula, com vistas a satisfazer inesgotáveis apetites dos partidos que compõem a “base aliada”, ainda não existe, segundo nos consta, um Ministério da Propaganda e da Informação. Falha do planejamento? Carência de imaginação? Não cremos. O governo que foi capaz de inventar até um Ministério da Pesca, num país onde inexiste pesca industrial, não deixaria de projetar uma pasta especializada em fazer autopropaganda e em divulgar informações de interesse do comando político.

Em verdade, tal ministério não representaria grande novidade. Durante o Estado Novo, o presidente Getúlio Vargas criou o Departamento de Imprensa e Propaganda, o famoso DIP, que despejava no país uma intensa e contínua publicidade do ditador e de seu governo, desde o difundir seu retrato em todas as repartições públicas, lojas, salas de aula e botequins do país, até o esparramar folhetos de doutrinação política e de divulgação de obras ou projetos do governo. Por via do DIP, o próprio presidente da República abandonou essa titulação convencional para ser chamado oficialmente de “chefe da nação”. O modelo não era criação nacional, nem sul-americana: procedia do Terceiro Reich, onde o eficiente Dr. Goebbels chefiava um ministério especializado na difusão das ideias nazistas e na propaganda do Führer.
Parece claro que o presidente Lula não seguiria tal modelo, incompatível com a ordem democrática. Mas o nosso receio é que, sem criar um específico Ministério da Propaganda, o governo esteja cogitando de transformar o Ministério da Educação em pasta assemelhada.
Vimos nesta semana algumas das questões propostas aos estudantes de todo o país pelo Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) e ficamos abismados pela deliberada simbiose de propaganda governamental com prova de habilitação escolar. Longe de ser questionado sobre temas de genérico interesse nacional, independentes da pauta específica do governo, o estudante é forçado a pronunciar-se sobre o assunto incerto e novíssimo do Programa de Aceleração do Crescimento, que pouca gente conhece e que provavelmente não passa de uma plataforma eleitoral. Planos mal conhecidos do Ministério da Cultura e do Ministério da Educação são postos na mesa como se fossem regras constitucionais amplamente divulgadas.
As próprias declarações do presidente Lula a respeito da crise financeira mundial, em contraponto com críticas que lhe dirigiu a imprensa, tornaram-se matéria de questionamento, evidentemente parcializado e apriorístico. E a questão 23 envolve, com reflexões dirigidas, claríssimas críticas aos veículos de comunicação e aos comunicadores, lançando o Ministério da Educação no rumo perigoso da hostilidade à imprensa independente, seguindo a orientação de Hugo Chávez, o novo guru da América do Sul.
Estaremos marchando para a ressurreição do DIP? E, desta vez, um DIP incorporado ao próprio Ministério da Educação?
Texto de Sérgio da Costa Franco
Postado por Armando Lopes Rafael

2 comentários:

  1. Prezado Armando.

    Não sou tão velho, mas vi o Ministerio da Educação entregue a homens como Julio Barata, Jarbas Passarinho e mais recente ao Paulo Renato. Dá saudade daquelas ecopas em que a educação era levada a serio, o professor era respeitado, e o aproveitamento dos alunos era satisfatorio. Hoje nem confiança se tem mais na seriedade de exames e provas: a corrupção contaminou tudo, dez dias antes das provas acontecerem já tem gente oferendo os gabaritos a venda. Não há mal pior do que propaganda e publicidade ilusoria , enganosa.

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  2. Morais:

    A fraude do exame de ENEM, bem recente, comprova o que você afirma.
    Interessante que ninguém mais fala no assunto...

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