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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 7 de novembro de 2009

Princesa Isabel - 1846 - 1921.

Princesa Imperial do Brasil, Isabel nasceu no Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em 29 de julho de 1846, como segunda filha dos Imperadores do Brasil – Dom Pedro II e Dona Tereza Cristina Maria. Com a morte precoce do primogênito do casal, Dom Afonso, Isabel tornou-se a sucessora direta do pai. Casou-se com Gaston de Orleans, conde d’Eu, e com ele teve três filhos.
Princesa Isabel regeu o Império do Brasil por três vezes distintas e, durante os períodos de sua regência, leis importantes que mudariam a história brasileira entraram em vigor. Sem dúvida essas leis são reflexo do posicionamento abolicionista da princesa. Neste caminho, apoiou jovens políticos e artistas, ainda que muitos deles fossem ligados ao movimento republicano. Financiava alforrias com seu próprio dinheiro e apoiava a comunidade do Leblon, que cultivava camélias brancas, símbolo do abolicionismo, chegando mesmo a enfeitar os cabelos com a flor em eventos da corte imperial.
Copo de leite - símbolo do abolicionismo.
Umas das leis sancionadas pela princesa de mais impacto na sociedade da época, foi a lei 2.040, de 28 de Setembro de 1871, conhecida como Lei do Ventre Livre, que estabelecia, entre outras coisas, que os escravos poderiam acumular pecúlio, transmitir heranças e que as crianças nascidas de mães escravas seriam, a partir de então, livres. Esta lei acabaria com a escravidão no Brasil, mas a um longo prazo, até que toda a geração dos escravos vivos tivesse fim.
Deve-se perceber que a abolição da escravidão foi uma decisão intensamente discutida pelo governo imperial e pelos produtores agrícolas. Temia-se a desestruturação do trabalho agrícola, principalmente da produção cafeeira, por isso a Lei do Ventre Livre era importante, pois a escravidão acabaria gradualmente, de forma que o escravo fosse progressivamente substituído pelo trabalhador livre. O próprio Imperador Pedro II considerava-se um abolicionista, a escravidão brasileira era uma mácula que envergonhava o país internacionalmente. Apesar disso, o problema da escravidão jamais foi encarado seriamente, de forma a oferecer alternativas concretas para o trabalho escravo. O resultado prático desse dilema se deu de forma abrupta.
Ao assumir pela terceira vez a Regência, a Princesa Isabel assinou em 13 de maio de 1888 a Lei Áurea, que abolia definitivamente qualquer forma de escravidão nas terras do império brasileiro. Por conta de seu gesto, em 28 de Setembro do mesmo ano o Papa Leão XIII remeteu à princesa a comenda da Rosa de Ouro. Foi também por esta lei que a sucessora de d. Pedro II ficou conhecida como “A Redentora”. O fato é que apesar de tantos debates, a abolição foi assinada sem qualquer proposta que solucionasse a questão do trabalho agrícola. Os fazendeiros não foram indenizados, os libertos não foram fixados ao campo nem se pensou em alternativas para sua inclusão social. As plantações se perderam e a indústria cafeicultora, esteio do Império, quebrou. Antigos senhores abastados foram a miséria e a população liberta vagava pelas estradas e cidades, sem trabalho nem moradia fixa.
A estrutura política imperial, já abalada por outras crises, não resistiria a perda de uma de suas principais bases de apoio. Além disso, o Imperador encontrava-se velho e doente, e diversos grupos políticos temiam a ascensão de Isabel como imperadora. A resistência à ela devia-se muito as suas posições políticas, seu clericalismo exacerbado, que defendia a ligação entre Igreja e Estado, mas também a possibilidade do Brasil vir a ser governado por um estrangeiro, o francês conde d’Eu. O resultado disso, foi que no ano seguinte, proclamou-se a República e toda a família Imperial foi banida das terras brasileiras, seguindo, assim, para o exílio. Com a morte de Dom Pedro II em Paris, aqueles que continuavam defendendo a monarquia passaram a chamá-la de Imperatriz do Brasil Dona Isabel I.
Camélia Branca - símbolo do abolicionismo.
Apesar da condição de exilada, Dona Isabel teve uma velhice tranqüila na Normandia, no castelo da família de seu marido, cercada de seus familiares. Ainda em vida teve a felicidade de saber que a lei do banimento da Família Imperial do Brasil havia sido revogada pelo presidente Epitácio Pessoa.
Com a saúde fragilizada e abalada pela morte de dois de seus filhos em 1918 e 1920, a Princesa Isabel morreu em 14 de Novembro de 1921 e foi enterrada em cemitério local. Em 1953 seus restos mortais foram transferidos para o Rio de Janeiro e, em 1971, para o Mausoléu Imperial na Catedral de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, onde se encontram até hoje.

Postado por A. Morais

3 comentários:

  1. Princesa Isabel.

    "Financiava alforrias com seu próprio dinheiro e apoiava a comunidade do Leblon, que cultivava camélias brancas, símbolo do abolicionismo, chegando mesmo a enfeitar os cabelos com a flor em eventos da corte imperial".

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  2. É...

    Meu caro Amigo Morais

    Cada vez que resgatamos um pouco do nosso passado, estamos passando à nossa juventude, fatos que eles não conheceram. Talvez por isto não valorizem tanto quanto nós.

    Você está afinado com a história do nosso IMPÉRIO. Isto é muito bom.

    Como você sabe; o que procuramos narrar da história, não estava escrto nos nossos livros escolares.

    Por isto que só agora, com a tecnologia, conseguimos saber a verdade, sem sofismas.

    Valeu a sua postagem. CONTINUE.

    Vicente Almeida

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  3. Caro Morais:
    Parabéns por postagem tão densa e tão justa para com a Princesa Isabel.
    Os brasileiros, na sua quase totalidade, desconhecem o valor desta princesa brasileira.
    Depois do golpe militar que nos impôs a República, os golpistas aprovaram um decreto concedendo à Família Imperial uma vultosa quantia de cinco mil contos de réis (dava para comprar uma tonelada de ouro) para que Dom Pedro II e sua família vivessem um exílio tranqüilo.
    O Imperador recusou a oferta afirmando que os golpistas não podiam dispor do Tesouro Nacional para uma decisão desta. E a Princesa Isabel formalizou a recusa dizendo:
    – Nós não fazemos questão de dinheiro. O que me custa é deixar a Pátria, onde fui criada e tenho minas afeições. É isto o que lamento perder. Não o trono, nem ambições, que não tenho.
    (Cfe. Tobias Monteiro no livro “Pesquisas e Depoimentos para a História” – Edusp/Itatiaia-SP, 1982)

    Agora compare com esse gesto com os governantes que temos nos dias atuais...

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