Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

SAPRUMA BAITOLA VÉI - Por Mundim do Vale


Em Várzea Alegre já aconteceu de tudo. Certa vez Cícero Inácio, já com a idade bastante avançada, cismou de aprender a andar de bicicleta. Adquiriu uma de segunda mão de Chagas Chibata e levava para casa empurrando pela antiga rua do Juazeiro, quando Belezário perguntou: Pruque num vai amuntado Ciço? - É pruque eu tou levando premêro prumode amansar ela mais Quinco meu. Adispois é qui eu vou passar isquipando cum ela por aqui.
Chegando em casa todo mundo foi contra a idéia,mas ninguém conseguiu fazer Cícero mudar de opinião. Ele levou o filho Quinco quase na marra, para a avenida Figueiredo Correia, onde a largura e uma rampa, eram boa para o aprendizado. Só que no segundo quarteirão, tinha uma sobra de pedras de pavimentação, amontoadas para ser removidas pela prefeitura para outra rua.
Quinco começou a ensinar o básico. Pegava na cela e dizia: - Aqui é o acento, nas luvas dizia: - Aqui é as bainha dos guidom, nos pedais falava: - Aqui é os estribo. Agora pai se monta e eu fico sigurando no acento até pai aprender.
Cícero muito afoito dizia: - É mais mió eu me apiar logo e você vai açoitando ela, qui é prumode eu já ir galopando. Quinco insistia: - Não pai ! premêro pricisa trenar cum ela parada. - Mais eu já amansei burro brabo, pruque num amanço uma bicicreta cheia de arame o burracha?
Quinco perdeu a paciência e falou: - Apois tá certo pai tá querendo então vá.
Cícero montou, Quinco segurou na cela, deu um empurrão de ladeira abaixo e gritou: Sapruma baitola véi teimoso! Olha pra frente babiquara! Coidado cum as peda véi caduco!
Cícero saiu costurando, assim como gráfico de exame cardíaco, depois pegou o rumo das pedras. Quico arrependido gritou: - Coidado pai! Isbarre essa bicha! – E adonde é o isbarro? – è aí dibacho das luva do guidom.
Foi tarde demais. Cícero caiu por cima das pedras, quebrou a bicicleta, o rosário e os seis dentes que ainda lhe restavam.
Soarim que passava no local com um pau de galinhas disse: - Ái vai! Ciço Inaço depois de véi deu pra ispaiá as peda da prefeitura?
Quinco saiu correndo para socorrer o pai ainda falando grosseiro: - Eu num dixe qui isso num tinha fundamento. Ora, véi qui num presta mais pra nada, agora querer bancar faceirice inriba duma bicicreta.
Cícero levantou-se capengando e falou com raiva: - Num presta mais é um ova! Quem você pensa qui é? Tudo qui você sabe aprendeu cum eu. Eu insinei você a falar, pidir, caminhar, Correr, mijar e beber e quando acabar você num quer insinar eu a andar de bicicreta.
Mundim do Vale

4 comentários:

  1. É...

    Mundim do Vaaale!

    Essa é muito boa, vai pra coleção sim senhor!

    ResponderExcluir
  2. Mundim

    uUm belo dia eu apanhei a bicicleta de Evaldo Leandro e fui ao Sanharol. Depois do Posto Boavista fui pedalar em pé. Foi o maior desastre. Dei umas quatro bunda canasta aterro abaixo. Fui para enganchado na cerca de arame de Manuel de Pedro do Sapo. Bicicleta pra nunca mais.

    ResponderExcluir
  3. Coitado do Cícero, bem que o filho podia lhe ensinar a andar de magrela; muito boa mundim, você é um genio! Abraço com carinho. Fatima

    ResponderExcluir
  4. Pois é, primo. foi melhor você cair
    porque pedalando em pé numa bicicleta, se a corrente cai ou quebra, vai dividir umas coisas que maltrata bastante.
    Abraço.
    Mundim.

    ResponderExcluir