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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 9 de novembro de 2023

260 - Preciosidades antigas de Várzea-Alegre - Por Antônio Morais


Falar em Várzea-Alegre, Cine Odeon  se confunde com Edmílson Martins

Enquanto ouvíamos a famosa característica do Cine Odeon, que demorava não menos que trinta minutos, era comum observar-se o povo ir para às suas residências tomar um delicioso banho, trocar de roupa, tomar um cafezinho com café torrado e moído em casa e voltar para ver a película, geralmente um Western transportado em bicicleta por Valdefrâncio Correia, importado da vizinha cidade de Cedro.

Vale a pena informar, que os admiradores da sétima arte normalmente dirigiam-se para os fundos da igreja matriz, local alto e com boa visibilidade para a estrada que nos ligava à vizinha cidade de Cedro, à espera do nosso ciclista-herói, que nos traria àquele delicioso entretenimento. Enquanto o jovem condutor se aproximava do bairro Betânia, os jovens que os aguardava com ansiedade corriam para esperá-lo próximo ao cruzeiro da igreja-matriz, para em seguida, em procissão, e com ele e sua bicicleta nos braços, dirigirem-se até o cinema local.

Após assistirmos ao “Dólar Furado” chegara o momento de nos prepararmos para uma noitada de prazer. Fomos ao bar de Nêgo de Aninha, onde tomamos algumas lapadas de cachaça Guanabara, queimada com Cinzano, um vermout de boa procedência. Para tira-gosto nos trazem rodelas de caju, de sabor delicioso. Cinco doses depois, passamos na farmácia de seu Nelinho, compramos duas cápsulas de Tetrex de 500 mg, uma para cada um, pois assim esperávamos evitar o contágio com o temido “Esquentamento”, doença venérea que tantas complicações nos trazia. Anos mais tarde apareceriam outras Doenças Sexualmente Transmissíveis e a Gonorréia não teria mais tanto destaque, pois estaria prestes a desaparecer. E já munidos daquela medida preventiva, quanta inocência a nossa, nos dirigimos para àquelas casas de diversão, situadas à rua Gonçalves Dias. Era ali onde os homens se dirigiam para dar asas as suas fantasias eróticas.

A vida sexual era muito limitada. O homem podia freqüentar tal ambiente sem muitos problemas, desde que ele tivesse idade superior a 18 anos e uma conduta digna. Caso contrário, seria preso e processado. A mulher tinha que se preservar ao máximo. Se esta tivesse algum contato sexual antes do casamento, o seu pai tinha o direito de fichá-la na delegacia como prostituta e encaminhá-la paro o cabaré. Era a lei. Naquela área da cidade era comum observar-se um animal eqüino amarrado em uma árvore próxima. Era o saudoso Luís Gonçalo da Silva, o Luisão da Cachaça, assim conhecido por vender cachaça desdobrada, em ancoretas, em duas formosas burras. Dizem, que a sua espiritualidade era tanta, que quando saía da igreja, após a missa, logo dirigia-se ao baixo meretrício. Daí a inspiração de nosso poeta Bidinho em escrever a poesia intitulada "Seis e Meia na Igreja, às Oito no Cabaré", em sua homenagem.

Nossa Várzea Alegre cria
Uma certa criatura
Que toda noite mistura
Orações com putaria
É louca pela orgia
E nas imagens tem fé.
São Vicente e São José
Bem vêem a sua peleja
Seis e meia na igreja
Às oito, no cabaré.

Dr. Sávio Pinheiro.


9 comentários:

  1. Dr. Savio.

    Inicialmente agradeço a sua importante colaboração. Ela enriquece o Blog e atrai depoimentos importantes de outros leitores para agregar valores historicos.

    Lembro-me que minha parenta Laura da Formiga, sabendo que um filho de Antonio do Sapo estava quase de morada no Cabaré foi enredar ao pai dizendo: Tio Ontoe, eu quero saber se o senhor não sabe que Chagas esta quase de morada no cabaré? Vi dizer que ele passa o dia todin jogando xibiu cum as muié!

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    1. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk que deliciosa leitura, para a mangã de um sábado......

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  2. Meu poeta escritor.
    O waldefrance além de transportar os filmes, também operava na máquina projetora.
    Certa vez ele foi projetar um filme
    e num embaraço colocou primeiro o carretel da parte final. O cine Odeon lotado aí já viu a revolta. o pessoal começou a gritar e assoviar, fazendo a cantiga dos sapos. Waldefrance soltou o carretel lá na cabine e desceu com um alicate na mão.
    Da porta que dava assesso ao auditório ele gritou:
    - Quem foi que assoviou.
    Uma voza de alguém das cadeiras mais de baixo respondeu;
    - Fui eu!

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  3. Zé Savio e Morais...
    Será que a caaceterística que tocova no Cine Odeon foi a mesma que depos tocou por muito tempo no cine alvorada de Zé de Borgin ????
    Recentemente conseguimos cópia dessa caraterística com o grande locutor do cinema, Assis. A cópia tá com meu irmão Fernando em Varzea Alegre. Estou ansioso pra ouvir e me recordar dos grandes filmes que assisti na minha infância.
    Forte abraço...
    Um grande abraço

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  4. Flavin.

    Pelo menos até 1969, epoca em que morava em Varzea-Alegre tocava um dobrado por mais de meia hora. Acho até que Dr. Savio se engonou no tempo, meia hora, podia ser um pouco mais. O primeiro filme que assistir foi Djangol, aquele que um caixão de defunto é arrastado o tempo todo e no final nos surpreende com uma metralhadora dentro o que acaba por salvar o artista.

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  5. Morais...

    Que legal!!! Esse filme do Django eu também vi lá no cine Alvorada. Eu acho que Zé de Borgin tinha os direitos autorais dessa película, pois de tempo em tempo entrava em cartaz.
    Abração

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  6. Dr. Sávio
    Gostei muito de embarcar no trem dessa maravilhosa viagem.
    Lamentável que acabou na quarta parada.
    Ao final, lembrei-me do Crato lá pelos idos de 1967. Saimos do Clube AABB, após uma festa muito animada, num fusquinha superlotado. O condutor do veículo muito brincalhão, resolveu fazer uma presepada... Era um primo de Ouro Preto que, muito sério, pegou em direção a uma tal rua do gesso, quando estava bem próximo, falou: "- Agora?... Glooorinha!!!" Minha tia solteirona que não perdia uma festa pois era muito animada, desesperada gritava: - Agora, não! Agora, não! Agora, não!
    Para acalmar a tia, disse: "- Calma, estou falando que primeiro vamos levar Glorinha em casa.
    Êita povo presepeiro aquele de Ouro Preto! Era muito divertido.

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  7. Muito saudoso o texto!!! Lembro que entrava escondido no cinema para assitir filmes para maiores de 18 anos... kkk Dava sempre certo..Um deles foi o exorcista. Quase morro de tanto medo!!
    Tempos bons!!!

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    1. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk além de infringidor de lei, frouxo....

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