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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 21 de fevereiro de 2010

INRIBA DA BUCHA - Por Mundim do Vale

Meu avô dizia que quem mexe com doido, é doido e meio. Sábias palavras.
O exemplo disso aconteceu lá em Várzea Alegre.
Uma vez Darca mandou Chico Tida deixar uma manteiga da terra na casa de Vicente Ferreira, quando voltava, Chico encontrou Sá Maria com uma trouxa de pedras e foi inventar de mexer com ela. Mais pra que ele foi fazer aquilo? Sá Maria pegou uma das pedras, eu acho que a de Clarianã e rebolou. Chico abaixou-se e a pedra foi bater logo em Gessione, filho de Almir David. Aí o tempo fechou. Levaram Gessione para a farmácia de Nelinho e Almir ficou nervoso dizendo que fazia e acontecia.
Enquanto isto, Chico sabendo o pai rigoroso que tinha, aproveitou a situação para fugir e foi tratando logo de arranjar um lugar para ficar escondido. Não com medo de Almir, mas do seu pai. Quando passava em frente a igreja de São Raimundo, viu a porta aberta e entrou, quis subir para a torre mas não conseguiu. Quando já ia sair, olhou para o altar de são Raimundo e viu a cortina de baixo aberta, foi quando teve a idéia de entrar debaixo do altar e fechar a cortina.
João V8 ficou desfilando na rua: Major Joaquim Alves com um cinto na mão, dizendo que ia matar o filho de peia. Darca que já tinha procurado Chico por toda a cidade, começou a rezar e chorar desesperada:
- Ou meu São José! O bichim só tem dez anos, Cuma é qui vai viver nesse mundão de meu Deus?
O pintor Bentevi que morava vizinho Falou:
- Faça uma premessa cum São Raimundo, qui ele ai de aparecer.
- Mais se ele aparecer é pior, pruque João mata ele de peia.
João V8 vinha chegando e vendo desespero de Darca enrolou o cinto e falou:
- Pode ir caçar Francisco qui eu num vou mais açoitar ele não. Num foi ele qui atirou a peda.
Darca entrou na igreja e foi direto para o altar de São Raimundo. Chico abriu um pouco a cortina para pegar um vento, mas quando viu a mãe se aproximando, fechou imediatamente e escondeu-se lá dentro.
Darca ajoelhou-se sem ver o filho e começou:
- Meu São Raimundo. Faz muito tempo qui eu sou devota do Sinhor e nunca lhe pidí nada, mais agora chegou a hora. Eu queria pidí a meu santim uma ajuda pra Francisco aparecer. Ele é ainda uma criança e anda iscundido cum medo do sem futuro do pai, açoitar ele. Mais João já me premeteu qui num vai mais bater nele. E se João num cumprir o qui dixe, eu tomo o cinturão e inforco ele. Se Meu santim me atender quando for na sua procissão eu vou acumpanhar discalça e cum uma peda na cabeça. Traga meu bichim meu São Raimundo, qui eu garanto num deixar João açoitar ele.
Nesse momento Chico abril a cortina e saiu mais suado do que pano de abafar cuscuz e gritou:
- Mãeêêê! Tu garante qui num vai deixar pai açoitar eu?
Darca quase morre do coração. Abraçou o filho e voltou a falar com são Raimundo:
Obrigado meu São Raimundo. Eu sabia qui o Sinhor era milagreiro. Eu só num sabia era qui o Sinhor fazia o milagre ASSIM INRIBA DA BUCHA.
Dedico ese causo ao blog Pedra de Clarianã e ao Doutor Flavio Costa Cavalcante

10 comentários:

  1. Mundim do Vale.

    Parabens por mais um causo. Não sabemos se a atribuição do milagre deve-se ao São Raimundo, a desistencia do João V8 ou a determinação da mae em jurar enforcar o marido dando coragem ao Chico de aparecer. Boa historia. Muito boa mesmo.

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    São Raimundo é milagreiro mesmo e é enriba da bucha.... Ano passado "ele" me atendeu e me levou prá festa de agosto. E paguei a promessa que fiz de acompanhar o "pau" até a igreja. Sem contar que ao me aproximar para pegar no pau - fazia parte da promessa, deram uma pisada no meu pé que passei quase toda a festa com o pé inchado. Mas valeu e agradeço a São Raimundo. A festa foi muito boa!!
    Raimundim, vó dizia que remédio prum doido é um doido e meio ..... kkkkkkk E parece que o "meio" a mais da doidice da mãe que passou da doidice do pai, serviu de remédio...
    Muito bom causo!!!

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  3. Eita Mundin...

    Que causo maravilhoso!!! Reforça a nossa crença no Padroeiro.
    Quando comecei a escrever os causos, me inspirei bastante nos seus divertidos trabalhos.
    Um forte abraço e muito obrigado pela homenagem ao Blog Pedra de Clarianã.

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  4. Prezado Flavio.

    O Sanharol do Morais e do Mundim é como o Sanharol do meu pai Ze André.

    "Um dia ele conversava comigo e disse: Isturdia eu fui... A namorado do Anacleto riu e perguntou: Anacleto o que é isturdia? Ze André ouviu e respondeu: minha filha Isturdia é domingo que passou e daqui uns dias é domingo que vem".

    O Bom do Mundim é que ele conta os causos e agente parece que está vendo o personagem atuando, falando do seu jeito a verve rajalegrense.
    Parabens Mundim.
    Abraços.

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  5. Ei, Mundim,

    Gostei demais desse causo... Vou carregando, viu?
    Dá uma passada no Cariricaturas e olha as expressões do "Caririês". Vê se você colabora e nos ajuda a "engrossar o caldo".

    Seus causos estão recheados dessas coisinhas nossas do Cariri. Gosto demais.

    Abraço,

    Claude

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  6. Mundim esse causo é dos bons! Você poderia explicar o que significa o apelido V8? rsrsrs
    Parabéns!

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  7. Gloria Pinheiro.

    Eu vou passar a minha versão sobre o apelido. João V8 era motorista de caminhão e tinha oficina mecanica. Na epoca existia um caminhão cuja marca e modelo era Ford-V8 e o João como bom motorista e mecanico, conhecia tudo a respeito do carro. Daí surgiu o apelido, eu cheguei a conhecer o filho chamado Chico de João V8 um grande motorista que deu continuidade na oficina do pai. Foi o Chico que depois de bater de frente com Zezinho Costa disse: Tambem o senhor vinha na contramão! E Zezinho respondeu:e porque voce num vinha na contra mão tambem? Vamos aguardar a versão do Mundim, com certeza será mais abalizada.

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  8. Glória.
    A versão do primo Morais está correta.
    Abraço.
    Mundim

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  9. Gostei de saber, vocês sabem de tudo!
    No Crato contavam uma mais ou menos assim: Foram contratar um taxi para uma corrida até Exu. O motorista perguntou: - Quantas pessoas vão? O contratante respodeu: Sete, As três e eu. O motorista se recusou porque o carro não comportava tantas pessoas.
    Seu Sete era o pai de Dona Astrês que foi minha professora. rs rs rs

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  10. Mundim.

    Dona Astreis, que foi minha professora tambem, era casada com Gessy, filho de João Leandro Correia do sitio Boqueirão em Crato, filho de Cleta de Vivencencia do Rosario, Neta de Jose Raimundo do Sanharol.

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