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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 21 de novembro de 2023

286 - Preciosidades antigas de Várzea-Alegre - Por Antônio Morais.

Um homem exemplar - Por Francisco Luiz de Oliveira. Recomenda-se a leitura.

Quando os filhos de Várzea Alegre promoveram a primeira "Semana Universitária" no município, surgiu o primeiro número do jornal "O NOVO TEMPO". Numa das matérias - Um Homem Exemplar - escrita por Chico Luiz de Oliveira lemos: “quero neste canto de página, lembrar à nova geração o nome de um dos maiores filhos da terra de Papai Raimundo, o querido amigo José Alves Feitosa, Dudau, como era conhecido”. E a homenagem continua.

Varão ilustre e austero, homem de bem, exemplo a ser seguido, exerceu, por muitos anos, com zelo e proficiência inexcedíveis, o cargo de 10. Tabelião e Oficial do Registro Civil. Deixou as gerações advindas o exemplo de amor à verdade e a decência.

Não bastasse ser varzealegrense, não há quem não tenha uma dívida de gratidão para com o ilustre e inesquecível Dudau, pelos serviços prestados em seu cartório. Raramente cobrava as custas, que por lei tinha direito.

Homem sem preconceitos, autodidata, dissertava sobre qualquer assunto: História; Música, Literatura, Direito, Política e Religião, com profundo conhecimento; mercê de argutas observações e acurada leitura. Era, de fato, um pantólogo.

Possuía biblioteca rara, na qual pontificavam as obras completas de José de Alencar, Machado de Assis, Euclides da Cunha, Humberto Campos, Visconde de Taunay e muitos outros. Era profundo conhecedor da Historia do Brasil, especialmente, no que se refere à Guerra do Paraguai. Correspondia-se com ilustres escritores brasileiros, Gustavo Barroso, Humberto de Campos e, notadamente, com Afonso de Taunay, filho do Visconde.

Foi Dudau quem me iniciou pelo gosto da leitura, escolhendo, em 1938, "Iracema", de José de Alencar. Semanalmente, eu lia uma obra de sua fabulosa biblioteca, comentava e debatia o assunto com ele. Muitas vezes, exigia de mim uma segunda leitura, para melhor ficar conhecendo o assunto, como costumava dizer. Isso aconteceu com "Os Sertões", de Euclides da Cunha, com a biografia do grande músico patrício, PE. José Maurício Nunes Garcia, escrita pelo Visconde de Taunay, com a biografia de D. Pedro II e Heitor Lira, em três volumes, hoje, em meu poder, pois os comprei à viúva de Dudau.

Admirador incondicional de D. Pedro II, por quem tinha verdadeira veneração, lembrava episódios do reinado, comentando com riqueza de detalhes os acontecimentos da época. Foi um entusiasta da célebre “Coluna. Prestes", tendo grande admiração por Cordeiro de Farias, Siqueira Campos, João Alberto, Juarez Távora e Luiz Carlos. Prestes. Da "Coluna Prestes” fez parte seu primo Pedro Alves Costa, citado por Lourenço Moreira Lima em seu livro sobre a "Coluna Invicta". Inimigo ferrenho da ditadura e de Getúlio Vargas, não perdia oportunidade de meter o "sarrafo" no Ditador.

Apesar de ser político, intransigente, respeitar os amigos e chefes políticos, Dudau tratava a todos igualmente. Ninguém ali tinha privilégios. Josué Diniz, amigo incondicional de Dudau, quando a frente da Prefeitura de Várzea Alegre, numa homenagem justa ao amigo deu nome a Rua José Alves Feitosa. Dudal gostava imensamente de contar a história dos Feitosas dos Inhamuns, de cuja família fazia parte; a história de Várzea Alegre e de como surgiram as famílias, etc.

Na mocidade, Dudau fez parte da Filarmônica de Várzea Alegre, tocando flauta, acumulando a função de Mestre. Meu irmão Raimundo Luiz, seu escrevente, posteriormente, sucessor no 10 Tabelionato de Várzea Alegre, Josué Diniz e eu éramos seus amigos mais próximos, frequentando diariamente sua residência, onde, tomávamos o cafezinho das 6 horas da manhã.

Ali o encontrávamos balançando-se numa rede, sempre de boné. Gostava de perguntar pelas novidades. “Falava de Deus e o mundo”, inclusive das pessoas que lhe eram mais chegadas: Raimundo Luiz. Josué Diniz e a própria esposa. Alguns o tinham como "linguarudo", mas, era um homem estupendamente bom e sensível. Raramente, saia à rua e, quando o fazia, vestia-se esmeradamente, com botinas bem engraxadas e bengala. Era alto, alvo, de porte elegante, bonito e dado com todo mundo.

Nascido em 9 de Janeiro de1881, no sítio "Formiga", casou com Matilde César Feitosa, de tradicional família paraibana. Dudau faleceu no dia l3 de janeiro de 1945, deixando às gerações futuras, aí incluindo meus filhos, exemplo de bondade, austeridade e cumprimento do dever.

Sua morte foi chorada por Várzea Alegre em peso. Que os jovens universitários varzealegrenses sigam o exemplo do velho e querido amigo Dudau, a quem nestas linhas venero a memória, com indelével saudade. Que os jovens universitários varzealegrenses sigam o exemplo do velho e querido amigo Dudau, a quem nestas linhas venero a memória, com indelével saudade. Sua esposa faleceu poucos anos depois. O casal não deixou filhos.


8 comentários:

  1. Há poucos dias, fiz uma postagens com quatro vultos de Varzea-Alegre para os leitores fazerem a identificação. A grande surpresa é que ninguem, ou quase ninguem soube identificar o ilustre coterraneo Jose Alves Feitosa, o conhecido Dudau, uma das maiores inteligencias de todos os tempos em nossa terra. Este texto foi retirado do Jornal O Novo Tempo, lançado por ocasião da Semana Universitava de Varzea-Alegre nos anos 60 do seculo passado. Muito bem escrito por Francisco Luiz Oliveira, traz um pouco da biografia de Seu Dudau. Agradeço a Escritora Linda Lemos pelo envio de tão importante materia. Espero que os nossos conterraneos leiam e guardem esses ensinamentos de um homem bom, culto, justo e admiravel.
    Abraços a todos.

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  2. Meu pai falava muito bem desse cidadão. Mesmo sem tem deixado família, mas pelos depoimentos já comentados aqui no blog percebem-se grandes serviços prestados aos Varzealegrenses. É agradável falar de pessoas que tem história, Morais, grande conhecedor dos fatos ocorridos em nossa terra tem se destacado como escritor, merecendo os sinceros elogios por todos nós que fazemos o blog do Sanharol e Cariri.

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  3. Prezado João Bitu.

    Ana de Morais Feitosa, mãe de Dudau, era irmã de Isabel de Morais Rego e de Pedrinho de Sanharol, meus besavores, e de Viturino Alves de Meneses seu besavô. Só para situar como parente.

    Numa epoca que o que tinha valor era um pedaço de terra e um curral de vacas, o Dudau possuia em sua biblioteca uma coleção de Jose de Alencar, Machado de Assis, Euclides da Cunha, Humberto de Campos e Visconde de Taunay. Veja a visão de futuro deste cidadão. Homem de cultura apurada. Um grande vulto de nossa terra.

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  4. Tem razão Morais. Várzea Alegre e sua gente deve muito a esse cidadão. Os Piaus de Pedro e Iraci,devem mais do que os outos, porque foi Dudau que levou meu pai o cartório, onde ele conseguiu o sustento e a educação dos filhos.
    A propósito do assunto Feitosa. Onde anda um recorte de jornal que lhe mandei pra ser postado, que falava dos Morais Regos e Feitosas?
    Grande abraço
    Mundim.

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  5. é verdade raimundinho se Dudal não tivesse levado seu pai pro cartório hoje não teriamos, esse maravilhoso livro de genealogia escrito por pedro, quanto a dudal, ele foi um vulto que revolucionou a cidade na sua epoca, essa foto uma reliquia que faz parte do meu acervo cultural, pois todos que fazem cultura e divulga o bem estar de nossa cidade deve ser reverenciado e dudal foi o primeiro maestro de nossa banda parabéns Linda por tornar conhecida essa história pro jovens, esse texto que estará presente em seu livro que será lançado em breve

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  6. Prezado Mundim.

    O recorte de jornal está bem guardado. Na epoca que recebi eu tinha feito diversas postagem com o tema. E deixei passar para um pouco adiante.

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  7. O que acho sensacional no blog do Sanharol é a maneira como se constroi a história de Várzea Alegre. Por exemplo, Morais e Raimundinho Piau acrescentaram dados à biografia de Dudau, feita por Chico Luís e organizada por Linda Lemos. Já o Israel colaborou com a foto e assim, a nossa bonita história vai sendo registrada.

    Maria Linda Lemos Bezerra

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  8. Não pretendo, com meus comentários, forçar a perda de neurônios dos colaboradores do blog, se isso, por ventura, vir a ocorre eu ficarei profundamente magoado, triste. Minha intenção e recuperar neurônios perdidos e para isso gosto de uma bela partida de xadrez, pois se já é dificil o diálogo com pessoas com, imagine sem.
    Gostaria de saber quem é essa nobre família Vieira, mas já provoquei, cutuquei, fiz de tudo para saber quem são e como vivem esse meu povo sem resultado. Acho que a culpa é da terra e do gado, pois diferentemente do seu Dudau meu bisavô Pedro Camilo Vieira deixou para posteridade, em vez de livros, litígios por terra. Sei por que ví tios meus acabarem com suas heranças trocando terra por pinga. Quem migrou para a cidade e investiu em cultura se deu bem e esses querem distância dos Vieiras!

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