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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 15 de junho de 2022

Personalidades Lavrenses - Por Maria Glaudia Ferrer Mamede

Dr.  Ildefonso Correia Lima,  médico filho de Fideralina Augusto Lima.

  Casa da Fazenda Tatu - pertencente a familia.
Primeiramente, falarei de Fideralina Augusto Lima, nascida em Lavras da Mangabeira, em 24 de agosto de 1832 e ali falecida, em 16 de janeiro de 1919. É uma das figuras políticas mais fortes do Ceará e simboliza a época do mandonismo e da força. Segundo o historiador cearense Raimundo Girão Barroso, foi ela “valente espírito feminimo a quem muito interessava a política cearense”. O poeta Gentil Augusto Lima, em conferência pronunciada na Associação de Imprensa da cidade fluminense de Campos dos Goitacases, assim se referiu a Fideralina: “mais brava e de muito mais valor do que Bárbara de Alencar e, ainda do que Anita Garibaldi”. A ilustre romancista cearense e membro da Academia Brasileira de Letras, Rachel de Queiroz, descreveu Fideralina como “uma espécie de rainha sem coroa, uma legenda”, porque “das margens do São Francisco aos seringais do Amazonas, a sua palavra era lei”. Fideralina era possuidora de vastos domínios territoriais. Estabeleceu-se, em Lavras e sua residência de campo era no sítio Tatú, naquele município. Viveu no tempo em que o cangaço era a lei única e nem o exército podia com os jagunços armados. Dona Fideralina também se cercava de cabras armados, para defesa dos seus e de sua moradia. Como era autoritária, teve muitos inimigos que lhe levantaram calúnias e foi motivo de lendas. Diziam que ela rezava o rosário num terço feito com as orelhas dos seus inimigos e que a frase sacramental usada pelos seus capangas, antes de darem o golpe mortal nos inimigos era a seguinte: “Está aqui o presente que Dona Fideralina lhe mandou”. Tinha ela grande poder político em Lavras da Mangabeira. Mandava, com absoluta liberdade, embora nunca tenha sido investida, legalmente, em cargo público. Um fato que a enlutou e a fez recolher-se por uns tempos, foi o de ela ter, em comum acordo com o filho, coronel Gustavo Augusto Lima, em 26 de novembro de 1907, determinado, pela força imperante do bacamarte, a retirada do seu outro filho Honório Correa Lima, do cargo de intendente. Havia entre eles um desacordo sobre os interesses políticos. Fideralina encarnou as instituições políticas vigentes em sua época. Latifundiária, garantiu a sobrevivência do feudo, com o trabalho escravo. Tinha homens ágeis no trabuco e cangaceiros destemidos, como Antonio Preto e Miguel Garra. Relegou a liteira, usada em sua época e transportava-se, do sítio Tatú para a cidade, no lombo de possantes cavalos, sempre com um bacamarte atravessado na lua da sela. Dona Fideralina transmitiu aos seus descendentes o gosto pela política. Três dos seus filhos foram deputados estaduais; dois bisnetos foram senadores e muitos outros têm exercício cargos de destaque na vida política, administrativa e econômica do Ceará. O poder, inicialmente instituído em Lavras, para defender o feudo do clã dos Augusto, transferiu-se, por força da sucessão hereditária, para a esfera política e administrativa da Vila de São Vicente das Lavras, nome primitivo de Lavras da Mangabeira. Muitos membros da família exerceram cargos políticos em Lavras da Mangabeira e no estado do Ceará.
Coranel Gustavo Augusto Lima. Dando um salto na história, apraz-me, agora, falar sobre Raimundo Augusto Lima, filho do coronel Gustavo Augusto Lima e neto de Fideralina. Nasceu Raimundo Augusto, no dia 21 de junho de 1887. Abro aqui um parêntesis para dizer que meu pai Anselmo Teixeira Férrer, morou, muitos anos, durante a adolescência e a juventude, com Raimundo Augusto e sua esposa Cira Férrer ( irmã de Anselmo) e por eles nutria um amor filial. Eu, também, tive muito contato com tio Raimundo. Na minha infância, até os dez anos, freqüentava os sítios São Domingos e Santa Inês, de propriedade do mesmo e relembro, com prazer, as moagens de cana, o fabrico da rapadura e dos bem elaborados e deliciosos alfinins. Raimundo Augusto era um homem forte, conversador, diligente, respeitado e querido de seus correligionários. Em sua casa grande, na rua do Alto, hoje rua Hilda Augusto, todos os dias, a grande mesa, de cerca de 5 metros de comprimento, ladeada de bancos rústicos, ficava cheia de pessoas amigas, para o almoço do meio-dia e, à tardinha, para se saborear a excelente sopa, elaborada sob as vistas da incansável tia Cira. A freqüência de pessoas à casa de Raimundo Augusto era tão intensa que, às vezes, sua família reclamava da falta de privacidade para as refeições e as conversas mais íntimas. Entretanto, isto era inevitável, face ao grande sentimento de simpatia que o coronel Raimundo Augusto inspirava na população lavrense. Fecho, aqui, o parêntesis em que relatei minhas recordações de infância. Após a morte de seu pai, Gustavo Augusto Lima, em 28 de janeiro de 1925, assassinado em pleno centro comercial da capital do Ceará, o coronel Raimundo Augusto Lima assumiu o domínio absoluto da política, em Lavras da Mangabeira, domínio esse que perdurou por meio século, assegurando o poder oligárquico de sua família. Assim, sua existência foi cheia de prestígio mas muito tumultuada, politicamente. Seus inimigos políticos mais notáveis foram os filhos de Dulcéria Augusto de Oliveira, “a velha Pombinha”, irmã de Fideralina: os coronéis José Augusto de Oliveira e Antonio Augusto de Oliveira, o primeiro dos quais liderou, em Lavras, a militância oposicionista contra o coronel Raimundo Augusto Lima. Este, entretanto era homem forte e de prestígio, tanto que em 1926, ele, com um pequeno exército armado perseguiu os revoltosos da Coluna Prestes, em Senador Pompeu, outro município cearense, ganhando a simpatia do então presidente do estado do Ceará, José Moreira da Rocha. Em junho de 1927, Raimundo Augusto enfrentou o temido ”rei do cangaço”, Lampião, expulsando-o, com grande valentia, de sua terra. Um fato curioso é que após a contenda, Lampião se tornou amigo de Raimundo Augusto, embora respeitando-o e temendo-o, pois nunca mais se atreveu a invadir suas terras. Tanto assim que o sanfoneiro Antonio Ferreira, irmão de Lampião, assim cantava: “Lampião bem que disse/ que deixasse de asneira/que passasse bem longe/de Lavras da Mangabeira.Com a Revolução de 1930, que levou ao poder Getúlio Vargas, a situação política do Brasil se modificou bastante. Durante 15 anos governaram os Estados interventores do Governo Federal. O primeiro interventor do Ceará foi Fernandes Távora. Távora durou pouco no poder, pois continuou com as práticas clientelistas e corruptas da Velha República. Nesta época, Raimundo Augusto era prefeito de Lavras da Mangabeira a qual foi invadida por ordem de Fernandes Távora, pelo 23º Batalhão de Caçadores. O coronel Raimundo Augusto evadiu-se, deixando a cidade vazia e o batalhão do exército desnorteado. Localizado, foi perseguido pelas tropas e afinal, detido, em Juazeiro do Norte. Conduzido preso a Lavras da Mangabeira, Raimundo Augusto foi recolhido à cadeira pública local. Seu patrimônio foi, então, dilapidado, e incendiadas as suas propriedades, pelo alto comando revolucionário. Livre da prisão, ele deparou-se, em 26 de junho de 1932, com o tenente Veríssimo Gondim que, por ordem expressa do chefe de polícia do Ceará, tentou algemá-lo para, assim, conduzi-lo a Fortaleza. Raimundo Augusto reagiu, com destemor e feriu, mortalmente, o tenente Veríssimo. Levado ao tribunal do júri, foi absolvido, por unanimidade, graças, sobretudo, ao brilhante desempenho de causídicos renomados que o defenderam. Em 1934, vitoriosa a Liga Eleitoral Católica, foi nomeado prefeito de Lavras o irmão de Raimundo Augusto, João Augusto Lima, que deu continuidade ao domínio político da família.

  Coronel Raimundo Augusto Lima. Em 14 de dezembro de 1937 foi nomeado prefeito de Lavras o acadêmico de Direito Vicente Férrer Augusto Lima, filho de Raimundo Augusto e de Cira Férrer .Assim a estrela dos Augustos voltou a brilhar, mais intensamente, pois ficou no cargo até 17 de novembro de 1945. Vicente Augusto nasceu em Lavras no dia 19 de junho de 1915 e morreu em Fortaleza no dia 1º de janeiro de 2004. Era um homem de fino trato, inteligente e de grande manejo político. Filiou-se ao PSD e foi deputado Estadual por várias períodos legislativos de 1947 a 1963, foi Senador da República , em 1964. De 1967 a 1971 foi Deputado Federal. Exerceu vários cargos de coordenação administrativa no Ceará. Mas apesar de suas inúmeras atribuições, nunca se desligou de Lavras da Mangabeira, sua terra amada e seu maior reduto eleitoral. Como jornalista escreveu vários trabalhos publicados como “Controle da Administração Municipal”, “Questões de Direito Público”, “Mandado Político Usurpado”, “ Evolução de Rendas Municipais”, entre outras.

 
Senador da Republica Vicente Augusto Ferrer Lima.
Em 1947, foi a vez do Dr. Gustavo Augusto Lima ser eleito prefeito de Lavras da Mangabeira. De 1951 a 1955, o poder passou, novamente, às mãos de Raimundo Augusto Lima. Em 1958, Raimundo Augusto foi eleito, mais uma vez, ficando no poder até 1963. De 1963 a 1967 foi prefeito de Lavras Dr.Aloysio Teixeira Férrer, sobrinho de Cira Férrer Augusto Lima. A derrocada da velha oligarquia dos Augustos teve início em 15 de novembro de 1970, quando foi eleito para o biênio 1971-1973, pela ARENA 1, Wilson Sá, para prefeito de Lavras, derrotando seu adversário Gustavo Augusto Lima. Raimundo Augusto Lima foi, indubitavelmente, um dos mais importantes coronéis do sertão nordestino, no século XX. Após uma vida cheia de privilégios, prestígio e fartura e muito sofrimento em prol da política, faleceu Raimundo Augusto Lima, em Lavras da Mangabeira, no dia 3 de julho de 1971. Deixou o exemplo de muito amor à sua terra e um traço de muita aflição e de sofrimento a toda a sua família, tudo encarado, pelo grande patriarca, como um destino e um desafio a vencer. Maria Glaudia Ferrer Mamede.

3 comentários:

  1. Lavras de Mangabeira teve o cuidado de escrever a memoria e a historias de suas personalidades. Varzea-Alegre nem tanto. Esta postagem tem um proposito: Que algum historiador de Varzea-Alegre consiga fazer esse mesmo roteiro, com fotos e historia dos descendentes do Major Joaquim Alves, irmão do Major Ildefonso. Posso assegurar que a familia não foi menos importante nem economicamente nem politicamente. Pelo menos até este momento não encontramos nada, absolutamente nada de informações nas paginas da internet. Ainda é tempo.

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  2. assino embaixo hoje o blog caprichou, ta aí uma coisa que eu gosto essa biografias eu tenho parabéns morais por ter colocado essa postagem a maioria não é de varzea alegre não mais as suas raizes estão fecundada no nosso torrão amado eles são frutos de nossa terra

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  3. Prezado Israel.
    A sequencia seria esta: Major Joaquim Alves Bezerra, Maria Clara Bezerra, Coronel Antonio Correia Lima, Coronel Jose Correia Lima, Joaquim de Figueiredo Correia, Hamiltom Correia Lima, Jose de Figueiredo Correia, Adelgides Correia, Otacilio Correia. Onde encontrar a historia escrita e as fotos destas personalidades. Quando se perde a historia, perde-se tambem o personagem.

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