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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 15 de agosto de 2010

POEMA A QUATRO MÃOS _ Por Raimundo Morais e José Hélder França

O Brasil está mudado
A lei anda com preguiça
Já matam índio queimado
Desafiando a justiça.
Um crime sem precedente,
Contra o primeiro vivente
Desse país desigual.
É a fera brasileira,
Matando por brincadeira
Nesse Brasil sem moral.

A polícia sem comando
Perseguindo o cidadão
Agredindo e torturando
Na cruel humilhação.
Quem ganha pra proteger,
Fazendo o homem sofrer
Sem direito de defesa.
É a violência de graça,
Nesse país da desgraça
Onde tudo é incerteza.

O sem-terra perturbado
A procura de um lugar
E os homens do senado
Vivendo de passear.
No lugar de assentamento,
Só tem morte e sofrimento
Neste país tropical.
Onde a ordem se arrebenta,
Nas mãos de quem já enfrenta
O sofrimento rural.

Cirurgia da visão
Já custa os olhos da cara,
O pobre sem um tostão
Não pode pagar a tara.
Termina cego de guia,
De bengala e de bacia
Apelando para a sorte,
De ganhar na federal.
Porque até funeral
Tá por a hora da morte.

O nordestino sofrido
Sem ter uma proteção,
Se encontra muito sentido
Perdendo Frei Damião.
Um Frade mais que humano,
Que tinha seu santo plano
De benzer este Nordeste.
Foi pro céu sem avisar,
Deixou seu povo a chorar
A falta do grande mestre.

Eu pedi a Hélder França
Pra concluir o poema.
Pois ele tem segurança
Pra rimar bem esse tema.
É poeta do sertão,
Conheceu Frei Damião
Que crismou os filhos seus.
É também religioso,
Social e caridoso
E tem muita fé em Deus.

Raimundo Morais.


Nosso país não tem dono
Está vaga a presidência,
Vivemos no abandono
Moramos com a violência.
Aqui não se reza mais,
Sinal da cruz não se faz
E isso eu muito critico.
Tudo aqui está errado,
Matar um índio queimado
É brincadeira de rico.

É triste se ter notícia
Da mais cruel propaganda,
Que é a própria polícia
Que muito assalto comanda.
Acabou-se a esperança,
Não se tem mais segurança
De fato está tudo errado.
Polícia sem condição,
Pois muita vez o ladrão.
É um sargento ou soldado.

Aquele que pede terra
Porquê vê a coisa feia,
Vive num clima de guerra
E termina na cadeia.
Não tem mais reforma agrária,
E a lei vil e arbitrária
A todo processo emperra.
O pequeno agricultor,
Sempre foi um sofredor
Sem lar, sem pão e sem terra.

Só quem protege a pobreza
Só quem lhe dá atenção,
É a força com firmeza
Do Santo Frei Damião.
Frade, santo e milagroso,
Muito humilde e caridoso
Da pobreza a salvação.
Com amor a todos consola,
Estudou na mesma escola
Do Padre “ Ciço Romão”.

Deus precisou reforçar
Dos seus Santos o plantel,
Por isso mandou buscar
Frei Damião lá pro céu.
Era pesado o serviço,
Préstado por Padre Ciço
Ao nordestino carente.
E lá com Frei Damião,
O Padre Ciço Romão
Atende melhor a gente.

Nós aqui muito crescemos
Com a morte do capuchinho
Dois santos agora temos
Damião e meu Padrinho.
Frei Damião fez o teste,
Pra ser Santo do Nordeste
E recebeu o laurel.
Frei Damião o divino,
Mais um santo nordestino
Que nós temos lá no Céu.

José Hélder França
07-06-97

Um comentário:

  1. Os dois poetas se juntaram para falar a verdade. A verdade foi dita, embora muita gente não aceite e não veja.

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