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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

379 - Preciosidades antigas de Várzea-Alegre - Por Antônio Morais.



A fonte desse causo foi Antônio Ulísses Costa, que já subiu para o andar superior. Pancho era um moreno que morava com Antônio Primo no sítio Baixio.

Um moço muito trabalhador, só perdia uma hora de trabalho se fosse para acompanhar um enterro. Não perdia um, acompanhou até o enterro da gata de Zelim.

Certo dia Pancho sacudia arroz, quando avistou dois homens com uma rede num pau, vindo das bandas do sítio Quechado. Pancho entrou imediatamente, trocou de roupa sem nem tomar banho e acompanhou o funeral.

Chegou para um dos condutores e pediu o lugar para ajudar. O homem aliviado do peso tirou uma garrafa de cachaça do bornal e foi tomando uma bicada de vez em quando. Pancho sentindo o peso, a quentura e o pelo do arroz misturado com o suó , pensava: - Ou defunto pesado da gota! – Ou enterro mal acompanhado.

E o silêncio dos três era total. Com três quilômetros de viajem o homem que bebia passou a cachaça para o outro e pegou o lugar dele. Chegaram em Várzea Alegre e não pararam no cemitério. Pancho estranhou mas pensou que fosse para casa de algum parente para ser velado.

Desceram na antiga rua do Juazeiro e quando chegaram na casa do mestre João Alves, o condutor da frente arreou o pau e Pancho fez a mesma coisa com muito cuidado. Para romper o silêncio, Pancho falou: Ome eu acompanhei esse interro derna o Baxi e inté agora num sei quem foi qui morreu.

Ainda qui má pregunte, quem é o finado? Um dos condutores respondeu: Né finado não Pancho! Isso é a máquina de custura de seu Leandro que deu o prego e nóis truvemo pra rua prumode meste João Alve ajeitar.




3 comentários:

  1. Se existe algo que fascina são esses causos de nossa terra. Que má pregunte, nois truvemo etc, quanto tempo voce não ouvia estes termos. Muito boa Mundim.
    Abraços.

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  2. De fato, é um causo deverasmente divertido. E o bom é que nos faz lembrar de tipos feito Pancho, um personagem tão tipicamente sertanejo, interiorano, tão tipicamente nosso.

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  3. Obrigado pela menção ao meu pai -João Alves de Almeida - e,ao meu grande amigo Antonio Preto,o nosso saudoso Pancho!

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