Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 23 de outubro de 2010

O CASSACO ONTÕE FRIMINO - por Mundim do Vale

Quando é seca no nordeste
É mais pio qui feitiço
Pruquê o Cabra da Peste
Vai pra frente de seiviço.
Mealembro cuma vortei,
Quando na frente cheguei
Pru mode me alista.
O qui o feitô inzigiu,
Num tem ome no Brasil
Qui consiga arranjá.

Fui falá cum o feitô
Ele nem oiô pra mim,
Cum a voz de ditadô
Foi logo dizendo assim:
- Não ache que sou ridículo
Mas me traga o seu currículo
Para poder se alistar.
O anel de formatura,
Diploma de arquitetura,
Você tem que apresentar.

Traga uma folha corrida
Do poder judiciário,
Um atestado de vida
Com o visto do vigário.
Carteira de identidade,
Canudo da faculdade
E o anel de doutor.
Depois vá no C.P.D.
Para provar que você
Conhece o computador.

Traga do sul ou do norte
Sua naturalidade,
Quero vê seu passaporte
Se ainda tem validade.
Não esqueça de trazer,
Depois que reconhecer
A firma do batistério.
Traga o óbito carimbado,
De quando foi enterrado
Seu avô no cemitério.

Traga do seu nascimento
Comprovante de batismo,
Certidão de casamento
E o curso do catecismo.
Para fazer seu fichário,
Preciso do formulário
Do seu imposto de renda.
Para saber se é honesto,
Se não tem nenhum protesto
Pendurado na fazenda.

Também quero de você
Documentação total,
Da carta de A.B.C.
Até o segundo grau.
Coloque também na lista,
Carteira de reservista
Do serviço militar.
O título de eleitor,
Carteira de doador
Que eu preciso arquivar.

Foi quando eu dixe: - Dotô!
Tô aqui mode iscapá,
Sou ome trabaiadô
Num gosto de cunvesá.
Eu nunca qui fui casado,
Sempre fui amansebado
E nunca fui aiquiteto.
Mais sou um cassaco forte,
Nun cunhêço passaporte
Pruquê sou anafabeto.

Eu intendo de fazenda
Pruquê tem lá na rebêra,
Mais só intendo de renda
Qui fais a muié rendêra.
Vosmicê pede um ané,
Uma ruma de papé
E nem fala na inxada.
Lá im nóis é deferente,
O trabái é no sol quente
Sem cunhecê papelada.

Vosmicê me pede carta
Mais eu num sei iscrevê,
Do sabe eu sinto farta
Pois num aprindí a lê.
Meu tito de inleitô,
Um candidato tomô
Pruquê num sube votá.
Eessa tá de reservista,
É mió tira da lista
Qui eu num sô militá.

Num cunhêço C.P.D.
Nem tombém cumputadô,
Mais eu juro a vosmicê
Qui sou um trabaiadô.
Meu nome é Ontõe Frimino,
Derna o tempo de minino
E nunca qui dei cavaco.
Mais vortando pru assunto,
Eu agora lhe pregunto
Dá prumode eu sê cassaco?

Mundim do Vale.

Um comentário:

  1. Mundim.

    Antonio de Firmino era compadre do meu pai, eram iguais numa coisa: falavam alto. Voltava da feira semanal sempre cheio da teimosa e curtia um pouco lá em casa antes de subir para o Canto onde morava

    ResponderExcluir