Dia desses fiz uma longa viagem a certo país europeu, onde conheci várias cidades, destacando-se uma que era considerada a cidade dos inventores. Ali se inventava de tudo, e vi muitos instrumentos, equipamentos e objetos pitorescos, impressionantes e às vezes até inúteis para o nosso tempo, mas, os inventores sempre demonstravam a sua utilidade e necessidade, hoje ou no futuro.
O que me impressionou foi mesmo um inventor isolado dos demais, que o chamavam de “Inventor Maluco”, pois ele dizia a todos que construíra maquinas do viajar no tempo, podendo ir ao passado e ao futuro e conhecia vários lugares do planeta. A população ria dele, mas ninguém desejara testar seus inventos.
Não davam crédito as suas histórias mirabolantes. Então como eu estava distante da minha terra, a passeio com muito tempo para contemporizar, resolvi visitar o Inventor Maluco para tirar minhas próprias conclusões.
Disseram até que ele falava muitas línguas esquisitas, inclusive o português, um tanto confuso, mas dava para entender. Fui lá e o abordei, e para inicio de conversa perguntei: O Senhor conhece o Brasil?
- Barasil – Sanharol! – respondeu ele. E continuando disse:
- Sim já fui lá para conhecer Sanharol!
Ah, o Senhor fala da abelha sanharol que existe lá em nossos sertões não é?
- Non senhor, eu falar da cidade Sanharol. Ai todo orgulhoso foi à sua maquina virtual e me mostrou uma foto, dizendo: - Aqui cidade Sanharol, Já tive lá!
Fiquei inacreditavelmente surpreso, pois a foto era a da abertura do Blog do Sanharol e lhe perguntei em que ano o senhor esteve lá?
Em 2.110, respondeu ele com ar engraçado!
O quêêê, então o senhor foi ao século XXII e tirou esta foto?
- Non, non, e non, disse ele, esta foto; copiei do meu rastreador virtual, e por causa dela é que viajei até lá. Inseri instruções na minha máquina para ela localizar prédio da foto daqui a cem anos.
Ah, entendo, e entre incrédulo e sarcástico falei: - O senhor viajou cem anos à frente e estacionou no Brasil, na cidade de Várzea Alegre. Arrisquei: - Olhe: daqui a cem anos aquele lugar não existirá mais, essa casa terá sido substituída por grandes e majestosas construções e a cidade será bem diferente, as ruas não serão as mesmas, os veículos talvez não tenham mais rodas, simplesmente flutuarão sobre as pistas das grandes avenidas.
Então ele riu e disse: - Tudo mais ou meno conforme você falar, mas, casa continuar lá, rodeada por toda a modernidade do amanhã. Ela ser tombada por um tal de Patrimônio Histórico. Ela ser espécie de Museu Virtual onde toda história da cidade ser guardada e você poder ver todo o passado de cidade Sanharol.
Retruquei: - O Senhor quer dizer: de Várzea Alegre, não é? Ai ele se aborreceu e quase gritou comigo:
– Já falei: cidade de Sanharol – Barasil, tá aqui ó! O mundo todo conhecer. Então ele abriu novamente a sua maquina virtual e orgulhoso me mostrou:
- Ver aqui, nome na foto: Tá escrito “Blog do Sanharol”, logo Sanharol ser cidade do Barasil e aqui dizer que ela ser fundada pelo ilustre Senhor A. Morais, que ter muitos conselheiros encarregados de contar história de cidade e de sua gente, e haver um que ser o seu braço direito, e mais trabalha para tornar a cidade conhecida em todo o mundo. Seu nome ser Mundim do Vale, e ele ter costume estranho de usar papel enrolado na boca, às vezes até ter brasa na ponta do papel que ir se consumindo.
Continuando ele disse: - A cidade é tão importante que ter conselheiro instalado muito distante de lá, em lugares chamados São Paulo, Recife, Sâo Bernardo do Campo, Crato, Fortaleza, João Pessoa, Paraná e muitos outros. E bote importante nisso, pois, ter conselheiro até no país Portugal.
Conselheiros destacar muito, contrastes de Sanharol. Tudo lá ser contraditório, veja: Ter uma chaminé dentro de um açude; A cadeia ser na rua da liberdade e o peru ser o delegado, o Juiz ser uma mulher e o padre ser casado. Ora, nós saber que no Barasil padre num casar, então; grande contraste!
Resolvi não questionar mais, pois sabia que ele estava realmente falando de Várzea Alegre, no Ceará.
Para encerrar o assunto, comentei: - Muito bem, o senhor conheceu Várzea Alegre através de um comunicador virtual chamado “Blog do Sanharol”, mas, no século XXII ele já na existirá mais.
- Ele riu muito e disse: - Você dizer ser do Barasil e não saber de nada. Sanharol ainda existir no século XXII. O seu administrador fazer trabalho histórico honroso, criar tantos amigos, que mesmo depois ter deixado terra, ter sucessores que dar continuidade a história de cidade Sanharol. E rematou: Você querer ver com seus próprios olhos como dizer lá?
Ai caro leitor, tremi na base. Fui convidado a viajar com um maluco para o futuro, mexi com os brios dele e ele queria provar que não estava mentindo. A tentação era grande. Não sei se vou, não sei se fico. Decidi: Vou!
Entramos em seu laboratório, onde havia duas máquinas cheias de leds e botões. Dentro de uma havia dois assentos e nenhum pedal nem direção. Na outra, quando se olhava para a cabine, dava a impressão de ser um corredor. Então me dirigi para aquela que possuía dois assentos e ele me puxou e disse:
- Non, nessa máquina ai non chegar lá! Ela valer para todos os lugares menos para cidade Sanharol. Nós ir viajar nesta, e apontou a que dava a impressão de ser um corredor. Perguntei: por que ai? E ele respondeu:
- Ora, Sanharol, terra de contraste, então, só chegar lá através de Túnel do Tempo.
Fiquei arrepiado e perplexo com a sua lógica. Quem vai discutir com um maluco não é?
Muito bem, entramos no Tunel do Tempo, e feito o sincronismo da viagem, mal iniciamos e já chegamos ao século XXII, exatamente no ano 2.110, num piscar de olhos, não deu nem tempo de falar: Ôxente?
De princípio, constatei serem verdadeiras as afirmativas que o Inventor Maluco havia feito sobre Várzea Alegre.
Lá chegando, fomos direto à casa que representava a abertura do blog do Sanharol. Estava muito mais bonita e conservada. A fachada foi mantida como antes, mas seu espaço interior foi totalmente modificado. Fizeram uma grande construção na sua parte traseira, ampliando horizontalmente em centenas de metros, para a instalação dos equipamentos virtuais do Museu.
Constatei que o movimento no Museu era intenso. Havia gente de vários lugares, abrindo, consultando e fechado arquivos virtuais. Vi como em uma tela de cinema, toda a história do Blog do Sanharol e de Várzea Alegre se desenrolando em uma velocidade incrível, mas perceptível a compreensão. As cenas penetravam em meu consciente com todas as informações necessárias. Fiquei curioso ao perceber que eu não estava lendo, simplesmente captava as informações mentalmente. Era fascinante! Vi a data de fundação do Blog e A. Morais enviando ao mundo a sua primeira mensagem às 18:06hs do dia 21 de Janeiro de 2009, intitulada: “Bem Vindos ao Blog do Sanharol”. Vi a segunda postagem datada de 22/01/2009 às 05:54hs sob o título “Sanharol”, feita por A. Morais e onde ele traçava o perfil e a finalidade do blog. O primeiro colaborador a fazer uma postagem foi o Dr. Sávio Pinheiro, sob o título “O Vigário de todos os tempos”, no dia 22/01/2009 às 07:02hs.
Vi uma imensa exposição cronológica sobre A. Morais, o seu fundador e primeiro administrador, incluindo-se ai, seus sucessores e os sucessores de seus sucessores. Vi milhares de colaboradores e suas histórias. Vi as histórias se sucedendo, contadas pelos netos, bisnetos, tetranetos e amigos daqueles que colaboraram no Blog do Sanharol. Era uma loucura, estava tudo ali e eu podia captar as informações num piscar de olhos. Não sei que tipo de tecnologia usavam!
Lá descobri que quem o Inventor Maluco chamava de conselheiro, eram os colaboradores do Blog, e seus nomes estavam todos naquele arquivo, imortalizados. Ao lado do nome de cada colaborador havia um histórico de suas atividades profissionais e muitos se destacaram pelo desempenho honroso na profissão que abraçaram.
Várzea Alegre havia mudado. A tecnologia dominava todos os setores, via-se do alto, construções imensas. Rodovias eram coisas do passado, foram substituídas pelas aerovias com uns trinta metros de largura, tudo para permitir o trânsito que se escoava em belos aero-veículos que flutuavam no seu leito, obedecendo rigorosamente as normas de segurança. Os aero-veículos utilizavam energia solar ou aeólica. O ar era puro. Tudo era diferente. Petróleo como combustível era coisa do passado, utilizavam-no por alguns minutos apenas, para demonstrar a funcionalidade de veículos antigos que, diziam eles: rastejavam pelo chão.
Daí imaginei como seria o restante do Brasil, que o Inventor Maluco, insistia em chamar de Barasil.
Várzea Alegre, graças ao Blog do Sanharol, ficou eternizada e mundialmente conhecida, e o volume de pessoas que vinham visitá-la, obrigatoriamente passavam pelo Museu Virtual para conhecer a história do Blog e da cidade. Até criaram um ditado que dizia: Ir a Várzea Alegre e não ir ao Museu Virtual é o mesmo que ir a Nova York e não ver a Estátua da liberdade.
Triste detalhe: O banco de dados não tinha fim, mas, havia um tempo estabelecido para o regresso e precisávamos voltar ou ficaríamos presos no futuro. Perdi assim a chance de visitar São Raimundo, o Vale do Machado e tantos outros lugares tão decantados nos anais da história da cidade.
Manifestei o desejo de copiar algumas informações e tirar fotos para mostrar ao leitor, mas o Inventor Maluco adiantou que era impossível, pois lá estávamos invisíveis aos olhos materiais, e não podíamos trazer para o passado, documentos ou fotos de fatos privativos do futuro, pois isto poderia desencadear uma catástrofe temporal, criando um paradoxo, cujo resultado poderia provocar uma reação em cadeia, desembaraçando a estrutura de contínuo de tempo e espaço, gerando o caos no passado e desconstruindo o futuro. - Fiquei pasmo! Não entendi nada do que ele falou, mas também não questionei. Percebi que ele não era tão maluco assim como todos supunham. Era apenas um excêntrico, com muitas informações a transmitir, mas o mundo ainda não estava preparado.
Ao regressar da minha fantástica viagem, despedi-me do Inventor Maluco e agradeci pelo maravilhoso passeio, prometendo a mim mesmo que qualquer dia voltaria lá para mais uma viagem ao futuro.
Escrito por Vicente Almeida