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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

SÓ QUANDO O SARGENTO GARCIA PRENDER O ZORRO- Por Mundim do Vale

José Paulino dos Santos ( Zé Mouco ) Excelente carpinteiro, era viciado nos filmes do Cine Odeon. Fossem de Cowboy, de Tarzan, de Zorro e de tudo que fosse exibido, chegava a assistir duas ou três vezes o mesmo filme. Quando via a imagem do mar dizia:
- Esse negoço de mar, num inziste não. Isso é truque de cinema.
Vicento Moreno dizia:
- O mar existe. Se você for a Fortaleza vai vê.
- Pois eu só acredito se pegar.
Para tirar suas dúvidas Zé Mouco foi até o Cedro e pegou o trem para Fortaleza. Quando passava em Maracanaú, um sujeito jogou uma manga coité bem na cara de Zé que estava na cadeira da janela. Com a pancada e o suco derramado, ele queria, porque queria que o condutor do trem retornasse para o Cedro. Como não conseguiu seu intento, o jeito quer teve foi ir até Fortaleza, onde chegou por volta da meia noite na estação central. Na chegada tratou logo de comprar a passagem de volta, para sair na madrugada seguinte.
Tomaz Aquino que era amigo de Zé, estava planejando uma viajem a Fortaleza, para visitar sua irmã, e convidou o amigo para o passeio.
Zé rejeitou o convite dizendo:
- Eu num vou não, que naquela viajem de trem um cabra quase me lasca com uma manga.
- Mas nós vamos é no misto de Zé Odmar.
- Apois sendo assim nós ramo.
A viajem foi marcada para quinze dias depois e Zé Mouco encomendou logo um terno a mestre Vicente Salviano e um par de sapatos a Zé Faustino.
Passaram dois dias e meio na viajem. Chegando em Fortaleza, desceram no Atapu e seguiram para a Travessa Guanabara no bairro São João de Tauape, onde morava o casal Zé Feitosa e Benedita Aquino, irmã de Tomaz.
Depois de um banho e o jantar, Zé começou a tratar a anfitriã por Dona Maria.
Benedita disse:
- Seu José. Meu nome é Benedita!
- Eu sei. Mais eu acho mior chamar de Dona Maria, pruque Binidita é nome de nêga.
Na manhã seguinte foram passear na Praça do Ferreira e Tomaz disse:
- Olhe Zé se você se perder, lembre-se que eu estou com essa camisa vermelha.
Tomaram uma abacatada no Pedão e saíram passeando na praça.
Tomaz começou a olhar umas roupas na loja Milano e Zé foi olhar os cartazes do Cine São Luís. De repente Zé perdeu-se de Tomaz e começou a procurar o rapaz da camisa vermelha, olhou em direção da loja Quatro e Quatrocentos e viu uma pessoa com camisa vermelha. Partiu em direção do moço que andava muito rápido e ele com o sapato apertando quase não alcança. Quando alcançou foi que viu que não era o Tomaz. Ai o bicho pegou. Ainda bem que os dois raciocinaram do mesmo jeito, procurar onde tinham estado por último. E foi assim que houve o encontro.
No dia seguinte foram para a praia de Iracema. Quando avistaram o mar Tomaz apontou e disse:
Olhe o mar ali. Você acredita agora.
- Não só acredito se pegar.
Desceram até a água, Tomaz ficou na areia e o convidado entrou um pouco na água como se estivesse entrando num açude. Pegou um pouco de água na mão, botou na boca virou-se para Tomaz e fez uma careta. Nesse momento quebrou uma onda daquelas mais altas e jogou o convidado de Tomaz na areia.
Depois do susto Tomaz perguntou:
- E aí Zé. O mar existe ou não existe?
- Inziste e é salgado e brabo Cuma a gôta serena, ele me deu até uma sabugada na areia.
Quando retornaram a Várzea Alegre, Zé Mouco comentava os infortúnios das duas viagens, quando seu amigo Secundo perguntou:
- Me diga uma coisa Zé. Quando é que você vai vê o mar Novamente?
- Só quando o sargento Garcia prender o Zorro!
Causo dedicado a educadora Luzenir Aquino

3 comentários:

  1. Em Mundim, ia demorar. Mais uma excelente historia.

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  2. Mudim,você tem uma memória genial, és um arquivo de grande valor pra nós filhos de V.Alegre.Deus te proteja sempre.Um abraço.

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  3. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Raimundim, por mais triste que esteja, cheia de muita saudade, ao ler seus causos, me encho de alegria e dou grandes gargalhadas e a tristeza vai simbora por momentos.... Brigada por me proporcionar tamanha alegria e parabéns pela sua capacidade de escrever tão bem com tanto humor e tanta simplicidade.
    Beijos cá do outro lado do Atlântico.

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