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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Programa COMPOSITORES DO BRASIL - Rádio Educadora do Cariri


HERIVELTO MARTINS

Por Zé Nilton

Para Stela Brito


O excelente Célio Silva, o mais perfeito imitador de Francisco Alves nestes cariris, e dizem até que o superava em graves, agudos e na maviosidade da voz, teve um filho chamado Geraldo. Voz de soronidade perfeita. Fossem baixos, agudos, sopranos, contraltos. Em todas as tonalidades ele chegava à música. O garoto também tinha um jeitão arredio, humor de altos e baixos, nunca era do mesmo jeito da cambada de meninos que fazia parte dos músicos fundadores dos primeiros projetos de Pe. Ágio, recém saído do Seminário S. José, em 1962, para criar um núcleo religioso-musical na comunidade da Vila Santa Terezinha, no caminho do Lameiro.

No seu livro, “Um sonho Realizado”, o sacerdote narra um episódio de possessão em que o personagem principal seria o nosso inocente Geraldo. Interessante a narrativa do Padre.

Lembro-me demais do primo Geraldo cantando “Ave Maria no Morro”, fazendo a primeira voz em uma dupla fantástica. Afinadíssimo. Nunca me esqueço da sua voz que sumiu para sempre. Foi com ele pra bem longe desse Brasil.

Caros amigos sei que não vem ao caso, mas deixem me revelar umas lembranças.

Ficava morto de vergonha quando o mons. Pedro Rocha, que todo o ano oferecia um concerto de natal para a comunidade do Hospital São Francisco de Assis, anunciava, erguendo a mão para cima do estreito palco:

- E vamos nos deleitar neste momento, ouvindo a Orquestra do Pe. Ágio! A cortina se abria. Um pequeno conjunto de músicos aparecia, sob a batuta do velho mestre, que também tocava flauta ou acordeom.

O amado Monsenhor não se esquecia dos tempos em que Pe. Ágio criou, manteve elevou a musicalidade caririense com a Orquestra de Música do Seminário S. José, chegando a uma composição de 53 músicos. E ali, às vezes um quarteto, um quinteto, um sexteto estava sempre presentes no natal do Hospital.

Não esqueço de uma vez, em 1966. Num show de natal no Hospital foi anunciada a próxima sequencia:

- Vamos ouvir, bradou o feliz Monsenhor, embandeirando o seu inseparável lenço, com a “orquestra do Pe. Ágio”, (pra nós era o Sexteto Villa-Lobos), a música “ Olê, Olá”! Aplausos gerais. A platéia esperava a bela música de Chico Buarque, que tocava todos os dias nas rádios. Eu gelei, pois já andava me enxerindo pras músicas de Chico. Não era. Acompanhamos a dupla de ouro Geraldo/Heládio na famosa toada de um músico paulista que dizia:

“Olá, olê, deixa o meu pinho gemer
Olê, olá, deixa o pinho soluçar”...

O nome de Herivelto Martins está comigo desde há muito. Fiquei maravilhado quando João Gilberto gravou Izaura, com Miúcha, no seu disco capa branca, produzido no México, recebido de presente de uma grande paixão, lá no meu Rio de outrora.

As histórias desse mestre da Música Popular Brasileira estão por aí nas blogesferas. Sua trajetória amorosa, agonística e musical pode ser lida. Um excelente compositor, dono de uma versatilidade no infindável universo da sonoridade, com mais de 500 músicas gravadas. Graças ao milagre da parafernália tecnológica elas nos chegam até hoje através de gravações e regravações, que por certo farão presenças ad seculam, seculorum, enquanto espaço houver para a música que nossos e os futuros ouvidos hão de captar.

Herivelto Martins. Parte de sua história e discografia será apresentada e comentada no Programa Compositores do Brasil, desta quinta-feira, na Rádio Educadora do Cariri, a partir das 14 horas.

Na sequencia:

DOIS CORAÇÕES, de Herivelto Martins e Waldemar Gomes com Dalva De Oliveira e Francisco Alves
CAMISOLA DO DIA, de Herivelto Martins e David Nasser com Maria Betânia
MAIS UMA LÁGRIMA, de Herivelto Martins, com o Trio De Ouro
TEU ERRO, de Herivelto Martians com Nelson Gonçalves
SEGREDO, de Herivelto Martins e Marino Pinto, com Dalva De Oliveira e Pery Ribeiro
PENSANDO EM TI, de Herivelto Martins e David Nasser com Edith Veiga
NEGRO TELEFONE, de Herivelto Martins e David Nasser com Pery Ribeiro
ATIRASTE UMA PEDRA, de Herivelto Martins e David Nasser, com Ney Matogrosso
NEGA MANHOSA, de Herivelto Martins com Zeca Pagodinho
CABELOS BRANCOS, de Herivelto Martins e Marino Pinto com Oswaldo Montenegro
AVE MARIA NO MORRO, de Herivelto Martins, com Helena de Lima
ISAURA, de Herivelton Martins e Roberto Roberti, com João Gilberto e Miúcha

Quem ouvir verá!

Programa: Compositores do Brasil
Rádio Educadora do Cariri (www.radioeducaroradocariri.com)
Telefone: (88)3523-2705
Todas as quintas de 14 as 15 horas
Pesquisa, produção e apresentação de Zé Nilton
Operador high tech: Iderval Dias
Direção Geral: Dr. Geraldo Correia Braga






5 comentários:

  1. Ave maria no Morro.

    Esta ouvi muito com o Eduardo Araujo na epoca do Campos Junior. Radio Educadora.

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  2. Cabelos Brancos Herivelto Martins
    Não falem desta mulher perto de mim!

    Não falem pra não lembrar minha dor!

    Já fui moço, já gozei a mocidade

    Se me lembro dela me dá saudade

    Por ela, vivo aos trancos e barrancos

    Respeite ao menos meus cabelos brancos

    Ninguém viveu a vida que eu vivi

    Ninguém sofreu na vida o que eu sofri

    As lágrimas sentidas,

    os meus sorrisos francos

    Refletem-se hoje em dia

    nos meus cabelos brancos

    E agora, em homenagem ao meu fim

    Não falem desta mulher perto de mim

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  3. Zé Nilton,

    Acompanho desde sempre seus trabalhos apresentados nos blogs. São muito inspirados e inspiradores...

    Parabéns mais esta vez pela escolha do tema.

    C'est fantastique!

    Abraço,

    Claude

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  4. Eita Zé Nilton, tu tá em tudo quanto é blog caririense, hein!
    Assunto bom é bom pra se espalhar mesmo. E com a tua competência, melhor ainda

    E eu continuo paba com tua dedicatória.
    Sabe que eu nunca esqueci essa história de pabulagem, até minhas minhas amigas daqui que não conheciam o termo gostaram e passaram a usá-lo.
    E aí eu fiquei mais paba, kkkkkkk.
    "pabulage morou nas lage, fulorô e num botou bage". Conhece essa?

    Sim, faltou falar do compositor do dia, Herivelto Martins, muito bom, cada música que vixe maria, só mesmo com umas cervejinhas, hein!
    (risssosssssss)
    xeros
    stela

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