Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A MÁXIMA DE DONA LAURA - Por Poliana Lima de Almeida


UMA LIÇÃO DE VIDA

Nas minhas andanças, acredito ter contribuído um pouco para amenizar a dor e sofrimento de pessoas abandonados por suas famílias em asilos, e até a sua própria sorte. Sempre cultivei este hábito, a partir do Crato onde nasci e vivi meus primeiros 23 anos.

Quando cursava Enfermagem, em uma dos meus trabalhos voluntários ao asilo VIVÊNCIA FELIZ no Jabaquara aqui em São Paulo, conheci uma senhora miudinha de nome “LAURA”!! Esta pequena senhora era um grande ser humano! Mal se podia imaginar que por trás daquela figurinha comum se encontrava uma poliglota, conhecedora de vinhos, roupas e comidas refinadas. Ao longo dos seus 90 anos, já havia percorrido toda a Europa e adquirido um vasto conhecimento de costumes e hábitos tão longínquos das nossas terras.

Esta senhora pequenina, de fino trato visível, e a quem desejo homenagear, faria 98 anos de idade dia 20/01/2011. Ela me ensinou muitas lições, mas uma especificamente desejo compartilhar com todos vocês:

Depois que nos tornamos amigas fieis, decidi perguntar por que ela nunca procurou os filhos após de ter sido enganada e abandonada no asilo, porque nunca foi à justiça para reaver o que lhe pertencia.

Ela sorriu-me e disse: quando eu morava na minha casa, cercada de luxo e conforto, sempre fazia todas as minhas refeições sozinha, a maior parte dos meus amigos moravam fora do Brasil ou já haviam falecido. Aqui no vivencia passei a ter amigos, fazer refeições sempre em grupo e jogar um pouco de trunco para me distrair, sem falar que tem bingo beneficente a cada 15 dias!!!.

Então, enquanto eu olhava com admiração as fotos de toda a sua glamorosa vida, perguntei: mas e toda a sua fortuna D. Laura!!??

Ainda sorrindo ela respondeu: Para que serviria na minha idade, tantos bens se eu não tinha mais com quem compartilhar!? Seu esposo já havia falecido a 5 anos. O tempo, com o tempo, vai mostrando para nós que a riqueza, bens materiais e luxo em excesso na realidade, só servem para atrair interesseiros e oportunistas. Eu já estava cansada disso!

Na verdade, meus filhos me salvaram e nem perceberam.

Ousei mais uma pergunta: E a Senhora Nem ao menos desconfiou do que estava para acontecer quando eles a fizeram assinar aqueles documentos?

Ela me olhou fixamente enquanto segurava as minhas mãos e disse: guarde o que vou lhe falar para o resto da sua vida: “É MAIS VERGONHOSO DESCONFIAR DAQUELES QUE AMAMOS, DO QUE SERMOS TRAÍDOS POR ELES”. E eu amo demais meus filhos!!

Confesso que senti uma espada atravessando o meu peito ao ouvir isto, senti-me tão envergonhada de algumas atitudes minhas que chorei....

Estamos sempre tão preocupados em desconfiar das pessoas que nos cercam, que acabamos muitas vezes, por deixar de viver os pequenos momentos de felicidade que a vida nos oferece devido a tantas desconfianças.

Uau!! Jamais as palavras da D. Laura me abandonaram.

Depois desta lição, todas às vezes que começo a desconfiar da atitude de alguém para comigo, entra em cena essa maravilhosa MÁXIMA DA D. LAURA.

Felicidades D. Laura, minha inesquecível e querida amiga...


São Paulo, 19 de Janeiro de 2011
Poliana Lima de Almeida

5 comentários:

  1. É...

    Poliana:

    Minha filha:

    Somos (eu e tua mãe) conhecedores dos teus atos de amor para com o próximo.

    Sabemos também aqui, que você muitas vezes à noite, preparava caldeirões de sopa e ia alimentar os famintos e desabrigados habitantes dos viadutos ai de São Paulo.

    Ficávamos bastante assustados, mas aqui você já fazia isto. Tinhamos que deixar você seguir o seu rumo.

    Abraços do

    Papai Vicente Almeida

    ResponderExcluir
  2. “É MAIS VERGONHOSO DESCONFIAR DAQUELES QUE AMAMOS, DO QUE SERMOS TRAÍDOS POR ELES”.

    Pra refletir!

    A. Morais

    ResponderExcluir
  3. Pai, a minha maior riqueza é ter de sobra para doar o que muitos dizem não ter tempo: SOLIDARIEDADE... Jamais tive receio de adentrar no mundo dos desafortudados, pois sei que Deus sempre estará comigo. Uma vez fui abordada por 3 garotos no semáforo da Av Sta. Catarina (onde existe uma das maiores favelas de São Paulo), eles exigiram minha bolsa ou me "furariam", apontando uma faca para mim. Então enquanto eu me abaixava para pegar a bolsa no chão do carro, um deles disse: "Essa tia aí não MANO", ela leva roupa e comida pra gente na favela"!! Tentei olhar para ele que saiu em disparada sendo seguido pelos outros dois (SEM NADA ME LEVAR) Sorte minha! e deles também, pois eu não tinha nada de valor na bolsa.rss

    ResponderExcluir
  4. Poliana, tua solidariedade saltou aos olhos do garoto que resolveu desviar sua turma. Admiro tua coragem, parabéns!
    Fafá

    ResponderExcluir