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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Alguem viu a vergonha por aí? - Sandra Palsen.


Às vezes, tenho a impressão de que só eu vejo certas coisas. Ou será que estou inevitável e indiscutivelmente passada, velha, antiga?
Há algumas semanas, no carro com meu marido, ouvimos uma propaganda pelo rádio, estimulando pessoas casadas a procurar uma aventura para redescobrir a magia da vida. Rimos e achamos que era alguma gozação. Não entendemos direito.
Mas, esta semana, deparei-me com o seguinte anúncio nas paredes do metrô de Estocolmo: “Você é casado (a)? Faça sua vida mais viva – tenha um caso”.
Pensei outra vez que fosse uma brincadeira ou um novo golpe publicitário. Tirei uma foto e mandei a propaganda para meu marido, via celular.
Mas não se trata de uma brincadeira, não! É sério! Trata-se de um site na internet, só para pessoas casadas ou que tenham um parceiro. Oferece a possibilidade de marcar encontros secretos, totalmente anônimos e confidenciais, para aqueles que perderam a chama da paixão em suas relações e precisam dar uma “reanimadinha” na vida.
“Você sente falta de paixão?”; “Seus sonhos mais secretos podem tornar-se realidade!”; “Trabalhamos com rígidas regras éticas.”; “Perfis reais”; e “Prove VictoriaMilan grátis” são algumas das frases que podem ser lidas no site.
Hoje, por sorte, achei outra ‘antiquada’ como eu.
Em um artigo de opinião, publicado no Svenska Dagbladet, Helena Soto também critica o recém-inaugurado negócio especializado em adultério. Nossa! Que palavra mais antiga, pensei eu. Achei até que já não existia mais no dicionário. Mas não é isso mesmo?
Segundo o artigo, a empresa informa que apenas atende a uma demanda já existente. Casados e juntados têm casos, de qualquer jeito, não é mesmo? (!)
Helena Soto compara o serviço a outros negócios, como a venda de armas de guerra, a prostituição legalizada, produtos perigosos que se vendem sem maior informação aos consumidores, e assim por diante... E chama a atenção do “mundo capitalista liberal ocidental” sueco para a necessidade de um debate sobre ética e os valores morais que estão servindo de base às nossas sociedades ditas “modernas”.
Confesso que a propaganda me chocou, mas também me surpreendeu o artigo no jornal. E me agradou muito, sem dúvida. Pelo menos não ando por aí achando que sou a única louca, o único salmão que quer subir o rio contra a corrente.
Acontece que, com tanto atum por aí, nadando com o resto do cardume, nós, salmões, vamos terminar extintos. Pena que, para esse tipo de salmão, não parece haver aquicultura

Sandra Palsen.

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