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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 17 de março de 2011

EU, MINHA GENTE E MINHA TERRA - Por Mundim do Vale

Nos feriados do carnaval passado, eu estive com minha gente, na minha boa cidade de Várzea Alegre.
Hoje me falta espaço e inspiração para expressar a minha alegria e o reconhecimento, pelo tratamento prestado a mim e a minha convidada, a poetisa Claude Bloc.
Aquele cenário onde viví muitos anos e aqueles parentes e amigos, nos deram um tratamento,que deixou saudades e gratidão.
Eu não posso aqui agradecer citando todos os nomes, pela falta de espaço e para não correr o sério risco de omitir alguns. Mas de uma forma matuta como eu sou, agradeço em meu nome e no nome da poetisa Claude, toda aquela boa acolhida.
Filho daquela terra com muito orgulho, eu só posso pagar a minha dívida com aquela boa gente, mandando o poema " FILHO DA TERRA ", que vai logo abaixo dedicado a todos aqueles que proporcionaram a nossa alegria naqueles dias mominos.
Raimundinho Piau
A TERRA

Sou filho da terra, sou vento da serra,
Sou chá de raiz.
Sou ave voando, sou peixe nadando,
Sou gente feliz.

Sou chuva caindo, sou flores se abrindo,
Sou rama no chão.
Sou barro de telha, sou mel de abelha,
Sou pé de peão.

Sou rio correndo, sou planta nascendo,
Sou palha de milho.
Sou sol da manhã, sou flor de romã,
Sou pai e sou filho.

Sou mimo de rosa, sou dedo de prosa,
Sou som de chocalho.
Sou pó de urucum, sou quebra jejum,
Sou dente de alho.

Sou nó de imbúia, sou caco de cuia,
Sou gás e pavio.
Sou boca de noite, sou reio de açoite,
Sou braço de rio.

Sou crista de galo, sou dedo com calo,
Sou erva cidreira.
Sou fundo de saco, sou bolo de caco,
Sou teima na feira.

Sou pedra de anil, sou verde Brasil,
Sou olho de água.
Sou bicho do mato, sou unha de gato,
Sou gente sem mágoa.

Sou pau de cancela, sou cravo e canela,
Sou noite de lua.
Sou corda de arado, sou pau de machado,
Sou bico de pua.

Sou pau de bandeira, sou pé de ladeira,
Sou bicho de pé.
Sou feito na hora, sou gente que chora,
Sou homem de fé.

Sou pau de pereiro, sou pena e tinteiro,
Sou mata-borrão.
Sou forte no teste, sou brisa do leste,
Sou pau de tição.

Sou visgo de jaca, sou vira-casaca,
Sou queima de Juda.
Sou cheio de manha, sou teia de aranha,
Sou Deus nos acuda.

Sou gente pacata, sou véu de cascata,
Sou homem capaz.
Sou contra questão, sou bom cidadão,
Sou grito de paz.

Sou fera da mata, sou nó de gravata,
Sou calo na mão.
Sou água do mar, sou luz de luar,
Sou raio e trovão.

Sou bolsa de palha, sou pau de cangalha,
Sou galho de pau.
Sou bicho papão, sou sombra de oitão,
Sou velho babau.

Sou água de pote, sou remo de bote,
Sou verso em cordel.
Sou caldo de cana, sou pura caiana,
Sou favo de mel.

Sou bala trocada, sou fim da picada,
Sou beira de rio.
Sou casca de toco, sou água de coco,
Sou noite de frio.

Sou cinza de lenha, sou mato da brenha,
Sou galho com ninho.
Sou bem comportado, sou bom de recado,
Sou um bom vizinho.

Sou fruta madura, sou erva que cura,
Sou lã de algodão.
Sou pau de giral sou pedra de sal,
Sou mão de pilão.

Sou cerca de vara, sou pau de arara,
Sou manga no cacho.
Sou nó apertado, sou couro ensebado,
Sou fogo de facho.

Sou água vertente, sou sol do nascente,
Sou voz do nordeste.
Sou peixe piau, sou cobra coral,
Sou cabra da peste.
--------------------------------
Sou um cidadão feliz
Nascido aqui no sertão,
Tomando chá de raiz
Dançando xote e baião.
Tenho o cheiro da campina,
Da essência nordestina
Que Deus colocou na serra.
Sou um fruto do nordeste,
Que agradece o pai celeste
Por ser filho dessa terra.

Mundim do Vale
Várzea Alegre Ce.

5 comentários:

  1. Prezado Mundim.

    A hospitalidade de Varzea-Alegre está na alma de seu povo. No caso acima ninguem foi mais hospitaleiro do que você. Amigo, dedicado que deu toda atenção e companhia para nossa ilustre visitante. Agradeço e reconheço a atenção sua, do Claudio, Dr. Rolim, Fideralina e Jose Savio para com a nossa visitante.

    Um grande abraço.

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  2. MAIS UUM GRANDE ENTRE TANTOS DO MUNDIM "MUNDÃO". PARABÉNS POETA

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  3. Quem leu até o fim o poema do Mundim percebeu que ele conhece seu torrão natal. Quem é de Várzea Alegre pode matar a saudade de cada verso do poema. Em suma: A rajalegre é isso. É tudo verdade!
    Parabéns não!
    Obrigado.

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  4. Mundim,

    Hoje me reuni com Magali e Carlos Eduardo num almoço no Sítio S. José (em Crato)e falamos no seu nome (a orelha não ardeu?) - todos admirando a forma como você escreve seus versos tão inspirados e cheios da verdade da vida...

    Pude confirmar isso nesses versos que vemos nesta postagem que você fez.
    A introdução também muito me envaidece sobretudo pela gentileza generalizada que recebi em Várzea
    Alegre e em especial de sua parte que me conduziu pela cidade me fazendo senti-la como se fosse minha casa, meu torrão.

    Serei grata a você por toda vida. Por toda essa alegria que você me fez colher no meio de sua gente.

    E a Morais e sua família por ter me proporcionado a oportunidade de chegar até a cidade, recebendo uma acolhida sem falhas, com toda a gentileza que só em Várzea Alegre a gente encontra.

    Esse seu texto-poema está especialmente especial, Mundim.

    Abraço,

    Claude

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  5. Mundim, fico impressionada com a sensibilidade e simplicidade com que você fez o agradecimento a nosso povo. Saiba que todos se orgulham muito de você.Claude foi muito elogiada por onde passou e eu gostei mais ainda por vocês terem se deslocado do meio da folia momina para fotografarem a casinha 279 da Major Joaquim Alves. Isso me enterneceu muito. Grande abraço a Cláudio Sousa que tão gentilmente participou da comitiva. Estou muito feliz,
    Fafá Bitu

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