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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 14 de março de 2011

O ALEGRE REGRESSO - Por Mundim do Vale

Quem vive distante, da terra querida
Só pensa na vida
Em um dia voltar.
E assim vai pensando, o pobre imigrante
Que como um errante
Deixou seu lugar.

Aquele imigrante, fugiu da estiagem
Lavando coragem
Faltando alegria.
Levava na mente, saudade e lembrança
Com a firme esperança
De voltar um dia.

Chegando em São Paulo, começa o chamego
Procura um emprego
E não passa no teste.
Até que a indústria, enxerga o valor
De um lutador
Do seco nordeste.

Depois de empregado, ele sai da pendanga
E se livra da canga
Que prende o roceiro.
E o forte caboclo, pensando em voltar
Começa a guardar
Seu pouco dinheiro.

Escuta no rádio, notícia do Leste
Depois do Nordeste
E presta atenção.
O locutor fala, da chuva molhando
E o povo plantando
No verde sertão.

Naquele momento, o bom sertanejo
Sentiu o desejo
De não ficar lá.
Fez uma promessa, com Frei Damião
Para o mês de São João
No seu Ceará.

Juntou a família, E disse seguro:
- O nosso futuro
Não é mais aqui.
Já tem no sertão, legume nascendo
Nós vamos correndo
Para o Cariri.

Eu vendo o barraco,o rádio, o bujão,
A mesa e o fogão
Pra nós viajar.
Nós vamos de ônibus, Até Juazeiro
No dia primeiro
Nós vamos chegar.

A filha mais nova, pegou a falar:
- Eu quero aguar
Meu pé de roseira.
O filho mais velho, pulou de alegria
Dizendo que ia
Domingo pra feira.

Olhando a estrada, lembrou-se da ida
Da triste partida
Cantada em verso.
Chegando ao sertão, ele faz uma prece
E a Deus agradece
O alegre regresso.

Já no seu terreno, avista a casinha
E vê na cozinha
O carro de mão.
Na parede da sala, encontra pregado
O quadro arranhado
De Frei Damião.

Olhou para o quadro e fez um pedido:
- Meu santo querido!
Meu Frei Damião.
Dê fé e coragem, ao homem da roça
Para que ele possa
Viver no sertão.

O gato Mimi, do mato correu
Foi quem recebeu
A sua Cecília.
E a bela roseira, coberta de flor
Recebeu com amor
Aquela Familia.

Dedicado ao Dr. Rolim e ao poeta Aldenízio Correia.

10 comentários:

  1. Raimundim, você hoje me fez chorar e, muitooo...
    Vivo esperando ansiosa por esse dia de voltar a minha rajalegre. Nada como a terra de gente... É uma saudade que dói !!!
    Lindo o poema !!!

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  2. Parabens Mundim.

    Seu poema tem todos os segredos para os que se afastaram da terrinha e como diz o poeta Clementino "não esqueceram jamais".

    Um grande abraço daqui de nós.

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  3. Leia-se no final do verso;
    AQUELA FAMÍLIA.

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  4. Mundim, fiquei sem palavras agora. Queria muito hoje divulgar uma poesia de João Bitu, meu irmão, vc teria nos seus alfarrábios? É uma que fala na saudade, na família,ele está na praia e eu queria fazer essa homenagem para meu irmão mais velho Pode ser? Aguardo

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  5. Francesinha.
    Eu sei que Joaão Bitu tem uns poemas, mas eu não tenho nenhum deles.
    Abraço da Major Joaquim Alves.

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  6. Tudo bem, Mundim, vou esperar que ele volte da praia. Tem e-mail para você, abra agora. Abraço Francesinha

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  7. Mundim,tu bota é pra lascar logo.Tu fez Klébia Fiuza chorar lá na terra de Camões.Nem Camões fez ela chorar.Abraços.

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  8. Eu com toda firmeza e fé em Deus
    ainda moro em várzea alegre minha terra Natal pois quem me trouxe para MS ainda criança Deus o levou e agora que estou sabidinha e sei o que quero vou realizar meu sonho só vai demorar mais um BUCADINHO

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  9. Mudim

    Você é um sábio da literatura de cordel. Vi Patativa refazendo sua Triste Partida. Mundim soube com maestria trazer o passado para o presente. O sertanejo agora viaja de ônibus e quando a situação melhora um pouco, ele visita a terrinha é voando!
    Parabéns poeta!
    O blog do Sanharol é uma verdadeira escola literário on-line!

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  10. Retificando.

    Mundim do Vale. Digitei mudim e a ausência do "N" o transformaria em um poeta mudo.

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