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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 2 de janeiro de 2024

445 - Preciosidades antigas de Várzea-Alegre - Por Antônio Morais.


Francisca Farias Mota, Chica do Rato. No dia que estava mais ajuizada corria pelada em Várzea Alegre.
Certa vez eu estava lendo a revista Cruzeiro no oitão da igreja, quando Chica chegou e sentou-se ao meu lado. Em seguida colocou uma trouxa no chão e começou a tirar coisa de dentro. Só parou quando encontrou um almanaque Capivarol, onde tinha uma página com a foto de Santo Antônio. Eu simulei que estava envolvido com a leitura para observar o comportamento dela. Chica aproximou bem a foto do rosto e começou a falar numa mistura de oração com revolta.

Meu Santim Santo Ontõe! Já faz muito tempo qui eu sou devota do senhor. Mais eu tou desconfiada qui o senhor num vai arranjar um casamento pra eu não. Ói aquele Reginaldo da costeleta de sapato premeteu qui ia casar cum eu, mais aquela assanhada fia de Seu Chico Francisco deu inriba dele e eu fiquei no caritó.

Eu dei muita irmola pru Senhor naquela capela da praça, mais quem se casou premêro foi Zabé Andrade e eu fiquei só.

 Inté Ana Alves já se casou será se ela é mió do qui eu? Oberto Siebra tombem premeteu se casar cum eu mais peidou no rabicho, adispois qui cunheceu aquela moça das Brava. É todo mundo arranjando casamento e eu nada. Se o Sinhor num dá de conta do sirviço, diga logo qui eu vou precurar um santo mais trabaiador, pruque quem num pode cum o pote num pega na rudia.

Salembra daquela vez qui eu fui cum Dona Armicinda pra sua festa im Barbáia? Salembra né? Apois naquele dia eu agarrei no seu pau e ainda tirei uma casquinha prumode ficar fazendo chá.

Mais de nada adiantou, ninguém quer casar cum eu. Agora eu vou é rasgar seu retrato, pruque de Santo preguiçoso eu já tou é cheia. Eu vou é me amancebar cum Brandão e ficar sendo devota de São Binidito, pruque aquele é um criolim qui gosta de trabaiar.

Mundim do Vale.
  


4 comentários:

  1. Chica do Rato...
    Você me traz cada uma! Eu mereço...

    Flor das Bravas

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  2. Mundim.

    Eu salembro de Chica bem em frente do padre assistindo a missa: Quando o padre dizia: O senhor esteja convosco ela respondia: e comigo e contigo tambem. Outro dia fizeram uma postagem sobre ser Chique. Chica era chique.

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  3. Mundinho, cruzei muitas vezes com Chica do rato, quando criança e morria de medo. Como morador do alto da cadeia, muitas vezes, cruzava com ela na rua São Raimundo ou beco da liberdade, como diz Flávio de dona Terezinha Costa.O beco ou rua é estreito e longo, quando subia do centro em direção ao bairro ou descia, via ela vindo na direção contrária, falando muinto e gesticulando, procurava o outro lado da rua e passava ralando a parede.

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  4. A personagem "Chica do Rato" foi um ente folclórico varzealegrense. Todos a reconheciam por sua esquisofrenia, a indumentária extravagante e pelo seu linguajar carregado de impropérios. Citei essas características em um artigo postado neste blog sobre "os loucos de V. Alegre".

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