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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 20 de março de 2011

Um rosario extraviado no bosque - Lucia Ordonez Cebolla.

Historias para crianças ou adultos cheios de fé.

Aquele bosque sempre fora muito atraente. Seu ar de mistério e suas árvores centenarias, cujas folhas filtravam os raios de sol, eram um cenário perfeito para o entretenimento dos meninos da aldeia, que gostavam de aventura. Sobretudo nas ferias ou fins de semana, via-se grupo deles correndo por todos os lados, perdendo-se em meio as sombras da vegetação, enquanto ecoavam, ao longe, gritos alegres.
Certo dia, dois amigos, Mário e Alexandre, passeavam entre as árvores em busca de alguma novidade. Haviam sido companheiros de escola e sempre passavam as ferias juntos. Mário ainda morava na aldeia, mas Alexandre havia se mudado com a família para capital. Iam conversando animadamente sobre qual seria seu futuro. Afinal, estavam terminando o colégio e Alves não mais se encontrassem.
Vou ser medico - disse Alexandre. Já estou estudando para entrar na faculdade. Quero ajudar as pessoas! Fiquei comovido por ver como sofriam os soldados durante a guerra sem ter um doutor para auxiliá-los. E você já se decidiu?
Ainda não, respondeu Mário. Puxa, Mas você já está no ultimo ano. Precisa tomar uma resolução. Eu também gostaria de escolher uma profissão para ajudar as pessoas. Mas a medicina não me atrai.
Maria e Alexandre caminhavam devagar e a conversa ia tomando ares de reflexão. De repente, viram brilhar algo no meio de um arbusto e instintivamente apertaram o passo. Era um terço de madeira, gasto pelo uso, cuja cruz de metal reluzia a luz do sol.
Veja, é um rosário! Exclamou Mário, pegando-o e logo beijando o crucifixo.
Ah. é só um terço ordinário... Retrucou Alexandre. Um terço nunca é ordinário, por mais simples que seja! - Repreendeu Mário. Devemos buscar seu dono, pois deve estar bem triste por have-lo perdido. Alexandre tentou dissuadir o amigo. A aldeia não era tão pequena, e, ademais, poderia pertencer a um dos milhares de soldados que passaram por ali durante a guerra. Mário então, decidiu leva-lo até a Ermida, localizada no centro do bosque, e deposita-lo nos pés de Nossa Senhora. Talvez quem o perdera fosse busca-lo lá e o encontrasse.
Chegando a Ermida, Mário convidou seu amigo para entrar com ele e rezarem juntos a Maria santíssima como sempre fizeram, mas Alexandre não quis acompanha-lo. Preferiu esperar do lado de fora, contemplando as maravilhas da natureza. Mário entrou lá e ficou. Passaram-se cinco minutos, quinze minutos, meia hora, e nada de ele sair. Impaciente, Alexadre se perguntava o porque de seu amigo tardar-se tanto tempo lá dentro.. Por fim apareceu. Vinha sorrindo e parecia iluminado. Que aconteceu? Por que você demorou tanto? Indagou Alexandre. Decidi o que vou ser: sacerdote. Como? Que ideia é essa? Sim, você será medico de corpos e eu serei médicos de almas. Hoje vi claramente diante de Nossa Senhora qual era minha vocação e pedi muito a Ela para me ajudar a entrar logo no Seminário e me transformar em um sacerdote santo.
Alexandre não ousou dizer mais nada. Regressaram para casa de Mário, e terminadas as ferias cada um tomou seu próprio rumo. Alexandre para a Faculdade de Medicina e Mário ingressou no Seminario Diocesano. Os dois perderam o paradeiro um do outro. Vinte anos se passaram, e padre Mário foi designado capelão do Hospital modelo da capital. Ali se deparou com seu antigo amigo, agora renomado clínico e cirurgião. Havia progredido muito profissionalmente, mas, infelizmente, preocupava-se apenas, com assuntos concretos, sem se importar com a vida espiritual.
Um dia, o padre e o medico encontraram-se no quarto de um pobre doente que não parava de gemer . Depois de examina-lo, o Doutor Alexandre disse não entender a razão daqueles lamentos. A doença estava regredindo e não havia causa orgânica para as dores que pareciam atormenta-lo. Ai, ai, ai Doutor. E vou morrer... e não terei salvação. Repetia o enfermo angustiado. O sacerdote se aproximou para procurar anima-lo, exortando a ter confiança na Mãe de Deus. E convidou-o para rezarem juntos o rosario. Nem me fale em rosário! Mas, por que? Não há criatura mas doce e bondosa do que Maria. O pobre homem contou-lhe sua historia. Pouco mais de vinte anos atrás fora soldado de guerra. Antes de partir, sua mãe lhe dera um rosário, fazendo-lhe prometer que o levaria sempre consigo e rezaria diariamente. Durante algum tempo, o militar atendeu aquele pedido, mas não resistiu a zombaria dos companheiro, e ao passar pelo bosque de uma aldeia, jogou o terço num arbusto. Desde aquele dia, a consciência lhe pesava enormemente e não se sentia digno de rezar a Nossa Senhora, nem de olhar para imagens.
O sacerdote e o medico se entreolharam estupefatos! A aldeia era sua aldeia da infância, e o rosario era o que encontraram! O padre Mário tirou o terço de madeira do bolso e estendeu-o ao enfermo dizendo: Pois aqui está o seu rosário! Se Maria quis que ele fosse devolvido, era porque queria manifestar-lhe seu perdão. A fisionomia do doente se iluminou. O padre narrou-lhe então a cena ocorrida havia vinte anos, e como deva sua vocação sacerdotal aquele Terço que guardara como lembrança da graça recebida, e com a qual passou a rezar todos os dias. O medico ouvia padre Mário, banhado de lágrimas. Percebendo o quando havia se afastado de Deus, perguntava-se: De que adianta ser um grande profissional a custa de deixar abandonada a própria alma? Medico a paciente pediram a confissão e recuperação a paz. O velho soldado logo recebeu alta e saiu do hospital. E Doutor Alexandre e Padre Mário ainda trabalharam juntos por muitos anos, na mais feliz harmonia: um curava os corpos e o outro trazia a saúde as almas.

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