Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 13 de março de 2011

Vò Zefinha nas missões de Frei Damião - Por João Dino.

A história que eu vou contar aqui, agora, só quem vai entender são as criaturas que um dia, numa madrugada nordestina, acompanharam a caminhada de Frei Damião.

Orós (CE). 1964 ou 1965, não sei precisar o ano. Eu só me lembro que Frei Damião estava peregrinando pelo Ceará. Ele passava cerca de uma semana em cada Cidade.

Nossa família morava em Icó (CE). Mas de dezembro a fevereiro de cada ano, período de férias escolares, eu ía para Orós, Cidade berço do cantor Raimundo Fagner. Em Orós, eu ficava na casa da minha Avó, Zefinha de Adauto e do meu Avô Adauto Alves.

Nesse tempo, em frente a casa de Vó, na travessa Lima Verde, os americanos estavam construindo um grupo escolar, obra doada pelo Governo Americano.

Mestres, serventes, armadores, pedreiros, eletricistas, encanadores e pintores eram todos da região. Mas os técnicos eram estrangeiros. Falavam inglês e espanhol. Eles conheciam poucas palavras em português.

Eu achava muito interessante tudo que esses gringos falavam. Horas e horas eu perdia só ouvindo. Algumas palavras em portinhol eu passei a entender devido essas minhas horas de observações: “cambiar, capiche, ouvidar, jôi. te vôlio bene, istantei, volveram, corazon, solo, quiero, puedo, dgenar, gracias”.

Tudo que a gente aprende nessa vida um dia se aproveita para alguma coisa. Aconteceu comigo. As poucas palavras que eu aprendi com esses gringos me serviram para entender muitas coisas que Frei Damião falava nas missões.

Três horas da manhã. Nesse dia o meu primo, Bonfim de Bia Laurentino, também estava em Orós. Vó nos acordou. Jogou água no rosto de cada um. E depois de uma xícara de café com pão de milho e tapioca, lá vamos nós para a caminhada de Frei Damião.

O velhinho andava ligeiro. Saía da Igreja Matriz às quatro horas da manhã. A procissão circulava as principais ruas da Cidade. De volta à Igreja Matriz, começava o sermão de Frei Damião.

O som da difusora que ele falava era muito ruim. Somava-se a isso o sotaque italiano - porque ele estava no Brasil há poucos anos –, a idade avançada e aquela voz cavernosa.

Nesse dia ele estava abordando o tema “mulheres mundanas”. Algumas pessoas se aproximavam de mim, porque devido a minha convivência com os gringos, eu entendia algumas coisas que Frei Damião falava. Foi não foi alguém me perguntava: o que foi que ele disse João Dino? E eu traduzia.

Minha Vó e D. Maroca, nossa vizinha, durante o sermão ficavam cochilando. Não entendiam quase nada.

E Frei Damião balbuciava: “Ais bruxa (Era assim que ele se referia as prostitutas) que dissollive uis “lá”... Ais bruxa que põe finalli nus inlaci matrimoniais, isso ser pecadô, capichi? Tá im tiempô de cambiare essa vida mundana... Jisus ser mui generoso. Inda puder lhi sallivare da fugueira do inferno. Bruxa, vem pidir perdom a jisus nosso sallivadô.”

De repente Frei Damião levantou o tom da voz e disse: “Bruxa qui tiver aqui nu sermom, erguei ais mão. Bruxa, jôi tô a comandare, levante ais mão.”

Minha Vó, coitada, tinha acordado as três horas da manhã. Cansada de tanto caminhar. Estava cochilando desde o início do sermão. Ela só ouviu o final da fala de Frei Damião: “tô a comandare. Levante ais mão”...

Vó, no meio da multidão, teve aquele susto, levantou logo foi as duas mãos. D. Maroca, estava do nosso lado, viu quando Vó levantou as mãos, fez companhia a ela: levantou as duas mãos também.

Pense na minha agonia. Eu fiquei gritando: Vó, D. Maroca, baixem essas mãos. E Vó perguntava: O que diabo é menino? Deixa de me aperrear. Eu insisti tanto que ela resolveu me ouvir. Aí eu disse: Vó Frei Damião está mandando as bruxas levantarem as mãos. Não é a Senhora não.

Nessa hora, umas velhinhas conversavam do nosso lado. E eu prestei bem atenção. Eram umas carolas que olhavam para minha Vó e diziam: Valha-me Deus. É o fim do mundo. Eu jurava que D. Zefinha era a mulher legítima de Seu Adauto. Eu disse: tá ouvindo isso aí Vó?

Meus amigos, Vó pegou ar: Como é Joãozinho. Como foi que ele disse? Eu respondi: Frei Damião mandou as bruxas levantarem as mãos. Ela disse: E foi? Pois vamos embora prá casa... Esse “Véi” tá ficando é doido.

7 comentários:

  1. Prezado João Dino.

    Um pouco antes, acho que por volta de 1957, Frei Damião me crismou. Na igreja matriz de Varzea-Alegre. Fui conduzido a igreja por minha avó que tambem se chamava Josefa ou Zefa de Sanharol, graças a Deus não houve incidente, tudo transcorreu na maior normalidade. Tive como padrinho Antonio de Morais Rego e apesar da pouca idade lembro da celebração com saudade.

    ResponderExcluir
  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    O que não causa uma cochilada, heim??? Muito bom o causo!!!
    Sabe João Dino, gostava muito das serestas no CREVA... Tempo muito bom!!!

    ResponderExcluir
  3. João Dino,

    Imagino o Frei Damião no carnaval de Várzea Alegre: “Bruxa qui tiver aqui na folia, erguei ais mão. Bruxa, jôi tô a comandare, levante ais mão.”
    - Bruxa que tiver bêbada, levante ais mão. Valei-me Padre Vieira!

    O tempo mudou.
    Um grande abraço!

    ResponderExcluir
  4. João Dino,um causo típico nordestino que voce narrou e que trouxe saudades quando nos crianças assistíamos as missões de Frei Damiao.Abraços.

    ResponderExcluir
  5. AMIGOS DO BLOG DO SANHAROL, MINHA VÓ E D. MAROCA ESTÃO VIVAS. NÃO SE TRATA DE UM "CAUSO" ESSA HISTÓRIA ACONTECEU DE VERDADE.
    DEPOIS DESSE DIA, QUANDO ALGUÉM CONVIDAVA: VAMOS ZEFINHA PRÁ MISSÃO DE FREI DAMIÃO... ELA PEGAVA CORDA... RESPONDIA: VOU MAIS NÃO. ELE FALA MUITA "BURRAGE".

    SIM, APAREÇAM NA ESCOLA DR. PEDRO SÁTIRO NO DIA 26-SÁBADO. SÃO 40 ANOS DA ESCOLA. É FESTA DE ANIVERSÁRIO. E EU ESTOU FAZENDO PELO 5º ANO CONSECUTIVO. JÁ É TRADICIONAL.

    LÁ EU SÓ VOU CANTAR. HISTÓRIAS EU SÓ CONTO NA INTERNET. KSKSKSKSKSKS.

    ResponderExcluir
  6. eita que historia em? Eu tinha medo da voz de frei damião na época morava no sertão, hoje entendo que ele nao causava espanto nenhum era minha ignorancia de criança do sítio. Abraço a todos.

    ResponderExcluir
  7. kkkkkkkkkkkkkkk...amei João Dino esse acontecimento diga a D. Maroca e a sua avó que VÈI só serve pra fazer medo a Criança ainda mais Frei Damião tadinho velhinho cacundinho e ainda falava seus palavreados gregos as pobres cansadas da luta do dia a dia e ainda seguiam as profecias dele..por um vacilo do cochilo vieram a se julgar falsamente por obediência a Frei Damião...bjoss a elas viu..kkk foi muito bom ouvir isso e sucessosssssss a vc meu REI

    ResponderExcluir