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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 1 de junho de 2011

A GRANDEZA DO PERDÃO - Por Mundim do Vale.

Agradecendo aos sufrágios recebidos na postagem do mês de maio, dedico esse trabalho a todos os colaboradores e comentaristas do Blog, que me colocaram no mesmo nível do poeta acadêmico Dr. Sávio Pinheiro. O poema é um tanto longo mas vale a pena pelo tema de fé e caridade.
Não vai aqui nenhuma pretensão de vencer a postagem do mês de Junho, a minha intenção é apenas dividir essa riqueza espiritual com a nossa boa gente.
Deus abençoe todos vocês.
Abraços de fé.

Raimundinho Piau.

Caro leitor e amigo
Leia o verso com atenção
Para concordar comigo
Na grandeza do perdão.
A minha pretensão é,
Mostrar o valor da fé
Neste verso popular.
Que seja como um presente,
Pra mostrar a nossa gente
O prazer de perdoar.

Dizia meu tio Raimundo
Quando nos dava lição
Que a salvação do mundo
Se encontrava no perdão.
E para fazer ciente
Ele contava pra gente
Uma história verdadeira.
Um fato que aconteceu
Entre o Coronel Romeu
E Luzia Rezadeira.

Num certo tempo passado
Na vila de Dom Quintino
O povo estava assustado
Com doença de menino.
Saranpo, vento caído,
Diarréia, estalicido,
Catapora e mau olhado.
Trouxeram Dona Luzia
E antes do meio dia
Tinha menino curado.

Enquanto Dona Luzia
Praticava a boa ação,
Tinha um homem que dizia
Piada e mal criação.
Era o coronel Romeu,
Que se dizia ateu
E estava embriagado.
Mas a boa rezadeira
Respondia de primeira:
- Deus perdoe esse coitado.

O coronel achou pouco
Tamanha barbaridade
Simulou que tava louco
E partiu pra crueldade.
Disse em tom de brincadeira:
- Vou ver se essa macumbeira
Tem o poder que ela diz.
Boto o cavalo a galope
E taco esse meu chicote
No lombo dessa infeliz.

Quando o coronel partiu
Assustando a meninada
O cabresto escapuliu
Bem de frente da calçada.
Uma Pata dianteira
Foi de encontro a rezadeira
Que ali mesmo morreu.
E o coronel malvado
Dizia: - Eu não sou culpado
Meu cavalo endoideceu.

O coronel foi julgado
Sendo logo absolvido
O animal foi culpado
Pelo crime acontecido.
Dizer aqui eu não posso
Se o homem teve remorso
De um crime tão horroroso.
O que a história diz
É que ele era feliz
Muito rico e poderoso.

Sua família cresceu
E o caso foi esquecido
Até que um dia nasceu
O seu neto preferido.
Era tanto do afeto
Que com o nome Romeu Neto
O bebê foi batizado.
Tornou-se um moço vaidoso,
Violento e rancoroso,
Era o avô copiado.

Mas quando foi certo dia
O rapaz adoeceu,
Foi a maior correria
Para o seu avô Romeu.
Era uma infecção
Em forma de cinturão
Que o povo chama cobreiro.
Levaram pra capital
De hospital em hospital
Gastando muito dinheiro.

Depois de tanta despesa
O mal já chegava ao peito
Um médico usou de franqueza
Disse que não tinha jeito.
Aconselhou a voltar
Que só restava rezar
Pra ele morrer em paz.
Que só mesmo a mão divina,
Pois a própria medicina
Não tinha o que fazer mais.

Voltaram para o sertão
Já com o tempo marcado
O avô com depressão
E o neto desenganado.
Mas como Deus não esquece
De vez em quando aparece
Uma santa mensageira.
Chegou lá uma criatura
Disse que havia cura
Pelas mãos da rezadeira.

Ela disse: - Seu Romeu
Quem tem fé pode, ter sorte
A cura do neto seu
Pode chegar lá do Norte.
Vá buscar a rezadeira
Antes de segunda feira
Não peque por omissão.
A moça vem sem demora
Cura seu neto na hora
Somente com oração.

O coronel na carreira
Foi bater em Mossoró
Quando viu a rezadeira
Quase que voltava só.
Mas lembrou-se do doente
Que aguardava impaciente
Um anjo vindo do céu.
Quando chegaram na vila
O povo fazia fila
Arremessando o chapéu.

Ela subiu a calçada
Onde uma santa morreu
Ficou mais determinada
Para rezar pra Romeu.
Ficou no mesmo lugar
Com um ramo bento a orar
Fazendo cruz no doente:
- Oh minha avó me ajude
A devolver a saúde
A esse irmão inocente.

Pra surpresa de Romeu
A ferida foi sarando
Onde Luzia morreu
Uma luz foi clareando.
O neto se ajoelhou
E com a moça rezou
Um terço de gratidão.
Uma nuvem feita véu
Mostrou que a bênção do céu
É fé, caridade e perdão.

O coronel trouxe a bolsa
Que guardava economia
E perguntou para a moça
Quanto era que lhe devia.
Ela disse: - Cavalheiro
Se a fé custasse dinheiro
De reza não precisava.
Muita gente eu já curei
Mas de ninguém eu cobrei
E nem minha avó cobrava.

Eu nasci em Mossoró
Lugar distante daqui,
Mas meu pai e minha avó
Todos dois nasceram aqui.
Eu vim aqui com a missão
De ajudar um irmão
Porque de fé, sou herdeira.
Eu sou Luzia Anacleta,
Fui eu a primeira neta
DE LUZIA REZADEIRA .

Luzia naquele dia
Salvou aquele rapaz
Porque também conduzia
Uma mensagem de paz.
Sendo ela a criatura,
Herdeira do dom da cura
Não se negou pra missão.
Mostrou aquele senhor,
Que a cura é feita com amor
Sem ódio no coração.

Luzia fez o que fez
Sem cobrar nem um tostão
E Romeu por sua vez
Ficou livre do caixão.
Há se hoje em nossos dias,
Tivesse várias Luzias
Com aquela serenidade.
Talvez assim a vingança,
Se transformasse em bonança,
Amor e fraternidade.

Luzia foi instrumento
Da sua avó falecida,
Surgiu naquele momento
Para salvar uma vida.
Aquele ato cristão,
Mostrou para o cidadão
Que o ódio não satisfaz.
Mostrou que a serenidade,
Caminha com a caridade
Na busca da boa paz.

Para o coronel Romeu
A mudança foi total
Homem que sempre viveu
Usando a força brutal.
Depois do filho sarado,
Ele ficou educado
Humilde e bem caridoso.
Por assim se comportar,
Começaram a lhe chamar
De coronel generoso.

Eu era ainda menino
Quando soube da história,
Nesse dia Dom Quintino
Viveu momento de glória.
A banda tocou dobrado,
O cruzeiro foi pintado
E o padre fez sermão.
O coronel satisfeito,
Bateu com a mão no peito
Gritando: - Viva o perdão!

Esse cordel sem engano
Foi feito para educar,
Para que o ser humano
Possa um dia perdoar.
Jesus que foi torturado,
Que morreu crucificado
Foi quem deixou a lição.
Feliz é o filho de Deus,
Que ensina aos filhos seus
A GRANDEZA DO PERDÃO.

Aqui termino essa rima
Pedindo ao pai protetor,
Que conceda lá de cima
Saúde para o leitor.
Peço ao pai pra me guiar,
Pra que eu possa rimar
Sem ter ninguém que me cale.
O meu verso não faz mal,
E para ponto final
Assino: - MUNDIM DO VALE.

6 comentários:

  1. Eu pequei na digitação, esquecí de por o A de grandeza.

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  2. Esse seu pecado ortográfico não é nada diante da grandeza de seus versos. Parabéns sempre, poeta amigo,
    Fafá

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  3. Perdoe-me poeta Mundim
    O poeta perguntar
    Com essa historia bonita
    Tu aprendeu perdoar?
    Pois se ainda tem na memória
    Apague aquela história
    Do cigarro do Mundim
    Eu como não sei perdoar
    Guardada ainda estar
    O sai de perto de mim

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  4. Prezado Mundim.

    O A já está no seu devido lugar. Sempre que o nobre amigo publicar a postagem, o amigo verá uma canetinha amarela no final da postagem. Basta clicar em cima para a pagina reabrir e o amigo fazer as devidas correções.

    Um forte abraço.

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  5. É...

    Meu caro Mundim do Vale do Machado:

    Que bela história.

    É exatamente assim que precisa acontecer. Perdoar sempre devia ser o lema da humanidade, e todos seriamos felizes.

    Aceite um grande abraço do

    Vicente Almeida

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  6. Mundim, o meu voto sempre será seu: visto que és meu poeta preferido; os demais eu peço perdão. Abraço carinhoso e fraterno, Fatima Gibão.

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