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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 13 de junho de 2011

PRECISA-SE DE CURSOS DE ESCUTATÓRIA - Por Vicente Almeida

vi e ouvi catedráticos de várias áreas oferecerem palestras e cursos os mais variados.

Podemos destacar dentre eles, para mencionar apenas os menos técnicos, mais procurados e mais comuns, cuja duração não excede trinta dias, temos:

I - Curso de Oratória;
II - Curso de Liderança
III - Curso de Relações Humanas;
IV - Curso de Relações Públicas;
V - Curso de Noivos;
VI - Curso de batizados.

Entretanto, nunca vejo qualquer expert oferecendo curso de ESCUTATÓRIA.

Curioso não? Nenhum especialista se apresentou até agora para ministrar cursos de ESCUTATÓRIA.

Acho até que o leitor pensa que estou falando grego.

Pois bem, todos querem aprender a falar, mas ninguém quer aprender a OUVIR.

Devia haver um curso que nos ensinasse a OUVIR - não esse de psicologia que envolve nível universitário, mas um que o povo tivesse alcance.

Saber OUVIR é uma das maiores dificuldades do momento, com exceção dos namorados, enquanto namorados.

Quando casam, ao primeiro atrito, dificilmente um escuta as razões do outro. Fica cada um procurando falar mais alto e simultaneamente. Resultado, ninguém ouve o que o outro diz e a celeuma está gerada com conseqüências inimagináveis.

Isto não ocorre somente entre os casais e pais e filhos.

Onde duas ou mais pessoas discutem, é costume cada um falar cada vez mais alto, como se o outro estivesse a dezenas de metros de distância.

Por outro lado, em muitas reuniões ou encontros, quando o orador está falando, aparecem os apartes e alguns comentaristas com suas dúvidas. Acontece ai, que dois, três ou mais, se manifestam ao mesmo tempo, sem chance para o orador responder as indagações.

A única exceção que observo é nos templos católicos e evangélicos. Quando o sacerdote ou pastor faz a sua pregação, todos ouvem, mesmo não gostando do tema ou do pregador, não reagem, e lá permanecem até o encerramento do ritual religioso. Entretanto, quando desagrada, lá na platéia de repente começa um ti ti ti. (Estou mentindo?)

Se alguém nos ensinasse a OUVIR, certamente seríamos bem mais felizes.

Os profissionais da área de saúde sabem, o quanto é perfeito o nosso mecanismo auditivo, que utilizamos de modo tão inadequado.

O encantamento não está somente em aprender a OUVIR as pessoas.

Precisamos também aprender a OUVIR a natureza. E neste caso, dispensamos os catedráticos, pois o sussurro da brisa, o gorjear dos pássaros, o embalo afinado dos anfíbios em noites invernosas, ou a chuva caindo em nosso teto e escorrendo pelas biqueiras, tudo é música e está ao alcance de todos. Tudo isto é poesia, é beleza é iluminação interior, e só precisamos OUVIR, para perceber a presença Divina em nossa vida.

Poderia aqui ampliar, e falar sobre OUVIR o silêncio, que nos proporciona mais bem estar do que podemos imaginar, mas isto requer explicações bem mais profundas e prolongadas. Fica para outra postagem.

E então gente, vocês não acham que precisamos de alguém que ministre um curso de ESCUTATÓRIA?

Escrito por Vicente Almeida
13/06/2011

6 comentários:

  1. É...

    A palavra ESCUTATÓRIA, ainda não consta dos dicionários.

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  2. Pois é...não existe em dicionário nenhum nem na prática da vida diária. Ninguém gosta de ouvir, a gente adora falar, reclamar mas não quer ouvir. Considero a maior arte da vida : OUVIR. Ainda há certas exceções, de vez em quando eu escuto certas pessoas mas depende do que elas dizem. Também existe outra grande arte: ESCUTAR E DISCORDAR que também não é nada fácil. Valeu, Vicente. Uma boa semana para você,
    Fafá Bitu

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  3. Vicente.

    Deus fez o homem com dois ouvidos exatamente para ele escutar mais do que falar. Mas poucos seguem essa recomendação divina.

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  4. Vicente querido, seria de grande valia esse curso de ESCUTATORIA; eu mesma iria fazer: quem sabe pra estutar mais meu coração. Abraço carinhoso e fraterno, Fatima Gibão.

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  5. A vida me fez tímido, sou mais eu calado do que falando. Qdo falo fica sempre a preocupação: será que não seria melhor ter ficado calado? Não me chateia ficar calado qdo muita gente fala. Talvez falar pouco não tenha me trazido experiência pra me expressar melhor, pois qdo falo os meus pontos de vistas geram polêmicas, é natural, normalmente só falo daquilo que discordo.

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  6. É...

    Fátima Bitu:

    Ainda não aprendemos a escutar. Quando isto acontecer, tudo mudará.

    Morais - Blg do Sanharol:

    A Divina Providencia nos dotou de tudo que precisamos em nossos corpos, mas, após milhões de anos, ainda utilizamos nossos sentidos de forma errada.

    Fátima Gibão:

    é um prazer tê-la em nossa área de comentários.

    A palavra escutatória, ouvi em um encontro e foi pronunciada por um grande escritor em 2007: Rubem Alves. Então aproveitei para dar vida a esta postagem.

    E aqui você lembrou "Escutar o Coração". Noooossa como seria bom que escutássemos nosso maior conselheiro, não é verdade.

    Robson:

    Se você ficar calado, nunca saberemos seu ponto de vista.

    Precisamos ser sim, sim, ou não, não. Para o nosso bem, nunca devemos ficar em cima do muro.

    Não se preocupe se vai agradar ou não. O que você manifestar será sempre ditado pelo seu coração.

    Eu particularmente, não dou importância para críticas que nada constroem. Mas aquelas que contribuem para nosso bem estar, merecem muita atenção e não tenho orgulho, desço tanto quanto for preciso para captar aquele ensinamento.

    Nada há de errado em discordar, desde que façamos uso do bom senso.

    Se você não possui o dom da oratória, não se preocupe. O mundo precisa de você, tanto quanto de mim ou qualquer outro. Não estamos aqui por acaso.

    O mundo precisa de generais e de soldados, de médicos e de pacientes, de historiadores e de leitores. Se fossémos todos iguais, não prestava. Não é verdade?

    Um grande abraço a todos

    Vicente Almeida

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