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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 10 de julho de 2011

A BICHA SÓ TEM UM ÔI - Por MUndim do Vale.

Fonte: Nilo Piau.

O ano de 1.955, foi muito bom para a agricultura de Várzea Alegre. Um exemplo disto foi a produção de feijão no roçado do Sr. Rosendo, que era um pernambucano parente do rei do baião, que morava na Praça Santo Antônio, na companhia de uma filha e um filho de nome Chagas.

No mês de junho o Sr. Rosendo comprou bebidas, mandou matar algumas galinhas e promoveu uma debulha de feijão em sua casa. Para o evento ele convidou: Caetano de Zezinho de Matias, Antônio de Valdevina, Zé de Raimundo Piau e Severino de Chico Vieira, que passava uns dias na casa de seu primo Zé Piau. Quando foi por volta das dez horas da noite, Caetano saiu sem dizer nada a ninguém e foi se esconder dentro das moitas do balde da lagoa, para assustar seus amigos quando fossem para casa.
Por volta das onze horas Severino perguntou:
- Tu vai agora Zé Piau?
- Não eu só vou mais tarde. Agora é que a debulha tá ficando boa.
- Pois eu já vou. Boa noite para todos.
Com menos de dez minutos, Severino voltou mais descorado do que isca de carne, em poço que não tem peixe. Gaguejando muito assustado ele falou:
- Seu Rosendo! Eu vi um fogo acendendo e apagando ali no balde da lagoa.
- Deve ser a alma de Zé de Adélia atrás de reza, pruque ele morreu infoicado bem ali no beiço da lagoa

Chagas rosendo notando o pavor de Severino falou:
- Savexe não Sivirino, qui eu vou deixar você im casa, se tem uma coisa qui eu num acridito é nessa istora de fogo de visage.
Em seguida colocou uma faca na cintura, pegou uma roçadeira que tinha num buraco de andaime e se dirigiu ao anfitrião que picava fumo deitado numa espreguiçadeira:
- Pai vai tombem? Se for levante o rabo dessa priguisoça e ramo brigar cum as alma.
- Não meu fí. Eu num vou não. Mais você tenha coidado prumode a visage num lhe capar.
Chagas saiu assoviando a música “ mulher rendeira “ e jogando a roçadeira para um lado e outro como se tivesse roçando mato. Logo atrás ia Severino, mais desconfiado do que portador de notícia ruim.
Quando Chagas chegou exatamente na curva do balde, Caetano jogou o foco de uma lanterna mesmo na cara dele. Chagas deu um grito e correu na direção da sangria com o foco da lanterna acompanhando,quando chegou no corredor do Gravié, tropeçou num toco, derrubou a roçadeira, rasgou o sorongo, perdeu a medalha benta de São Francisco e ainda quebrou o rabicho das alpercatas. Quando levantou-se notou aquele clarão vindo na sua direção, deu um salto e subiu a serra do Gravié por dentro da jurema.
No dia seguinte como Chagas não tinha aparecido, formaram um adjunto para procurá-lo. A busca foi muito maior do que a que fizeram para procurar Meninim Bitu.
Os rastreadores saíram pelo pé da serra seguindo as pegadas e os pedaços de tecidos deixados nas galhas de jurema. Por volta do meio dia, encontraram Chagas dentro de um curral sem roupa e com o corpo todo arranhado, assim como quem tinha capado gato.
Pediram para ele contar o que tinha acontecido e ele fez assim o seu relato:
- Ome! Eu dizia qui num acriditava im visage, mais a coisa inziste. A bicha tem só um oi e fica sortando fogo inriba da gente. Quando ela pulou inriba deu, eu acunhei ela na roçadeira, mais ele tumou deu. Aí eu arrochei ela cum meu quicé, mais ela tombém tumou. Aí o jeito qui teve foi eu infrentar ela no tabefe, mais ela só saquetou quando eu deixei ela dento do ingém de Zé Cardoso.

Desse dia em diante Chagas ficou com medo até de vaga-lume.


Reprisado para a poetisa da Vazante.

5 comentários:

  1. Prezado Mundim.

    Prender uma visagem no curral. Muito boa historia.

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  2. Gostei.Mundim é perito em contar casos. E Várzea Alegre é celeiro de bons casos!

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  3. CAro Nanum,
    Você cita o sumiço de Seu Meninim. Pois bem, no terceiro dia d e busca, Luiz Pretim encontrou uma turma de rapazes depois do Riacho Grande e perguntou: Voc~es s são d eonde? Da Varjota; Conhecem Seu Mininim?_ Não.
    _Pois cuidado prá não levarem Raimundo Firino pensando que é ele. Advertiu Luiz.

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  4. Benedito , meu irmão, quando era menino, ia todo dia buscar leite na casa de Santiago, nos Bataião. Um dia chegou lá com a língua d efora, chorando muito. Os meninos perguntaram o que tinha sido, quando ele conseguiu falar, disse: É que eu vi um guaiá. (guará)

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