Meu nome é Mundim do Vale
Do vale da precisão,
Nesse verso eu vou fazer
Pequena comparação.
Uma casa abandonada,
Um mendigo na estrada
É A CARA DO SERTÃO.
Uma galinha caipira
Catando pedras no chão,
Um couro velho espichado
Na parede de um oitão.
Um jegue atrás da jumenta,
Levando coice na venta
É A CARA DO SERTÃO.
Político botar no bolso
Dinheiro da educação,
Estudante pendurado
Em grade de caminhão.
Os mais pobres sem escola,
E os pais pedindo esmola,
É A CARA DO SERTÃO.
Um menino barrigudo
Comendo um taco de pão,
Um punhado de gorgulho
Na panela do feijão.
Uma casa de reboco,
E um doido dando cotôco
É A CARA DO SERTÃO.
Matuto vender o voto
No dia da eleição,
Candidato prometer
E depois dizer que não.
Um bando de periquito,
Bicho do nome esquisito
É A CARA DO SERTÃO.
Uma cigana sabida
Numa casa lendo mão,
Um cigano amigo dela
Fugindo com um capão.
Uma cachorra enganchada,
Menino dando pedrada
È A CARA DO SERTÃO.
Um cabra desesperado
Procurando confusão,
Dizendo que foi traído
Pelo filho do patrão,
Depois de tomar cachaça,
Fazer uma arruaça
É A CARA DO SERTÃO.
Uma ninhada de pinto
Arrodeando um pilão,
Uma panela de barro
Preta da cor de carvão.
Uma cuia de fubá,
E um prato de mungunzá
É A CARA DO SERTÃO.
Um velho contando histórias
Do tempo de Lampião,
Um buguelo beliscando
Rapadura num caixão.
Uma cabocla fiando,
E a meninada brexando
É A CARA DO SERTÃO.
Uma rabada de boi
Para fazer um pirão,
Um vidro de magnésia
Pra menino do buchão.
Uma velha fuxiqueira,
Num banco de aroeira
É A CARA DO SERTÃO.
Um retirante passando
Com destino ao Maranhão,
Um defunto transportado
Numa rede de algodão.
Uma porta com tramela,
Papagaio na janela
É A CARA DO SERTÃO.
Batizado de fogueira
Numa noite de São João,
Uma touceira de cana
Encostada a um cacimbão.
Os versos de um violeiro,
Tipo Expedito Pinheiro
É A CARA DO SERTÃO.
Um cachimbo sendo aceso
Na brasa de um tição,
Uma menina com frio
Se aquecendo no fogão.
Um garoto desnutrido,
Com o pescoço encardido
É A CARA DO SERTÃO.
Menino se esgoelando
Porque perdeu um peão,
Cachorro dentro do forno
Assustado com trovão.
Moça atrás de matrimônio,
Com o pau de Santo Antônio
É A CARA DO SERTÃO.
Um maluco perturbando
O vigário no sermão,
Um filho deixando o pai
Pra seguir Frei Damião.
Um Judas sendo furtado,
Pra depois ser enforcado
É A CARA DO SERTÃO.
Um curador de bicheiras
Querendo ser valentão,
Uma velha rezadeira
Curando com oração.
Crianças brincando à toa,
Tibungando na lagoa
É A CARA DO SERTÃO
Um folheto de João Grilo
Pendurado num cordão,
Cambista fazendo pouco
Do tamanho de um anão.
Um jogador de baralho,
Vendendo trança de alho
É A CARA DO SERTÃO.
Uma teima no roçado
Por conta duma questão,
Terminar depois em briga
De roçadeira e facão.
Como ninguém fica vivo,
O enterro coletivo
É A CARA DO SERTÃO.
Uma venda na ribeira
De querosene, sabão,
Bolacha, bombom, macaxeira,
Agulha, linha, botão,
Fumo, biscoito, rapé,
Imagem de São José
É A CARA DO SERTÃO.
Colocar pedra na cruz
Para pedir proteção,
Um menino na corcunda
De um pai de criação.
Uma cabocla faceira,
Descascando macaxeira
É A CARA DO SERTÃO.
Um cabra na roça alheia
Fazendo malinação,
Uma novia de porca
Assediando um barrão.
Um andarilho sem rumo,
Danado mascando fumo
É A CARA DO SERTÃO
Um arrancador de dentes
Que não cobra a extração,
Mas entrega ao paciente
Um santinho de eleição.
Faz ali uma costura,
Depois traz a dentadura
É A CARA DO SERTÃO.
Um surdo dançando valsa
Cego pedindo um tostão,
Uma gata no telhado
Aumentando a criação.
E um barbeiro gozador,
Dizer que aquilo é amor
É A CARA DO SERTÃO.
Um soldado de polícia
Discutindo com um ladrão,
As pastorinhas cantando
Na hora da comunhão.
O padre bem caladinho,
Danado tomando vinho
É A CARA DO SERTÂO.
Aluno na palmatória
Porque não deu a lição,
Um parque tocando xote
De Luís rei do baião.
E a moçada na varanda,
Esperando pela banda
É A CARA DO SERTÃO.
Mundim do vale rimando
ResponderExcluirBem cedo no calçadão
Um bêbado sempre perto
Só falando em eleição
Falando que vende o voto
Tudo isso que eu anoto
É a cara do sertão
Parabéns grande poeta
De divina inspiração
Tudo que você falou
Nesta terna ocasião
É com certeza um retrato
Que Jesus foi quem fez de fato
A cara do nosso sertão
Ficou do jeito que eu pretendia fazer enão conseguí.
ResponderExcluirMuito grato eu fico.
Abraço do Chico.
Mundim.
Mundim,
ResponderExcluirLatada toda enfeitada
Lua branca, pé no chão
Sanfona preta e dourada
Pandeiro e violão
Muita menina faceira
Mulher falando besteira
É A CARA DO SERTÃO
Mundim do Vale rimando
Seus versos lá no oitão
O som de galo cantando
No armador um gibão
Uma casinha de taipa
Pois disso ninguém escapa
É A CARA DO SERTÃO
Baião de dois na panela
Garapa, milho, feijão
Café torrado no caco
Gergelim e agrião
Capote bem temperado
Carne de porco e de gado
É A CARA DO SERTÃO
De noite o céu estrelado
E o som de um violão
Fogueira, xote e xaxado
No peito a emoção
Saudade de um passado
Que sempre será lembrado
É A CARA DO SERTÃO
Um abraço fulorado,É A CARA DO SERTÃO
Claude - Flor da Serra Verde
Eu e o Cláudio rimando
ResponderExcluirNo Chico ou no Caldeirão,
Magnólia reparando
Nossa peleja em mourão.
É mesmo que escutar
Luís Lisboa falar:
- É A CARA DO SERTÃO.
Claude Bloc arrodeando
A fogueira de São João,
Dançando com uma amiga
Na maior empolgação.
É a mais pura certeza,
Que uma fogueira acesa
É A CARA DO SERTÃO.
Zezê pedindo a Fafá
Pra ler um verso do irmão,
Fafá muito atenciosa
Recita a rima do João.
Quando a poesia finda,
Zezê diz:- Que coisa linda!
É A CARA DO SERTÃO.