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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

OS GALEGOS DE QUILARA - Por Mundim do Vale

Eram meus vizinhos em Várzea Alegre, os irmãos Pereira. Pedro, conhecido como Pedão de Clara, Antônio, tinha o apelido de Topa-tudo e Cícero, era chamado de Ciço Louro. Moços católicos e muito trabalhadores, só tinham um defeito, quando bebiam ficavam violentos.

Os três bebiam juntos e quando estavam de fogo acabavam: feira, samba, velório, fogo de broca, briga de galo, queima de caieira, pescaria e até batizado coletivo.

Era no mês de janeiro, Chagas Bezerra promovia a festa de Nossa Senhora Aparecida na cidade e para garantir a segurança na cidade, trouxe do quartel de Juazeiro um reforço de cinco soldados.

No sábado pela manhã horário de feira os irmãos bebiam e jogavam caipira,quando Pedão cismou com um Santeiro. Aí não teve santo que desse jeito, foi cacete pra tudo quanto é lado, o pobre do santeiro depois de levar uma bordoada de cada um, pegou o beco da Liberdade, subiu o alto da prefeitura e até hoje anda sumido.

Com a fuga do santeiro os três ficaram mais violentos ainda, aí foi quebra-quebra geral. Era caixão pra cima, trança de alho no chão, colorau misturado com farinha, caldo de cana com querosene e o povo correndo sem direção certa.

Nessa hora o anão Patola correu pra debaixo do caminhão de Auto Pimentel gritando:
Eita qui os galego de Quilara hoje tão é cá gota!
Nesse momento em que a feira parecia ter recebido a visita de uma tsunami os soldados do reforço se apresentavam ao delegado civil para tomarem posse.
O delegado recebeu os cinco e foi logo dando as ordens: Muito bem para começar vão ali no mercado e me tragam os meninos de Clara presos, mas vão com cuidado, assim como quem procura pinico no escuro. Porque os meninos de Clara tem costume de botar soldado para correr.

Enquanto isto na feira era Pedão quebrando as mesas, Topa-tudo as cadeiras e Ciço Louro rasgando as toalhas. Quando Pedão acabou de quebrar a garapeira de Zé Dias e Ciço Louro moeu uma cana no lombo de Zé Terto, chegou o reforço dos cinco soldados novatos e um deles foi falando logo com Pedão:
Teje preso!
Num Tejo!
Teje preso caba safado!
Num Tejo sordado fí duma égua.
Aí fechou-se o tempo. Os irmãos formaram um triângulo humano, deixando que os soldados ficassem no centro. Quando Pedão dava um pescoção num que ele caia fora do triângulo, Ciço Louro varria ele de volta pra dentro.

Pedão aberturou um, que foi conta de rosário pra tudo quanto é lado, rebolou o infeliz por cima dos potes de Maria Curta lá mesmo ele ficou. Topa-tudo pegou outro deu um murro tão condenado que o chão tremeu, depois pegou pelo fundo da farda jogou de cabeça pra baixo num camburão de lixo. Ciço Louro pegou outro arrastou pelos pés depois deu um balanço e gritou: Uma, duas, três, meia e já! Rebolou o coitado dentro do cacimbão do meio da rua, chega fez tibungo.

Tendo ficado apenas dois praças no triângulo, Pedão ficou com um e os dois irmãos dividiram o pé do ouvido do outro. Pedão em um momento se distraiu enquanto dava um pesqueiro num cambista que passava e o soldado que estava com ele, fugiu pegando a mesma rota do vendedor de santos.

Com essa segunda fuga foi que aumentou a raiva dos três, aí não sobrou mais nada inteiro, nem banca de meisinha foi poupada.
Vicente Grande entrou na barbearia de Antônio Bento gritando: Fecha, fecha qui os minino dos Pereira tão acabando tudo! Nesse momento Luis Bezerra vinha na rua Major Joaquim Alves quando avistou Vicente Cesário, perguntou: Vicente. Que corre-corre é aquele ali pro lado do mercado?

Não é nada não Luís, é só os galegos de Clara, dando as boas vindas aos soldados que Chagas Bezerra trouxe.

2 comentários:

  1. Eita, Que esses três galegos que o Mundim do Vale arranjou, dava para combater até o bando de Lampião.
    Muito bom se tiver sido verídico e melhor ainda se for imaginado.

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  2. Prezado amigo.

    "Tropeiro do Mameluco".

    Os seus acesos e os seus comentarios dão vida ao nosso Blog.

    Agradecemos e convidamos a continuar trazendo a sua valiosa contribuição.

    Esses galegos do Mundim devem ter acabado muitos "Sambas", inclusive no Mameluco.

    Abraços.

    Antonio Morais

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