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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A ODISSÉIA DE GRIGORO VÉI - Por Mundim do Vale


Eu tava no meu amado sossego, quando contemprei os astro e disse:

- Será qui vão mexer c’a política sem butá Grigoro véi na dança? No sufragante queu disse isso, chegô Cirilo e Bastião, dois caba bom, qui me disseram: - Grigoro véi, sabe que qui tá pra acontecer? - Sim sinhô, sei não, vá dizendo...- A política tá pra subi e os casacudo tão querendo mexer na mesa do menestrel.
- Tá bebo o quê?
Entrei na minha tosca, vesti meu terno de casimira azul, calcei meus bruziguim da pelica especial, chamei Cirilo e Bastião, dois caba bom, e empurrei pru Ricife.No camin, tumei dois vintém da branquinha pra limpá a vista e contemprá os astro.
Quando fui chegando, já encontrei a Banda do Quatru, tocando um dobrado de cortá as corda do coração. Na frente, um nego mais alto do qui as porta do cais, espaiandomoleque qui nem galinha em formiga.

Gritei Cirilo e Bastião, dois caba bom, foi o canto mais limpo qui achei. Sessenta praça mi cercô, marquei circunferência, derrubei tudo dum rasteiro.
Aí empurrei pru Triato Santa Isabel. Na entrada, o porteiro disse qui pra entrá tinha qui tê o biete.
- Tá bebo o quê?
Miti a mão no bolso do meu terno de casimira azul da boa espeiando, tirei uma pataca de dois vintém, comprei o biete e entrei. Aí lá dento, sim, era um salão decente. Todo forrado de tapete e cetim, o Cruzeiro do Sul dum lado, o Sete Estrelo do outro. Aí vi uma morena bonita lá na frente, cum vestido bordado ..., alamarque pela frente, superlafique de lado. Inchou-me a bofada com aquilo. Me lembrei das pastorinha do meu sertão, aí gritei: arriba, aiá.
Aí um cabeçudo lá de cima fez ... psiu!Eu disse a ele qui "psiu" na minha terra é pra cabra vagabundo e ladrão de cavalo. Pra qui eu disse isso?

Não ficou satisfeito e quis me agredir, taquei-lhe um fura bolo na testa qui a garapa vermeia desceu. Aí foi briga pra mais de mil equinhentos. Istraque, treque, moleque, cadeira pur cima, trepeça pur baixo,quando se ouviu uma voz:

- Mataro o chefe de puliça.
Fui saindo na porta, tinha um sargento meu inimigo, mandou tocar-me o zinco, deram-me duas zincadas, qui a garapa vermeia desceu.
Sessenta praça mi cercô, marquei circunferência, derrubei tudo dum rasteiro.
Rra, rra, rra, rra, seis leguas e meia dum margúi tirei, fui saí em Olinda.
Lá ia haver dois casamento, um da fia do sacristão, outro da fia do boticário. Perguntaro quem sabia cantar modinha, todo mundo gritou pur u'a boca só: - Grigoro Véi! E canto mermo. Um disse eu toco violão, outro disse eu pinico a prima. Me dero um sustinido bemol cum menor quadrado, aí eu cantei: - Paulo, Chancho, Martim, cada um nos seus curral. Me elogiaro e a quadria terminou.
Aí eu fui discutir latim c'um professorzin de francês qui tinha pur lá.
Eu disse: - "merci mamá, merci bocu, qui quer dizer? Meus óculo são de vrido. Merci bocu, merci mamá, qui quer dizer? Minha malota pesa sete quilo. Num fiquei satisfeito cum o professorzin, desci-lhe a viola no quengo, fiquei só cum o colarinho. Sessenta praça mi cercô, marquei circunferência, derrubei tudo dum rasteiro.
Rra, rra, rra, rra, seis leguas e meia dum margúi tirei. Aí fui sair na minha tosca. Deitei na minha rede, dei uma tragada no meu cachimbo qui cabia três varas e meia de fumo, dei um balanço de légua e meia, e disse:

- Grigoro vei nunca mais se mete em política.


Autor desconhecido.

Um comentário:

  1. Mundim:não foi pru Grigoro Véi que o Patativa fez essa?

    Proquê dexei Zabé.

    Seu moço,eu nunca menti
    nem nunca gostei de manha
    se do meu sertão saí
    pra vivê na terra istranha
    é só porque sou casado
    mas porém,sou separado
    parece mesmoum castigo
    sofro o maió aperreio
    por causa de um nome feio
    que a muié dixe comigo.
    Certa vez ela teimava
    me dizendo desaforo
    parece que Zabé tava
    com o capeta no córo
    como a cobra venenosa
    tava inchada e rancorosa
    já no ponto de brigá
    e me chamou de chifrudo
    com isto,ela dixe tudo
    e eu vim me imbora de lá...

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