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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 23 de julho de 2014

SEXTA DE TEXTOS - Sávio Pinheiro

GUERRA E PAZ NO SERTÃO

Antes da fenomenal investida tecnológica no controle da disfunção erétil o sertanejo se limitava a duas proposições básicas no tocante à sua sexualidade: calar diante do humilhante problema ou fantasiar histórias amorosas de procedência altamente suspeitas.

A mente erétil do homem do campo não parava de compor criações heróicas no restrito campo da sua masculinidade, quando proseava com os seus pares. Amendoim, ovo de codorna, catuaba, abacate, pó de guaraná, rapadura preta e xaropadas diversas compunham o imaginário sexual daqueles seres no auge das suas andropausas. Era mentir ou mentir.

Diferente do sexo oposto, que jamais escondera de suas confidentes os trâmites corriqueiros e verdadeiros de suas trajetórias amorosas. A diminuição do desejo sexual, as ondas de calor, o ardor urinário e a irritabilidade, que se instalavam num determinado período de suas vidas, nunca fora segredo entre elas. O seu comportamento sempre se mostrou honesto e sincero, apesar do olhar de desconfiança masculina, presente nas suas confissões, quando necessárias.

O rurícola, com a sua ereção cerebral sempre acesa, nos áureos tempos da testosterona farta, jamais externava alguma credibilidade às suas companheiras, achando que aquelas conversas não passavam de desculpas amarelas; e utilizando o seu raciocínio machista de superioridade praticou, inúmeras vezes, o desleal ato libidinoso de pulamento de cerca, para suprir as suas necessidades fisiológicas e safadológicas, que quando descobertos... Era brigar ou brigar!

- E aí, compadre? Vai encarar o azulzinho? – Perguntou o médico e inseparável amigo ao seu companheiro de conversa. – Não sei do que você está falando, Dr. Iran. - O confidente doutor relata em detalhes sobre a última descoberta no campo da medicina que está revolucionando o mundo. Uma medicação que aumenta o aporte sanguíneo aos corpos cavernosos do dito cujo, que produz maravilhas.

O Don Juan de outrora reprisa em segundos o longa-metragem de sua vida, cujo enredo o levou a tantas discórdias e brigas ferozes com a sua fiel esposa, e que numa resposta rápida, precisa e consciente deixa atônito o seu grande confidente e dedicado médico.

- Não, Dr. Iran! Mesmo sabendo que a sua intenção é apenas de me ajudar, eu não vou aceitar este medicamento, não! – Mas por que, compadre? Ta virando a casaca? – Juro a você por tudo que é mais sagrado, meu caro doutor: A paz que habita a minha casa só voltou a reinar... Depois que esse João Teimoso murchou!

4 comentários:

  1. Dr. Savio.

    Complicado. Evitar brigas, a unica vantagem.

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  2. Dr. Sávio,

    uma vez um velho lá do Riacho da Areia, no municipio de Granjeiro,disse que calmante de mulher era o "Dito Cujo" atuante.Quando isso acontecia a mulher dele amanhecia o dia varrendo o terreiro cantando.Lala..lala...lala...

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  3. Grande poeta!

    Parabéns!

    Chegou aos ouvidos do mestre das letras Dr. Sávio Pinheiro seja em verso ou em prosa sai história!rsrs

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