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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 23 de junho de 2012

Meninos do Sanharol - Por Antonio Morais

André Junior, quando estava com os seus 8 anos, foi acometido por uma enfermidade  diagnosticada como  Febre Reumática.  A medicação prescrita era uma  benzetassil de  oito em oito dias. Só quem sabe o quanto uma Benzetassil doe é quem  já tomou. De oito em oito dias era o mesmo fuzuê, quatro caboclos para segurar Junior e uma salve rainha de nomes feios com o aplicador da injeção Raimundo Félix, o conhecido Mute Félix.

0 meu pai já estava encabulado com aquela situação e  fez uma proposta ao neto: Meu filho, se você não falar mais nomes feios com compadre Raimundo Feliz eu te dou uma garrota. Junior prometeu  comportar-se e ganhar a garrota. A oferta valia o sacrifício.

Mais que nada, bastou Raimundo Felix chegar o Junior já o olhava atravessado. A agulha era um pouco mais grossa do que as que aplicam vacina em gado atualmente. Quando a agulha enviou na bunda do Junior ele gritou a todo pulmão: Larga de ser malvado fela da puta filho de rapariga, vai enviar esta agulha na bunda da tua mãe corno  velho veado. Junior perdeu a garrota, mas felizmente  ficou  bom, a doença sarou  e Raimundo Felix era muito amigo e bom,   não se aborrecia com os desaforos e palavrões.

2 comentários:

  1. Lembro como se hoje fosse o sacrificio que se fazia para aplicar a injeção em Junior. Felizmente quando se tornou adulto sarou e nada mais sente.

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  2. Meus irmãos Marcos e Ricardo, o primeiro com sete anos e o segundo com seis, além da grande semelhança, tinham a mesma altura.Uma vez eles contraíram aquelas doenças de crianças e a minha mãe consultou o Dr. José Iran Costa que prescreveu um medicamento injetável para os dois.
    Para aplicar veio Seu Nelinho que conhecia os dois, mas já estava com a visão desgastada. Os meninos já foram ficando um pouco desconfiados, Marcos que era
    mais esperto tratou logo de fugir enquanto o enfermeiro desinfetava o material. Quando terminou o seu trabalho, Seu Nelinho foi até Ricardo e começou a fazer
    aquele ritual de tortura expulsando aquelas duas gotinhas da siringa.( Que pra
    mim maltrata mais do que a picada ) Em seguida aplicou a injeção e Ricardo foi chorar em outro cômodo da casa.
    Seu Nelinho preparou o material para a segunda injeção e saiu a procura de Marcos que já devia tá do Sanharol pra lá, como não encontrou o menino foi
    voltando quando viu Ricardo chorando falou:
    - Deixe de ser mole, cabra frouxo! O outro já tomou a dele e nem chorou,já ganhou foi o mundo.
    Depois dessa conversa, fez o mesmo ritual e aplicou a injeção em Ricardo no
    mesmo braço.
    Depois disso, toda vez que Ricardo via Seu Nelinho apontar na esquina, com aquela maletinha de metal, corria gritando:
    - NÃO. DE NOVO, NÃO!

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