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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 21 de janeiro de 2024

472 - Preciosidades antigas de Vàrzea-Alegre - POR ANTONIO MORAIS



Mariana Alves Bezerra, era irmã do meu avô Pedro Alves Bezerra, Pedro André. Casada com José, conhecido por José de Mariana. Depois dos 50 anos nos costados, Mariana começou a ficar sovina e, numa madrugada qualquer José teve uma raiva condenada dela e se danou no mundo. Durante muitos anos não se teve noticia do homem. Ele era artesão, fazia tabaqueiro, um artefato de chifre de boi que colocavam algodão e, com o atrito de um esmeril numa pedra a faísca o acendia e se podia acender cigarros e outras utensílios. Nestes seus artefatos ele colocava uma marca, um sinal, tornando-o diferenciado dos outros e muito conhecido.

Um dia, um varzealegrense passava por uma cidade do Maranhão, Barão de Grajaú, e viu um garoto vendendo uns tabaqueiros com a marca denunciada. Perguntou para o meninote onde se podia encontrar o artesão e o garoto indicou o local.

Encontrou-o numa cabana improvisada com  palhas, debaixo de umas palmeiras de coco babaçu. O Zé de Mariana lixando uns chifres para fazer seus artesanatos e uma mulata sentada no chão quebrando  amêndoas de coco babaçu, e, um pouco afastado, numa trempe, uma panela preparando o feijão do almoço.
Compadre! Como é que você abandonou sua propriedade, seus bens, sua família para viver nestas condições? José de Mariana respondeu assustado: a única coisa que espero e quero é que você não diga a ninguém que me viu aqui!

Chegando a Várzea-Alegre, não se conteve e contou a família. Dois dos filhos convidaram o padre da cidade e rumaram para o Maranhão à procura do pai. Encontraram o mesmo cenário. O Padre tomou a palavra e, largou conselho, enquanto José nem dava por ela, continuava lixando os chifres e a mulata quebrava os cocos. A certa altura o padre disse para os irmãos: Não tem jeito, uma coisa dessas só pode ser mesmo um feitiço! A mulata se aborreceu com a historia, se aluiu do chão, colocou a mão em cima do "possuído" e lascou: E o feitiço está aqui seu padre!

Os filhos voltaram para Várzea-Alegre e Zé de Mariana tomou rumo ignorado. Não se teve mais noticias. Dele ficou apenas a historia.

Em Várzea-Alegre, quando uma mulher começa com lera, o marido costuma dizer: Olhe, você deixe de moca se não eu faço como Zé de Mariana. Mas, quando perguntavam a Mariana por José ela respondia: José está "rodiando" o mar.

3 comentários:

  1. Esta é mais uma historia real, acontecida com familiares de nossa genealogia que está resgatada. Na verdade Jose de Mariana desapareceu e não se teve mais noticias dele. Tudo que está escrito é verdade. O casal se desentendeu e não houve jeito. Não se sabe, ao certo, que fim teve Jose de Mariana, nosso parente. Quem sabe a Enternet localize algum descendente dele. O Enternet rodeia os mares.

    Abraços.

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  2. Interessante a história, sempre ouvia falar em Várzea-Alegre sobre o ditado da sovinagem, mas não sabia o verdadeiro sentido da palavra. Meu pai dizia: meu filho!!!, a mulher depois que deixa de vir a regra ela começa a ficar sovina. a regra a que ele se refere é a menstruação.

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  3. Morais, ri bastante com a historia mas, às vezes, encontra-se a felicidade longe de casa. Meu pai falava de um tal de Zé Tabaqueiro. Acho que seria esse ai. Mundo pequeno e cheio de lições interessantes. Vou ficar de olho arredor do mar. Já encontrei amigos em lugares distantes e inesperados. Vou te avisar quando encontrar com Zé.

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