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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 24 de fevereiro de 2013

CAUSOS LÁ DE NÓS - Por Mundim do Vale.

O  ENTERRO  DE  VICENTE  ARAME.

Eu aqui não consigo precisar o ano, mas posso afirmar, que foi num ano de um bom inverno e uma grande safra de arroz, em Várzea Alegre – ceará.
O Sr. Prefeito chamou o seu secretário e falou:
- Esse ano nós vamos fazer a resta do arroz, eu quero que você cuide do projeto, tomando todas as providências.
O secretário arrumou um animal e mandou Vicente Arame ao sítio Unha de Gato, para avisar a Chico de Zé Joaquim, que viesse a Várzea Alegre, para conversar com ele.
Era ainda no mês de maio mas Chico veio atender o chamado. Quando encontrou o secretário foi logo falando:
- Pronto. Seu secretaro !
- Chico, eu mandei lhe chamar aqui, porque o Sr. Prefeito vai fazer a festa do arroz no mês de junho e eu queria contar com você.
- No qui eu puder, pode contar.
- Eu queria que no dia 26 de junho, você viesse com o seu pessoal.Traga a banda de pífano, o grupo de maneiro pau e os Cortadores de tesouras. Mas chegue cedinho, que é pra dar tempo deles vestirem as fardas que o Mestre Vicente Salviano vai fazer.
- Pode deixar qui eu cuido de tudo.
Quando foi no dia 24 de junho, faleceu uma tia do prefeito. E o prefeito ordenou que fosse suspensa a festa. Na manhã do dia 25 o secretário arranjou um cavalo e mandou Vicente Arame para a Unha de Gato, para avisar a Chico que não trouxesse mais o pessoal.
Quando amanheceu o dia da grande festa, o secretário tomava o café da manhã, quando chegou Chico de Zé Joaquim e Zé Sobrinho. O secretário assustou-se mas foi logo dizendo:
- Chico eu pedi para você organizar o pessoal mas….. Chico foi logo interrompendo:
- Já tá tudo alí na rua de São Vicente. Eu truve os caba do pife, truve os caba do manêro pau e truve tombém os cortador de tisoura.
- Pois era o que eu estava tentando lhe dizer. Morreu uma tia do prefeito e não vai mais ser possível a realização da festa.
- Ôxente omi ! e num vai mais ter a festa não?
- Infelizmente não. Eu até arranjei um cavalo e mandei Vicente Arame  ontem cedinho avisar a vocês. Ele não foi Não?
-  Foi não. E quando nóis vinha decendo, qui passamo na Boa Vista, nóis vimo o cavalo amarrado na ceica e Vicente bebendo cachaça mais Valera na budega de Chico Inaço. E agora o qui é qui eu vou dizer os caba?
- Diga a verdade. Diga que a tia do prefeito faleceu e não vai mais haver a festa. Diga também que vocês deram a viagem perdida, porque o irresponsável do Vicente Arame, não foi dar o recado.
- Apois eu acho qui é mais mió eu num dizer qui foi pru causa de Vicente. Pruque quando nóis for subir, os caba vão vê ele lá im Chico Inaço e aí o tempo vai sifechar. E eu num tou apariado a vim amenhã  subindo e decendo serra, da Unha de Gato pra Rajalegue não.
- E voçê vem para Várzea - Alegre fazer o que?
- Ora mais tá ! Eu vem pru interro de Vicente Arame.

Um comentário:

  1. Prezado Mundim.

    Conheci muito bem os José Joaquim da Unha de Gato. gente boa e amiga. Quando faziam as suas apresentações, faziam com prazer, com gosto, com a alma. Vicente Arame escapou fedendo.

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