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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 14 de março de 2013

SEXTA DE TEXTOS - Dr. Sávio Pinheiro

CURIOSIDADE POÉTICA

Vejam a diferença destes dois sonetos através do tempo:

90 anos depois.

FUMO: Florbela Espanca (1923)

Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...


FUMO: Sávio Pinheiro (2013)

A humana espécie ao nascer
Traz consigo um destino declarado:
Tem certeza que um dia irá morrer,
Mas do quê, nem do quando é avisado.

O fumante, acuado, em si se vê
Na potente tragédia do atestado,
E fingindo o momento e o porquê,
Não dá conta, apesar de avisado.

O enfarte, o câncer e o enfisema
Vão sugar a pintura e o poema
De um vasto passado humanizado;

E no quadro macabro dessas telas
Só se esquiva expirar de tais mazelas
Se, precoce, morrer atropelado.

Um comentário:

  1. Dr. Savio.

    Como no primeiro caso haviam enganos, no segundo existem certezas.

    Abraços.

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