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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 19 de julho de 2013

CAUSOS LÁ DE NÓS - Por Mundim do Vale.

Dedicado ao primo Fernando Souza, que há tempo vem me cobrando a divulgação desse causo.

INVASÃO  DE  DOMICÍLIO.

Todas às vezes que nós íamos à Várzea Alegre-Ce. Pedro Souza programava umas pescarias.
Era festa do padroeiro e o cardume dos Piaus estava todo na cidade. Pedro marcou uma pescaria para o domingo, na ponte dos Grossos. No sábado nós tomamos uma cervejada nas barracas e completamos o tanque no CREVA – Clube Recreativo de Várzea Alegre. No dia seguinte nós fomos para a Vazante, para pegar os pescadores e o material de pescas. Na hora da saída Liêda olhou para Pedro e perguntou:
- Tu vai também Pedro?
- Claro que vou. Fui eu que organizei a pescaria.
- Ave Maria! Esse homem chegou ontem aqui quase morto. Parece que tomou  todas as cervejas das barracas sozinho.
- As que eu não bebi, Raimundim mais sérgio beberam.
Na chegada do Riacho do Machado, João Piau, Vieira Neto, Nonato Souza, Fernando Souza, e Luís Sérgio, já foram logo jogando tarrafas e metendo as mãos nas locas atrás dos peixes.
Eu me afastei um pouco do riacho e me deitei de baixo de uma moita de mufumbo e comecei a cochilar. De repente escutei a voz de Pedro:
- Ou de casa!
- Ou de fora!
- Ainda cabe um nesse apartamento?
- É só um?
- É.
- Pois entre e ocupe aquele outro quarto.
Pedro forrou a cabeça com um bornal e começou a cochilar também.
De repente foi chegando Luís Sérgio, que estava com uma ressaca maior do que a minha e a de Pedro juntas. Mas sendo ele mais novo, ainda estava aguentando ficar de pé. O suposto inquilino foi querendo se acomodar, quando eu disse:
- Ei Sérgio. Não cabe mais não. Pode arribar.
Ele foi na direção de Pedro, quando começou a mexer na moita, Pedro gritou:
- Tem gente!
Sérgio zangou-se e falou:
- Arre égua, que povo mais mal edudado, não sabem nem receber visitas.
Pedro rebateu:
- Que visita? Você não sabe nem se fica e já vai logo armando a rede. Isso aí é INVAZÃO  DE DOMICÍLIO. Vá ver se consegue se agasalhar naquele quartinho que era de Antônio André.
Sérgio desceu para o riacho, encheu uma garrafa de água, pegou um copo descartável e subiu para uma moita, que ficava à seis metros do local onde nós estávamos. De lá ele enchia o copo e jogava na nossa direção. Como o local que Pedro estava era mais próximo, a água só chegava até ele.
Uma hora lá Pedro sentou-se com a cara ruim e falou:
- Ôxente, Raimundim. No teu quarto também tem goteiras?
- Tem não. Não tá nem chovendo lá fora.
- Pois no meu tem.
Vieira Neto vinha subindo para pegar um landuá, Pedro chamou Vieira e ordenou:
- Vieira. No dia que nós vier pescar de novo, você venha antes com Roberto e tire as goteiras desse apartamento.
Vieira Neto que estava de pé, olhou na direção norte e avistou Luís Sérgio com a garrafa e o copo na mão. Notando a pegadinha de Sérgio falou:
- Que goteira? Pai parece que tá é delirando. Olhem aí de onde é que estão vindo as goteiras.
Quando eu confirmei a brincadeira falei sério com Sérgio:
- Sérgio. Você devia respeitar os mais velhos.
Sérgio só fez dizer:
- Vocês tem muito é sorte, porque a minha intenção era jogar mijo. Mas eu mijei pouco e o jeito que teve foi misturar com água.
Para completar o castigo de Pedro, Vieira ordenou:
- Já que foi pai que inventou a pescaria, ali tem um baláio de peixes pra pai tratar pra melhorar da ressaca.
Pedro olhou pra mim e perguntou:
- Tu vai me ajudar , Raimundim.
- Vou não Pedro. O que eu podia fazer por você eu já fiz, que foi dividir o apartamento. 

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