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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Nunca antes - Por Paulo Guedes, O Globo

Com a economia voando, o problema da corrupção na política era simplesmente irrelevante para a maioria da população. A razoável qualidade da política econômica era como uma blindagem para malfeitos do governo. Abusos, tanto no Poder Executivo como no Congresso, foram tolerados pela grata complacência de uma nova classe média emergente.

O histórico julgamento do mensalão foi como um despertar da opinião pública, graças ao brilhante desempenho de Joaquim Barbosa à frente do Supremo Tribunal Federal. Agora, com a forte desaceleração da economia de um lado e recorrentes manifestações disparadas por redes sociais de outro, inaugura-se uma fase de baixa tolerância da opinião pública com as nossas obscuras práticas políticas.

O medíocre desempenho da economia transformou a indiferença popular em irritação incontida. A perda do poder de compra dos salários com a inflação ascendente foi como um nervo exposto tocado pela elevação das tarifas de transporte urbano.

Mas a verdade é que sobem também as mensalidades escolares, os aluguéis, as despesas com alimentos, em uma alta generalizada e perversa de preços, ao mesmo tempo em que ocorre a desaceleração do crescimento, configurando a ameaça da “estagflação”.

Prisioneiros da armadilha social-democrata do baixo crescimento, temos enorme dificuldade em perceber que a estagflação na economia e a corrupção na política são as duas faces de um mesmo fenômeno: um Estado hipertrofiado e disfuncional.

Suas digitais são visíveis em toda parte pela ininterrupta escalada dos gastos públicos como porcentagem do PIB. Sua arquitetura pertence ao Antigo Regime, mas foi preservada por sucessivos governos de uma social-democracia obsoleta, mas hegemônica por viciosas alianças com o fisiologismo de políticos conservadores.

Tiveram o mérito de democratizar os orçamentos públicos com os programas sociais de transferência de renda, mas não ousaram enfrentar os privilégios, os subsídios e as estruturas ineficientes do Antigo Regime.

A contínua expansão dos gastos públicos sob os governos militares e social-democratas causou outras dificuldades além da corrupção e do baixo crescimento. Nunca houve na História da humanidade um programa de combate à inflação que levasse tanto tempo.

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