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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

CAUSOS LÁ DE NÓS - Por Mundim do Vale.

GALÊGO  MATA  SETE.

No ano de 1980, a minha empresa foi contratada para pintar um toldo na churrascaria  do Posto Bambu, Na Av. Luciano Carneiro em Fortaleza. Entre os funcionários eu escalei Hélio Rolim, porque sendo ele mais alto, tinha condição de fazer o trabalho apenas com cavalete.
Quando foi por volta das 14:00 Horas, Hélio me ligou pedindo material. Eu fui até o posto, para levar o material e olhar o andamento do serviço. Chegando lá me sentei numa mesa, pedi um refrigerante e fiquei conversando com ele que estava no cavalete de frente do toldo. Do local onde eu estava só dava pra ver as suas  pernas do joelho pra baixo.
Hélio usava um chinela japonesa mais encardida do que cordão de rosário, entre um dedo e outro tinha mais sujeira do que na ficha de certos deputados.
Na mesa vizinha tinha dois sujeitos bebendo e conversando. Um deles estava com um cigarro aceso e falou para o outro:
- Eu vou apagar esse cigarro nos pés daquele pintor.
Eu para fazer a defesa do meu funcionário falei:
- Se eu fosse você mudava de idéia. Você conhece ele?
- Conheço não.
- Pois ele é da família Rolim da Paraíba. É conhecido pelo apelido de; “ Galêgo mata Sete “ Esse apelido ele arranjou depois de uma confusão que ele teve lá em São Bento da Paraíba, onde matou dois e baleou quatro de uma família só. É por isso que ele está foragido aqui no Ceará.
O sujeito tinha acabado de apagar o cigarro no cinzeiro, quando Hélio desceu do cavalete e levantou o toldo. Sem saber de nada Hélio olhava pra mim e para os caras ao mesmo tempo.
Hélio estava vermelho do sol, suado, cabelo assanhado e a barba mais fechada do que maleta de freira. Para cuspir ele tinha que usar canudo.
O sujeito do cigarro já viu em Hélio o pérfil do pistoleiro. Olhou para mim e pôs o dedo indicador sobre os lábios, fazendo um sinal para que eu não falasse nada. Eu fiz outro sinal confirmando e ele pediu a conta.Naquela hora eu falei bem alto para Hélio:
- Hélio. As balas que você pediu só vem mais tarde, o cara disse que só pode entregar depois das quatro horas.
Ouvido aquilo o sujeito dispensou o troco e pegou o beco.
Depois que ele saiu eu fui contar a história mas Hélio não gostou:
- Mais homem. Você não era pra ter dito isso não. O cabra ficou sabendo que eu estou sem bala, se ele resolver voltar o que é que eu faço?
- Não precisa você fazer nada. Ele não volta tão cedo.

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