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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 28 de dezembro de 2013

A COPA E A COPA NO PAÍS DO FUTEBOL - veja

Copa do Mundo que se disputará de 12 de junho a 13 de julho do ano que começa será a mais difícil da história para o Brasil. A previsão de dureza para aquele que o mundo inteiro vê como o “país do futebol” — por ser a única nação pentacampeã e também a única a ter comparecido a todas as edições do evento, desde que um torneio capenga com a presença de quatro escassas seleções europeias abriu a série em 1930, no Uruguai — não leva em conta apenas as chances esportivas da equipe comandada por Luiz Felipe Scolari. Mesmo em uma Copa maiúscula, que contará com a presença de todas as equipes que já levantaram a taça, ninguém seria louco de subestimar o Brasil, muito menos jogando em casa. O prognóstico cauteloso se deve mais a fatores extracampo, que desta vez não poderemos nos dar ao luxo de relegar a segundo plano. Haja o que houver, seja quem for o campeão, existe desde já uma certeza: na Copa do Mundo do Brasil, o Brasil vai se encontrar com o Brasil — o país onde se joga o futebol mais vitorioso e festejado do mundo com o país que é pereba na infraestrutura, perna de pau na educação, consistente na desigualdade social e matador na corrupção. Nenhum dos dois é uma mentira, mas, naturalmente, estranham-se no espelho.

Isso torna a Copa de 2014 única: aquela que, mesmo ganhando, corremos o risco de perder. Pela primeira vez, vencer nos gramados não será suficiente. De forma incomparavelmente mais desafiadora do que em 1950, quando o Mundial da Fifa era um certame paroquial comparado à superprodução de hoje, será preciso vencer nos aeroportos, nos hotéis, nos táxis, nas filas diante dos estádios e na segurança — em resumo, na organização — um jogo em que o placar já foi aberto e nos é amplamente desfavorável, com obras atrasadas, promessas que nunca saíram do papel, orçamentos estourados e desculpas estropiadas como a do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, ao dizer que nunca viu a noiva chegar à igreja na hora marcada. 

Ocorre que, se o Brasil bom de bola pode ser escalado no papel de noiva, o país que se ofereceu para sediar a Copa é a própria igreja. Apesar dos percalços, e ainda que haja andaimes no altar, tudo transcorrerá, com alguma sorte, sem maiores problemas. Mesmo assim, o jogo não estará ganho. Será necessário demonstrar ao vivo, diante dos olhos do planeta, que o título de “país do futebol” não é um slogan vazio que uma parcela substancial da população, reunida do lado de fora da igreja com as mãos cheias de pedras em vez de saquinhos de arroz, encara com rancor e desdém, como se não passasse de um artifício publicitário destinado a enganar a massa.

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