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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A verdade que se lixe - Por Fábio Campos, no O POVO.


Durante oito anos, a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República manteve um banqueiro tucano no comando do Banco Central. Não era um banqueiro e nem um tucano qualquer. Tratava-se de Henrique Meireles, que havia sido dirigente de uma potência global na área financeira chamada Bank of Boston. Meireles era um homem do mercado financeiro. Como presidente do Banco Central, foi fiel aos seus princípios e jamais agiu ou disse algo em contraposição a esse mercado.

É jocoso assistir no programa eleitoral a campanha do PT afirmar que, se eleita, Marina dará poder aos bancos. Ora, os bancos já estiveram no centro do poder pelas mãos do ex-operário que presidiu o País. Enquanto esteve no Banco Central, Meireles foi intocável. Nem sequer a oposição apontou problemas na indicação.

Pelo que se depreende da propaganda, o PT diz que Marina dará poder aos bancos por sua relação com uma filha do fundador do Itaú, Maria Alice Setúbal, que se formou em Sociologia, trabalhou a vida toda com educação, nunca foi nem sequer bancária, fez doações para campanhas eleitorais petistas e trabalhou para eleger o atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que foi bancado por Lula.

É claro que a campanha do PT não está falando para os mais escolarizados e esclarecidos. Este público é resistente a esse tipo de propaganda sem compromisso com a verdade. A ideia é aprofundar a aposta nas massas que acabam sendo mais disponíveis (e vulneráveis) para aceitar esse tipo do discurso. O PT conhece bem essa arma. Afinal, em outros tempos, já foi vítima dela.

Nossas campanhas eleitorais viraram isso. A verdade, os fatos e a História passam ao largo. Tornou-se impossível discutir certas propostas racionais e comuns a vários países democráticos como, por exemplo, estabelecer a autonomia do Banco Central. Onde foi adotada, essa autonomia mirou em um ponto: livrar a autoridade monetária de possíveis pressões politiqueiras. Hoje, quem ousa lançar mão da ideia, passa a ser carimbado de entreguista ou coisa que o valha.

Mais e mais coisas do tipo virão. O alvo da pancadaria seria Aécio Neves. Como o mineiro acabou atropelado por Marina Silva, o alvo passou a ser quem ameaça o poder petista. É preciso tirar o máximo proveito da imensa diferença de estrutura e de tempo que o PT tem na propaganda. E assim será. Afinal, no segundo turno, com tempos iguais no horário gratuito e com os naturais rearranjos políticos, as circunstâncias serão outras.

Sem partido forte, sem alianças de grande porte, sem estrutura de campanha e com parcos dois minutos na TV, caso Marina Silva sobreviva com poucas avarias e ainda em condições de disputar para vencer, já será um milagre político e eleitoral que só pode ser explicado pelo imenso desgaste que atingiu o PT.

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