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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 13 de setembro de 2014

O contra-ataque do Império - Por Nelson Motta, O Globo

Como uma nostalgia caricata da monarquia, uma das piores distorções do presidencialismo brasileiro é a sua atitude imperial. Os governantes falam eu fiz isso/eu fiz aquilo como se tivessem feito com as próprias mãos, pagando do próprio bolso.

O governo federal se mostra como um magnânimo monarca quando repassa verbas públicas aos estados e municípios, como um grande favor e um gesto de bondade a ser retribuído. Quando era ministro do Trabalho, Carlos Lupi apresentava em rede nacional estatísticas de emprego e eu quase acreditava que tivessem sido criados por ele e seu ministério, e não pela industria, comércio e serviços… rsrs.

Não é só uma cara de pau algumas vezes hilariante, e outras, constrangedora, mas símbolo de uma cultura popular em que o presidente é imaginado como um imperador, que distribui dinheiro, empregos, progresso e justiça por vontade soberana, como se não existissem o Congresso, os tribunais, o Ministério Publico, a imprensa, as redes sociais e a opinião pública.

Com Lula, nasceu o mito do imperador-operário, ou do sindicalista-imperador, que tudo pode e tudo faz, até uma refinaria de bilhões de dólares como um agrado ao companheiro-imperador Hugo Chávez, que, imperialmente, nunca botou um bolívar no projeto, deixando a conta para a Petrobras e os súditos.

Que candidato seria estúpido o bastante para ser contra o Bolsa Família, o aumento do salário mínimo ou o pré-sal e os seus trilhões de dólares para a Educação e a Saúde? Ficaria falando sozinho e seria chamado de burro e louco pelos adversários.

Quem poderia acabar com o pré-sal, o Bolsa Família, a reeleição, liberar as drogas, o aborto, dar independência ao Banco Central ou privatizar a Petrobras sem maioria parlamentar e aprovação do Judiciário? Nem se fosse imperador, seria deposto.

Numa república democrática, tudo isso parece óbvio, chato e repetitivo, mas não no Brasil, onde estamos em uma acirrada campanha para eleger uma imperatriz, ou imperadora.

Já no Império Americano, mais objetivo, ninguém consegue se reeleger imperador com a economia ruim: foi o que derrotou Jimmy Carter e George Bush pai.

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