Fonte: Site Veja
A invenção de um herói
Os principais idealizadores da República, Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto e Benjamin Constant, não eram figuras conhecidas além dos círculos militares. A pouca participação popular tornava difícil a consagração de um mito, importante para a aceitação do novo regime. "Heróis são símbolos poderosos, encarnações de ideias e aspirações, pontos de referências, fulcros de identificação", escreveu o historiador José Murilo de Carvalho.
Tiradentes, único dos inconfidentes mineiros condenado à morte, surpreendentemente, caiu como uma luva para o papel de herói.
O mito em torno de sua figura foi criado após sua morte. O mineiro passara quase um século na obscuridade, como traidor da monarquia. Como não havia registros de sua imagem e seus pensamentos, a República teve liberdade para criá-los: tornou-se um idealista pela liberdade do Brasil e suas representações passaram a se assemelhar com as da figura de Cristo — cabelos longos, castanhos, olhar cândido, vestes brancas, crucifixo no peito.
A República se apropriou de Tiradentes como o mártir da República. Foi a mais eficaz das tentativas dos republicanos na construção de um imaginário para o novo regime.
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