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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 30 de abril de 2017

Página desconhecida da história do Brasil: O Massacre de Alto Alegre (por Armando Lopes Rafael)

Os mortos contabilizados na localidade de Alto Alegre (MA), chegaram a 261, mas há quem estime que o número foi bem maior.
 Do meu caríssimo amigo José Luís Lira recebi um valioso presente: um exemplar da segunda edição do livro “O Massacre de Alto Alegre”, escrito pelo Pe. Bartolomeo de Monza. A primeira edição desta obra foi publicada em 1909, em Milão (Itália) com o imprimatur e patrocínio da Ordem dos Capuchinhos da Província da Lombardia.
Até 2016 este impressionante livro permaneceu inédito no Brasil. A segunda edição foi publicada no ano passado, sob os auspícios das Edições do Senado Federal (volume 215) com primorosa tradução de Sebastião Moreira Duarte.

O que foi essa carnificina
O massacre do Alto Alegre, localidade do Estado do Maranhão, permanece quase totalmente desconhecido do povo brasileiro. O livro do Pe. Bartolomeo de Monza relata o maior massacre promovido por indígenas contra brancos no Brasil. Os selvagens, sob a falsa alegação de reagir ao processo catequético dos frades capuchinhos e das freiras pertencentes ao Instituto das Terciárias Capuchinhas, oriundas de Genova, na Itália, promoveram uma enorme chacina, onde foi derramado o sangue inocente de 261 pessoas.

Tudo aconteceu quando centenas de índios, sob o comando da tribo dos guajajaras atacaram traiçoeiramente – na manhã de 13 de março de 1901 – a Colônia de São José da Providência, implantada cinco anos antes pelos religiosos capuchinhos italianos no povoado Alto Alegre, município de Barra do Corda, interior do Maranhão. Os índios mataram 4 frades, 1 irmão-leigo, 7 irmãs, várias crianças indígenas que estavam sendo educadas pelas freiras, mais de 50 pessoas que prestavam serviços à Missão Capuchinha, além de cerca de 200 católicos que viviam na redondeza da colônia. Uma carnificina que repercutiu muito mais na Europa do que na então instaurada República positivista e laica do então denominado oficialmente, à época, “Estados Unidos do Brasil”.

Segundo o historiador José Pedro de Araújo:
“Os frades capuchinhos (eram) oriundos da região italiana da Lombardia, e chegaram à região (do município de Barra do Corda) no final do século XIX, mais precisamente por volta de 1893” (...) “Já em 1895 instalaram (os padres capuchinhos) um colégio para meninos na sede do município, no qual foram matriculados mais de 80 crianças e jovens de até 14 anos. 

Com recursos oriundos da Itália, mas também do tesouro estadual (...) os padres partiram rapidamente para a construção (de novo empreendimento) da Colônia em Alto Alegre, dotando-a de toda a infraestrutura necessária. Ergueram-se o prédio escolar, a igreja, um internato com dois pavimentos, um convento para os religiosos, além de oficinas, engenho para beneficiamento de cana-de-açúcar e um aviamento para o beneficiamento de mandioca. A escola, diferentemente da outra implantada em Barra do Corda, que só contava com meninos, receberia meninas em regime de internato”.

 A descrição do massacre, feita por Pe. Bartolomeu da Monza mostra a crueldade dos índios:
 “Os bandos de selvagens saem das matas, rodeiam a igreja, cercam a morada dos religiosos, o convento das freiras, e as casas dos cristãos perto deles. Descarrega o fuzil. O celebrante, padre Zaccaria, cai ao chão (...) Seu sacrifício está consumado. A carnificina é geral, o sangue corre aos borbotões. Mas eles (os índios) não param de ferir, a morte não se detém (...) Não se precisa mais de fuzil: bastam facões e varapaus. As vítimas caem mortas sob golpes furiosos”. 

Dentro de pouco tempo toda a população católica está morta, os índios incendeiam as edificações, destroem os equipamentos agrícolas e vão festejar o genocídio embriagando-se, dançando e cantando.
As almas dos mártires voam para o Céu. E mais uma página triste (e pouco divulgada) passa a fazer parte da história do Brasil.

Texto e postagem de Armando Lopes Rafael.

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