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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 24 de maio de 2017

Lembrando Monteiro Lobato (por Armando Lopes Rafael)


Fico a imaginar o que escreveria Monteiro Lobato – caso vivesse nos dias atuais – sobre a série de escândalos que vêm grassando nos três poderes da república brasileira, bem como sobre a corrupção e a decadência dos costumes, que se alastra por todas as camadas da nossa desnorteada população...

   Para quem não sabe, Monteiro Lobato foi um dos bons intelectuais brasileiros do século passado. Ele abraçou, na juventude, ideias marxistas; escrevia muito bem e era conhecido pela coragem de dizer o que pensava, sem preocupação de desagradar. Mas era um homem intelectualmente honesto! Foi também ardoroso defensor das ideias republicanas – antes, e nos primeiros dias pós-golpe militar de 15 de novembro de 1889 – mas quando viu os frutos advindos daquela "proclamação" da República, escreveu, em 1918, um artigo com o título de “Dom Pedro II era a luz do baile”.
   Permita-me compartilhar com o caro leitor a dois trechos do artigo citado:

   “O fato de existir na cúspide da sociedade um símbolo vivo e ativo da Honestidade, do Equilíbrio, da Moderação, da Honra e do Dever, bastava para inocular no país em formação o vírus das melhores virtudes cívicas. O juiz era honesto, se não por injunções da própria consciência, pela presença da Honestidade no trono. O político visava o bem público, se não por determinismo de virtudes pessoais, pela influência catalítica da virtude imperial. As minorias respiravam, a oposição possibilizava-se: o chefe permanente das oposições estava no trono. A justiça era um fato: havia no trono um juiz supremo e incorruptível. O peculatário, o defraudador, o político negocista, o juiz venal, o soldado covarde, o funcionário relapso, o mau cidadão enfim, e mau por força dos pendores congeniais, passava, muitas vezes, a vida inteira sem incidir num só deslize. A natureza o propelia ao crime, ao abuso, à extorsão, à violência, à iniquidade – mas sofreava as rédeas dos maus instintos a simples presença da Equidade e da Justiça no trono”.

    “Ignorávamos isso na monarquia. Foi preciso que viesse a república, e que alijasse do trono a Força Catalítica para patentear-se bem claro o curioso fenômeno. A mesma gente, o mesmo juiz, o mesmo político, o mesmo soldado, o mesmo funcionário até 15 de novembro (de 1889), bem intencionado, bravo e cumpridor dos deveres, percebendo, na ausência do imperial freio, a ordem de soltura, desaçamaram a alcateia dos maus instintos mantidos em quarentena. Daí o contraste dia a dia mais frisante entre a vida nacional sob Pedro II e a vida nacional sob qualquer das boas intenções quadrienais que se revezem na curul republicana”.

     Ah! Monteiro Lobato! O que escreveria você, se ainda fosse vivo, sobre os dias atuais desta decadente, caótica  república brasileira, no estágio terminal?

Um comentário:

  1. Diante dos absurdos atuais talvez Monteiro Lobato fosse impedido de escrever. Uma ministra do PT censurou e impediu os escritos do grande escritor considerando-os racistas.

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